360 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 150
(...) reito e parece-me que esta Assembleia o tem usado com ponderação, honestidade e desassombro.
Tem u Governo obrigação de nos ouvir, de nos atender na medida em que lhe é possível, de nos esclarecer sobre as suas intenções. Quando o faz, prestigia-se a si próprio e prestigia a Assembleia Nacional como órgão de soberania.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Aires Martins: - Sr. Presidente: regressaram ontem ao Brasil as delegações do Colégio Militar do Rio de Janeiro o da Fundação Osório, que durante algumas semanas percorreram os ambientes nacionais, viveram o esforço lusitano, conheceram a elevação do espírito português, experimentaram amizades e receberam expressivas manifestações de simpatia. Os seus componentes não foram considerados como hóspedes de honra que se atendem nos ambientes das recepções; significavam amigos da mais elevada estima, que se abraçaram em franco e sincero convívio e entendimento e que representaram laços da família de uma mesma raça que o Atlântico une em princípio de dignidade e aproxima em sistema do colaboração franca. O acontecimento permitiu a prática do princípio de identificação, prontamente reconhecida, aliás, nas características da raça, na semelhança dos costumes e na uniformidade da língua, em forma de circunstâncias que aproximam os homens, ligam os combatentes e integram as nações em plano determinado de alianças: Portugal e Brasil significam a concretização do enunciado, demonstrando à evidência, por realidades efectivas, que os dois povos se prolongam e se completam, em plano de consideração e d« confiança que justifica motivo inconfundível de justa exaltação.
Por efeito de manifestação natural e por influências devidas à intervenção directa dos homens, foi estabelecido um quadro perfeito de entendimento e de colaboração, que integrou os dois países em sistema de unidade espiritual que deriva dos dados homogéneos do sangue e do alcance semelhante dos sentimentos. Naturalmente, surgiu a comunidade luso-brasileira, instituída em sistema do paralelismo de vidas u equilíbrio de princípios, que os traços da história comum inscreveram ao fundo dos povos respectivos.
Não surpreende. Quando os Portugueses, num vasto movimento de expansão, denunciaram a existência de novas e maravilhosas terras do outro lado do Atlântico, transportaram para ali a língua, os costumes e a religião; em significado de providências aconselhadas, deslocaram homens e dinheiro, identificaram povos e realizaram esforços no vasto território que diligências prolongadas conseguiram limitar em fronteiras distantes e incertas, cuja definição rigorosa era de prática difícil no interior do sertão da Amazónia; finalmente, viveram lá cenas da história pátria, ministraram lições de trabalho e de dignidade e difundiram, em realizações, a ética lusitana. A história foi traçada em linhas comuns que envolveram a actividade contínua de um povo que. marcou posição evidenciada no conceito generalizado da época, por efeito de uma actuação superior, evidenciada pelo espírito de nobreza e sentido de realizações que ofereceram u humanidade valores altos da cultura e da ciência e divulgaram o conhecimento exacto da geografia mundial. Exactamente, e por isso mesmo, tantos quantos atravessaram o Atlântico, em rota orientada que liga as extensões territoriais das duas pátrias, tiveram a preocupação de estudar as consado, meditar no esforço realizado u examinar as contingências do momento, para formularem o conceito exacto das características do povo; certamente teriam também experimentado o interesse de visitar e conhecer muitos cenários ou terras que as narrativas referiam em miragens mais ou menos rigorosas.
Se o quadro é exacto para qualquer representação, naturalmente adquiriu expressão de maior significado em relação à delegação do Colégio Militar do Rio de Janeiro, que retribuía a visita há tempos realizada pela congénere instituição portuguesa: era a embaixada da gente moça do Brasil que aprendera a história e que se empenha por formar o espírito militar, em sentido de uma preparação intelectual completa e em conhecimento perfeito do princípio de colaboração que circunscreve a actividade das forças armadas dos dois países que o sangue irmana e as características atraem. Os rapazes brasileiros, que são expoentes esperançosos do futuro e que eram enquadrados por responsáveis qualificados muito ilustres, percorreram a terra portugueses, identificaram nomes que pertenciam já ao seu conhecimento, evocaram feitos passados e harmonizaram a narrativa com o quadro geográfico da natureza: conheceram Lisboa, com todos os seus padrões históricos, admiraram a Batalha, que relembra a luta, desigual mas vitoriosa, travada para salvaguarda da independência da Pátria, observaram a paisagem e o significado do Buçaco. que eterniza o sentido de resistência da gente portuguesa e que se identifica com passagens efectivas do passado particular do Brasil; no Porto, demoraram-se no ambiente da casa do Infante, que está sendo beneficiada com importantes obras de restauro para a integração devida no alinhamento de recuperação histórica, recordaram a epopeia dos Descobrimentos, como o movimento de maior projecção da história e que cabia no centro do pensamento do glorioso infante, a quem prestaram comovida homenagem durante momentos de reflexão junto ao seu monumento; a viagem ao Algarve, com paragens por locais de significado histórico, e, sobretudo, a permanência em Sagres, significou oportunidade maravilhosa para complemento dos raciocínios formulados no Porto dedicados à obra prodigiosa do infante D. Henrique, cuja extensão o Governo oferece à vista e reflexão do povo, por meio de um programa de manifestações vasto e planeado, com todo o sentido de pormenor, iniciado há dias por um movimento generalizado e extensivo a todos os cenários da torra portuguesa.
Quiseram também confirmar os episódios antigos. Guimarães, que visitaram com reconhecido interesse, ofereceu a representação real das primeiras cenas do passado histórico, que aqueles rapazes recordaram no papel de decisões fundamentais dos primeiros tempos, que também são seus, e Braga permitiu quadro apropriado para a reconstituição histórica da descoberta do Brasil com a admiração de uma cruz que a tradição considera como tendo sido a primeira que foi colocada nas terras de Santa Cruz e que a cidade guarda, ciosamente, como relíquia valiosa, no ambiente preferido da sua sé catedral. No conjunto, os horizontes, da terra portuguesa permitiram o confronto e a identificação dos seus conhecimentos com os ambientes reais e ilustraram perfeitamente certas noções adquiridas no domínio do estudo e da meditação.
O programa fora organizado com raciocínio o equilíbrio, como convinha paia efeito de realização do objectivo central. Interessava identificar a mocidade brasileira com os fundamentos da história que também é sua, dar-lhes oportunidade para conhecerem as terras que foram berço dos seus antepassado» e aproximá-lo, da gente portuguesa em (dano paralelo de ideias e de formação; aconselhava-o o sentido de responsabilidade e o pensamento de solidariedade que pretendem (...)