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694 DIÁRIO DÁS SESSÕES N.º 105

pelo Governo Português, o Sr. General Delgado acabou por sair por sua livre vontade, requerendo devidamente a soa licença militar para deixar o Pais e a ampliação do seu passaporte ordinário para o Brasil».
O Governo Português não lhe criou o mínimo, o mais ligeiro embaraço. Todos nos sentimos satisfeitos por poder verificar que partiu para o Brasil e sem perfeita conformidade com o que desde o primeiro momento fora declarado pelo Governo Portuguesa.
Este facto é, aliás, reconhecido pela imprensa brasileira, inclusivamente por jornais que nunca foram afectos ao nosso regime político.
O Governo deu o incidente por encerrado.
Todos nos regozijamos com o facto e aplaudimos a firmeza e serenidade de que deu provas.
O general Humberto Delgado teve o destino que procurou, que desejou. Está onde desejou estar.
Se alguma coisa há, neste momento, ainda a salientar, é a benevolência, porventura excessiva, do Governo ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... que lhe permitiu partir em condições de poder continuar a fazer declarações que nem primam pela correcção, nem pelo respeito que cada um deve a si próprio e aos outros homens.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:- As declarações do Sr. General Humberto Delgado não têm sido nem tão pacificas como seria de esperar do seu proclamado democratismo, que, talvez por ser recente, tem muitos laivos de sabor fascista - no mau sentido, claro está -, nem como poderia esperar-se de um turista, em país estranho, ainda que fraterno.
Suponho, porém, que ninguém estranhará, pois seria ingenuidade pensar que a simples mudança de latitude transformava as pessoas, convertendo-as, subitamente, de desbocadas em comedidas, de histéricas em sensatas.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-A única coisa que pode estranhar-se é a falta de controle, de sentido da limitação de ordem moral, a que um cidadão se encontra sujeito quando, por qualquer motivo, está fora da sua pátria, limitação que sempre tem levado os autênticos valores a calar questões que dizem respeito exclusivamente ao sen pais.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Disse que pode estranhar-se, mas deveria ter dito que deve registar-se. Registemos, pois.
Mas, Sr. Presidente, há declarações do Sr. General Humberto Delgado que não devo deixar de referir, para elucidação de todos.
Com efeito, afirmou o Sr. General Humberto Delgado de estavam a fazer falta em Portugal «alguns pelotões e fuzilamento», que o queriam assassinar, e, até talvez porque se tenha inspirado ultimamente nos trágicos acontecimentos de Cuba, manifestou a sua simpatia pelos processos e dirigentes da subversão ocorrida em Cuba, para onde enviou um dos seus lugares tenentes.
Para fecho, referirei, ainda, o oferecimento da sua pessoa para chefe. Para chefe de quê?
Como se as declarações do Sr. General nos deixassem quaisquer dúvidas acerca dos seus propósitos!
Quem ousará solidarizar-se com eles, com os pelotões de fuzilamento?
É chegado o momento de falar claro, para que ninguém tenha dúvidas e todos saibam bem com o que podem contar.
Querem uma repetição dos acontecimentos de Cuba em Portugal, nesta doce e pacifica terra?
Que os comunistas assim pensem, ninguém se surpreenderá. Mas os oposicionistas que se afirmam e são democratas, que pensam a este respeito?

O Sr. André Navarro: - A mesma coisa!

O Orador:-Não é só por palavras que se empresta solidariedade, mas também por atitudes. Não se peca só por acção, mas também por omissão.
Ficamos todos prevenidos e ficamos, também, entendidos.

Sr. Presidente: que pretende com tudo isto o Sr. General Humberto Delgado ?

Creio que pretende ou procura perturbar a colónia portuguesa do Brasil.

As suas intenções, os seus propósitos, quebrar-se-ão, também neste particular, de encontro ao portuguesismo de que os nossos emigrantes têm dado sobejas e eloquentes provas.
Não se perturba quando se quer, mas quando se pode. A solidariedade dos Portugueses do Brasil, a coesão, firma-se num vivo patriotismo e num claro sentido do dever de lealdade para com a pátria que se lhes ofereceu como segunda pátria, de reconhecimento para com o povo e Governo do Brasil, que os impede, em todas as emergências, de seguir pregoeiros de qualquer matiz, de contribuir para criar problemas ou dificuldades ao Governo Brasileiro.
Longe da terra mãe, os sentimentos de amor pátrio são mais fortes, a fraternidade é mais sentida. Perante uns e outros apagam-se, calam-se divergências de ideologia, afastam-se motivos de atrito, põem-se de parte ambições ou vaidades, para tudo depositar no altar da Pátria, para preservar a coesão, que tem sido o segredo da força, a fonte, sempre renovada, da fé e das portentosas realizações da nossa colónia no Brasil.
Apoiados.
Para desfazer essa muralha de sentimentos, recordações, esperanças, essa coesão de alma e vontade, não bastam, não podem bastar, os gritos histriónicos, afirmações demagógicas, gestos espectaculares. Não podem chegar, nem chegam.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-Os Portugueses do Brasil, pelo que têm sido e pelo que continuarão a ser, não se prestarão a manobras políticas partidárias, a instrumento de ambições pessoais, a trocar a paz e a harmonia no amor da Pátria-Mãe pelas atribulações doentias de vaidades ou de ódios, seja de quem for. Também aí o Sr. General se enganou. É uma tendência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: não consigo entender bem a que titulo se pode, de boa fé, pretender definir cãs condições em que deverá regressar ao Pais em completa liberdade o Sr. General Humberto Delgado».
Deve tratar-se de subtilezas políticas, usadas em tempos que, felizmente, não vivi.
Pois tal pretensão não é um contra-senso ?
Cuido decididamente que sim.
Se o Sr. General Humberto Delgado saiu livremente do Pais, seguiu para onde quis, está onde desejava, a que titulo se pode, depois disto, falar em fixar as condições em que deverá regressar ao Pais em completa liberdade?
Risos.