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152 DIÁRIO D AS SESSÕES N.º 182

Sr. Presidente: já que estou no uso da palavra, e no pendor do tema militar, aproveito a ocasião para me referir a um decreto-lei publicado recentemente, o n.º 43 351, de reorganização militar.
Não sou técnico militar nem estes problemas me interessam no seu aspecto intrínseco e técnico, mas o mesmo decreto trouxe consequências para a minha província e para o Sul de Portugal, e por isso me interessa.
O referido decreto diz que se mantém na metrópole duas regiões militares, uma ao norte e outra ao sul, e duas em Angola e Moçambique.
A 4.º região militar foi transferida de Évora para Moçambique, mas mantém-se em Portugal a 1.ª região, com sede no Porto. Sobre a 2.ª região diz o artigo 8.º do decreto-lei que estou analisando:

Art. 5.º De acordo com o expresso no artigo anterior, são constituídas cinco regiões militares e sete comando territoriais independentes, a saber:

a) Regiões militares:

A região militar, com sede em Lisboa, denominada Governo Militar do Lisboa, abrangendo a zona envolvente da capital;
A 1.ª região militar, abrangendo a parte norte do território metropolitano continental ;
A 2.ª região militar, abrangendo n parte sul do território metropolitano continental;
A 3.ª região militar, abrangendo os territórios de Angola e S. Tomé e Príncipe e compreendendo:

O comando territorial do Norte;
O comando territorial do Centro;
O comando territorial do Sul;
O comando territorial do Leste;
A circunscrição militar de Cabinda;
O comando territorial de S. Tomé e Príncipe.

Portanto, a 2.ª região não está de facto localizada ao sul do Tejo, visto que o Sul e o Norte costumam geogràficamente ser separados pelo Tejo, ficando, em consequência, o Alentejo e o Algarve sem comando localizado dentro daquelas duas províncias, como anteriormente estava em Évora.
Há realmente aqui qualquer deformação geográfica. Não sei nem quero estar a imiscuir-me em assuntos militares, mas sinto, como português e como eborense, que há aqui qualquer coisa errada, pelo menos no o ponto de vista geográfico, e, se não fosse o meu receio de estar a abusar da paciência de VV. Exas., poderia até citar inúmeros factos históricos de excepcional importância para o Sul.
Há quem diga que o Sul era uma porta aberta às invasões. Por ali entraram os Celtas e estabeleceram-se não só ali, mas mais para o norte, numa zona que correspondia mais ou menos à Lusitânia.
Há, porém, uma parte histórica que constituiu para mim uma verdadeira novidade, de que só há pouco tive conhecimento: as primeiras invasões germânicas não foram no século IV, mas sim, simultaneamente, vieram os Celtas, 700 anos antes de Cristo. Entraram pelo Sul, na zona onde, depois, fundaram Évora. Eram os eborenses, que depois se espalharam mais pelo Norte, pela região de Óbidos, havendo até uma terra próximo do Alcobaça chamada Évora, e até Yebora na Andaluzia.
Como disse, não quero estar a meter-me em assuntos militares. Apenas, como português, entendo que o Sul ficou privado de uma região militar. Para Évora, além do mais, é humilhante que as autoridades militares, no passarem por ali, quando a caminho do Algarve, tenham de tomar o seu café num dos estabelecimentos da Praça do Geraldo, com certo sorriso irónico.
Estou convencido de que já não é possível alterar as disposições publicadas no Diário da Governo, mas suponho que será ainda possível dar a Évora uma determinada compensação. E talvez ao Governo não se ofereça uma ocasião mais propícia do que a presente para o fazer. Quero referir-me, não digo já à restauração da Universidade, que sei não ser possível, mas à criação de altos estudos, de estudos de economia agrícola, que estão mais ou menos no projecto do Governo.
Como estou ainda no uso da palavra, peço licença para abordar um terceiro e triste acontecimento.
Como tivemos ensejo de ouvir da boca do Sr. Presidente, faleceu na madrugada última o Sr. Dr. Camarate de Campos. Já a Câmara se pronunciou sobre esse infausto acontecimento, mas, como eborense, como companheiro de lides políticas do falecido, sinto-me no dever de chamar a atenção da Câmara para os altos serviços que o Dr. Camarate de Campos prestou no campo da política, porque, antes de Deputado foi dos primeiros da Situação, o primeiro presidente da comissão distrital da União Nacional naquela luta brava, difícil e ingrata da formação e estratificação do movimento que surgia e, mais tarde. Deputado nesta Assembleia, defendeu denodadamente interesses da cidade! Eu, que tive a honra de o ter por companheiro nessta Câmara, e muitos dos presentes se recordam das actuações brilhantes de S. Exa.

Vozes : - Muito bem!

O Orador: - Lamento, pois, o acontecimento e somo os meus pêsames àqueles que a Câmara já aqui afirmou.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem. muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. José Sarmento: - Sr. Presidente: no dia 3 do corrente mês realizou-se, na vila de Peso da Régua, uma justíssima homenagem ao Prof. Maximiano de Lemos, a propósito do centenário do seu nascimento, em Peso da Régua, em 8 de Agosto de 1860. Não quero deixar de destacar nesta Assembleia este facto, pois Maximiano de Lemos, que foi professor dos mais ilustres da antiga Escola Médico-Cirúrgica do Porto e da Faculdade de Medicina que lhe sucedeu, bem merece ser lembrado. Polígrafo brilhante, ocupou-se dos mais variados assuntos. Além de muitos trabalhos publicados sobre assuntos de índole médica, foi um notável crítico literário. São notáveis os seus estudos sobre Camilo. Júlio Dinis e Damião de Gois. A par de inúmeras obras em prosa, deixou também excelentes versos. Colaborador activo de muitas revistas e jornais, dirigiu a publicação da Enciclopédia Portuguesa Ilustrada, obra em quinze volumes, vulgarmente designada «Enciclopédia Maximiano de Lemos». Mas são os seus valiosíssimos trabalhos sobre a história da Medicina os que mais o impuseram ao respeito e consideração de todos os portugueses. Pode-se afirmar que foi ele o criador, como um todo orgânico, da história da Medicina em Portugal. Notáveis são os seus estudos sobre