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4 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 133

O Sr Presidente: - Há ainda vário expediente na Mesa, do qual não posso hoje dar conta à Câmara porque precisa de ser visto. Mas entre ele está um telegrama relativo ao falecimento do Sr Deputado Sócrates da Costa, que é do governador-geral do Estado da índia e diz o seguinte:
«S Ex.ª Presidente da Assembleia Nacional - Lisboa -Meu nome pessoal e população deste Estado apresento V Exª sentidos pêsames pelo falecimento ilustre Deputado Dr. Sócrates da Costa »

O Sr Presidente: - Como a Câmara sabe, faleceu no interregno parlamentar o nosso colega Sr. Deputado Sócrates da Costa, que na actual legislatura representava o círculo do Porto e em legislaturas anteriores representou o Estado da índia
Certamente a Câmara não quererá deixar passar esta ocasião sem neste momento levantar ura pensamento de saudade e de reconhecimento pela acção do Sr Deputado Sócrates da Costa, como representante da Nação durante o tempo em que serviu nesta Assembleia Pela sua dignidade, pelo sen magnífico orgulho de português, ele merece, mais do que uma simples referência protocolar, uma nota especial neste momento, repito,' em que passa no espirito da Câmara um pensamento de saudade e de reconhecimento à memória de quem tão galhardamente soube servir os seus princípios e o seu país.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr Presidente: - Estou convencido de que alguns Srs Deputados quererão fazer referência ao mesmo facto e, por isso, não prolongo mais as minhas palavras Porém, desde já julgo interpretar o sentimento da Assembleia fazendo exarar na acta da sessão de hoje um voto de pesar por esse acontecimento doloroso.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr Castilho de Noronha: - Sr. Presidente: quero cumprir o triste e bem doloroso dever de prestar homenagem à memória do meu saudoso conterrâneo e companheiro de trabalho nesta Casa Dr Sócrates da Costa
Não é sem mágoa, sem emoção, que o faço, mágoa e emoção tanto mais profundas e sentidas quanto é certo que, quando, em Julho último, terminados os trabalhos da sessão extraordinária desta Assembleia, nos despedíamos, qualquer de nós longe estava de supor que seria aquela a última vez que nos falávamos
As palavras que vou proferir suo um preito da amizade que me ligava ao Dr. Sócrates da Costa? Mais do que isto A voz da amizade é reforçada neste momento pela voz da justiça, que se ergue para enaltecer a memória do prestante cidadão, que tombou ao sopro adusto da morte quando, no desempenho de uma honrosa missão que lhe havia sido confiada pelo Governo da Nação, teve a feliz oportunidade de revelar a exuberância do seu acendrado patriotismo, opondo-se vigorosamente à torpe campanha de descrédito que periodicamente se levanta contra Portugal, no malévolo intuito de denegrir a sua acção nos territórios integrados nos seus domínios.
A campanha é tão desatinada que os seus promotores, obcecados pelo ruim sentimento do ódio, nem sequer viram que este ano tinham de se defrontar com uma delegação portuguesa que tinha dois membros, sendo um deles o Dr. Sócrates da Costa, que eram um vivo desmentido à vil acusação em que os intransigentes adversários de Portugal se comprazem
Sr Presidente nesta minha breve intervenção não vou fazer a biografia do Dr. Sócrates da Costa.
Não me referirei às importantes comissões para que foi escolhido em atenção às suas altas qualidades. Tão-pouco me referirei à forma brilhante como as exerceu, sempre a contento dos que o haviam investido nesses honrosos lugares
Não me deterei a exalçar as qualidades pessoais que ele, revelava no seu trato, sempre lhano e afável; a integridade do seu carácter; a inexcedível correcção de perfeito cavalheiro que era; a sua elegância moral; tudo isso, enfim, que o impunha ao apreço e à simpatia de quantos o conheciam.
Limito-me só a pôr em destacado relevo os sentimentos de amor que o ligavam ao seu país; a sua acendrada devoção à bandeira de Portugal, o seu indefectível patriotismo, que, tendo sempre orientado a sua acção de homem público, foi a nota mais saliente da sua vida política.
O discurso que ainda não há muito proferiu na mais alta assembleia internacional foi o seu canto de cisne, em que defendeu ardorosamente os direitos do seu país, que ele tanto amava.
Honra a memória do português que amou Portugal.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr Brito e Cunha: - Sr Presidente: foi ontem a sepultar na terra, do Porto o Deputado Dr Sócrates da Costa.
Desejamos nós, os Deputados pelo Porto, e eu em seu nome, juntar ainda uma palavra de homenagem à figura gentilíssima desse nosso malogrado companheiro de lutas e de grandes ideais, paladino de portuguesismo, grande português entre os portugueses do seu tempo
A terra do Porto desceram os cinzas de quem tanto lhe quis, de quem ali fundou o seu lar e ali começou a sua carreira de pedagogo
Tive o raro privilégio de ser seu aluno no velho liceu da Bua de S. Bento E recordo -já lá vão perto de 40 anos! - o prestígio com que tão depressa se impôs à inquietação da nossa juventude ao fim de poucos dias sentíamos nas nossas bancadas de estudantes o vigor da sua forte personalidade de português, trazendo das margens do Indico a sua mensagem aos portugueses da ala atlântica e europeia
A palavra de homenagem que aqui proferimos à figura do Dr Sócrates da Costa bem pode ser nesta Casa não só a dos seus colegas pelo distrito do Porto, mas a de toda esta Assembleia, onde está representado o Portugal de aquém e de além-mar.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Carlos Moreira: - Sr Presidente pedi a palavra para expressamente me associar aos sentimentos da Câmara pelo desaparecimento do Dr Jerónimo Sócrates da Costa, que a morte, há poucos dias, roubou ao nosso convívio
Não vou fazer o panegírico do saudoso colega e amigo, que, afinal, o elogio da sua memória se pode condensar em duas palavras, serviu bem.
Não me compete a mim enumerar publicamente os serviços que este ilustre luso-indiano, português dos melhores, prestou à velha Pátria comum
Mas posso dizer que no seu apoio efectivo aos altos desígnios da Revolução Nacional nunca hesitou ou tergiversou, sem que para tal (e nem sempre acontece)