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14 DE JANEIRO DE 1960 239

cumprimentos, rendendo-lhe a homenagem que lhe é devida.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito compartimentado.

O Sr. Sarmento Rodrigues: - Sr. Presidente: ao retomar a minha actividade neste novo ano de trabalhos parlamentares, após o meu regresso da missão de serviço público que me levou a Angola, não posso deixar de transmitir a esta Assembleia duas tão ligeiras quão sentidas impressões colhidas depois da abertura desta sessão.
Diz a primeira respeito à catástrofe de Moçambique da Praia, sucedida no começo do passado mês de Dezembro. Por me encontrar em Luanda nessa ocasião não pude dar nesta Casa a nota do sentimento que como português, e em especial como Deputado eleito por Moçambique, sofri perante a negra sorte dos que ali perderam as suas vidas, as suas casas e os seus haveres.
Pela imprensa de Angola podemos ter conhecimento do que foi aquela noite de tragédia, de 10 para 11 de Dezembro, em Mocímboa da Praia, durante a qual ficaram praticamente destruídos todos os edifícios, se perderam dezenas de vidas, naufragaram todas as embarcações que se encontravam na formosa baía e sofreram graves prejuízos as propriedades agrícolas adjacentes.
Quem tem acompanhado a luta inclemente, dura, tenaz, que os portugueses de Moçambique têm suportado contra o clima, as distâncias, as adversidades de vária ordem, defendendo a própria existência e criando novas condições de vida para o futuro desenvolvimento da província e engrandecimento nacional, não pode deixar de se sentir dolorosamente impressionado perante estas calamidades que assolam a martirizada província.
Não são muito frequentes os ciclones naquela costa. Mas a constância do mau tempo no mar junta-se às dificuldades da navegação, devido à natureza das barras e, de vez em quando, às sinistras tempestades ciclónicas - que por vezes, levam a desolação e a morte a povoações inteiras. Todos se recordam ainda do ciclone que há umas dezenas de anos destruiu a vila do Chinde. Outros depois dele se registaram, sempre de consequências fatais. E agora este último.
Mas, ao mesmo tempo, é animador verificar como ninguém esmorece e, antes pelo contrário, parece que a vida renovada de desprende dos escombros. Todos se empenharam, desde o primeiro dia, em fazer ressurgir Mocímboa. Desde o Governo aos serviços de transportes e comunicações, à imprensa e a todas as actividades, não houve senão um pensamento: fazer ressurgir Mocímboa da Praia, maior e mais próspera do que nunca.
E uma nota gostaria de registar nesta ocasião. Fiquei extraordinariamente sensibilizado pela forma como a imprensa de Angola se interessou pelo caso de Mocímboa. Parecia que o desastre se tinha verificado ali ao pé da porta, tal era o relevo dado ao triste acontecimento. Angola sentiu como se fosse na sua própria carne o desastre de Moçambique.
Nada, mais consolador do que esta íntima comunhão, do que esta compreensão perfeita de uma unidade que tanto serve para os dias bons como para os momentos
de infortúnio.
É portanto, neste sentimento de animadora confiança que neste momento dirijo estas singelas palavras de presença ao povo de Mocímboa da Praia, povo de Moçambique, certo de que a sua vida irá surgir, de novo e em breve, maior e mais feliz.
Queria também, Sr. Presidente, deixar um breve apontamento sobre a missão que me levou a Luanda.
Nada acrescentarei ao que já tive ocasião de declarar à imprensa sobre a impressão agradável que: em todos os congressistas nacionais e estrangeiros deixou a cidade de Luanda, nos seus admiráveis progressos materiais e na convivência do seu povo. Foi impressão que havia de ter surpreendido alguns dos nossos ilustres visitantes, porventura influenciados pela propaganda negativa que diariamente lhes é fornecida de origem mais que duvidosa.
Nada melhor para destruir tais propaganda, do que mostrar a realidade, sem disfarces nem cenários. Quando o observador está, de boa fé não há melhor sistema; quando as suas intenções são malévolas não vale a pena qualquer esforço esclarecedor.
Mas eu só queria neste momento dar uma nota do que nos foi dado observar sobre o ambiente em que decorreu a reunião de Luanda, a primeira reunião da Comissão Consultiva Africana da Repartição Internacional do Trabalho.
Nunca noutra, reunião internacional em África estiveram representadas tantas nações africanas independentes. Havia, portanto, as mais legítimas dúvidas sobre a forma como os trabalhos de cooperação iriam decorrer. Sob o signo da cordialidade? Das negociações? Ou da intransigência, irredutibilidade ou até agressividade?
Podemos desde já dizer que tudo correu bem, Graças à orientarão imprimida aos trabalhos da Comissão pelo dirigentes do B. I. T. e à direcção efectiva e autorizada do presidente da reunião, o antigo Ministro Luís Inácio Pinto, do Daomé, as discussões foram, por vezes, acaloradas, mas conduzidas num louvável sentido de colaboração para se resolverem os problemas em causa. O que mais interessava não eram os problemas, mas a forma como se iriam tratar. E os resultados foram bons. Quer dizer: todos aqueles delegados, que representavam vinte nações ou territórios independentes de África, com mandatos dos governos, dos patrões e dos trabalhadores, puderam reunir-se e discutir com vontade de encontrar um plano de entendimento comum.
É claro que isto é o que se verifica todos os dias, felizmente; mas havia a dúvida do espírito com que se apresentariam na conferência alguns jovens países africanos.
Pelo que nos diz respeito, podemos dizer que, embora os seus pontos de vista não nos sejam, por vezes, favoráveis, e até algumas vezes de hostilidade, verifica-se, no entanto, que há um geral respeito pela honestidade da nossa posição e pelos bons resultados alcançados. Quer dizer: podem achar que o nosso sistema de vida nacional não será conveniente para a preservação das raças e sua valorização separada - como de facto não é visto não ser essa a nossa política - mas respeitam as nossas intenções e admiram as realizações que estão à vista.
Conhecem a nossa doutrina política nacional e compreendem a nossa existência como nação dispersa pelo Mundo. É claro que estas opiniões, que nos foram manifestadas por uma apreciável maioria de delegados, podem não traduzir à política dos seus governos - política que está, neste momento muito agitada e muito susceptível de rápidas mutações; e também eles próprios podiam sentir-se coagidos para poderem expender opiniões contra nós sendo nossos hóspedes. O que podemos garantir é que sempre lhes foi manifestado o desejo de que se considerassem em plena liberdade de acção como delegados àquela reunião, sem que da nossa parte houvesse a mínima limitação à liberdade dos seus