13 DE DEZEMBRO DE 1960 157
Há que louvar com o mais dedicado apoio o quanto de bom e útil tem realizado o Governo em face da bacilemia tuberculoso, de morbilidade e mortalidade bem diferente doutras eras, que continua sendo ainda uma das mais perigosas doenças que nos afligem.
Sr. Presidente: ocupei-me nos últimos anos, com largo desenvolvimento, do radiorrastreio e da vacinação pelo B. C. G., um e outro de acção bem marcada na despistagem da tuberculose.
Algumas considerações pretendo ainda fazer acerca destes dois métodos de profilaxia tão usados entre nós.
O radiorrastreio, pelo que sabemos e pelo que verificamos, prossegue no seu caminho, prestando magnífico auxílio a todos quantos o utilizam. O B. C. G., que b público aceita com perla relutância, sem motivo para tal, continua gozando do prestígio que confere a sua acção no diagnóstico.
Presentemente dispõe o radiorrastreio em serviço dois aparelhos fixos de microrradiografia e cinco unidades móveis, material de que, sendo insuficiente, podem, dentro de uma boa organização, tirar-se dele os melhores resultados.
Algumas medidas aconselhadas pela prática foram agora adoptadas, em face dos exames microrradiográficos. Assim, estes exames só deverão fazer-se em indivíduos com idade superior a 12 anos, como precaução à acção dos raios.
Permite-se, contudo, esse exame microrradiográfico aos alérgicos ou àqueles que tiverem indicação médica especial. Orientar-se-á o radiorrastreio para agrupamentos, providenciando-se de forma que o trabalho seja continuado pelos restantes serviços, permitindo-se a repetição anual de exames em certos casos, como nas barragens, em que se poderão fazer dois. Pelos quadros que tenho presentes pode verificar-se a marcha ascendente seguida pelo radiorrastreio: 1950, 11 967: 1951, 10 132; 1952, 25 542; 1953, 71 593; 1954, 117 312; 1955, 44 6 357; 1956, 722 493; 1957, 1 014 242; 1958, 1 026 804; 1959, 1 018 735, e 1960, nos nove primeiros meses, 945 730.
Dentro da orientação indicada e seguida, estes números, que são esclarecedores, deverão sofrer uma baixa sensível, visto serem os grupos de idade baixa os que forneciam número mais elevado, sem compensação com a elevação de cifras no grupo constituído por adultos. É, sem sombra de dúvida, o radiorrastreio uma arma magnífica, de eficiência comprovada, nunca esquecendo a aplicação dos meios que deverão finalizar a obra iniciada através dos diferentes serviços, sanatórios, dispensários, etc.
A vacinação pelo B. C. G. é feita por brigadas destinadas a tal fim, de número insuficiente para poderem cobrir as diferentes zonas do País. Seria de toda a conveniência multiplicá-las, tal é o valor da aplicação da vacina. Da melhoria deste sistema resultariam as melhores vantagens, devendo apontar-se a que diz respeito a anérgicos, indivíduos muito expostos à tuberculose.
Tenho também presente um quadro que nos fornece úteis indicações sobre a aplicação do B. C. G.: 1950, 8399; 1951, 6389; 1952, 10 570; 1953, 8394; 1954, 24 206; 1955, 50 438; 1956, 135 454; 1957, 183 312; 1958, 148 075; 1959, 132 417; 1960, nos nove primeiros meses, 109,608.
E forte motivo de elogio o trabalho que se vem realizando, visto as dificuldades para tal fim serem ainda muitas. Há que reformar determinados serviços, eliminando dificuldades burocráticas o evitando transferências constantes de pessoal, que precisa de tempo d« treino e de confiança para desempenho das suas funções, não o obrigando a contínuas mudanças, perturbadoras do serviço. Com o louvor devido ao Instituto
Nacional de Assistência aos Tuberculosos, confiamos inteiramente na sua acção, que muito vem realizando a favor dos doentes atacados de tuberculose.
Sr. Presidente: a Santa Casa da Misericórdia do Porto, com os seus hospitais, o seu sanatório, os seus institutos, os seus asilos e todo esse conjunto de estabelecimento» de assistência e educação que tão relevantes serviços vem prestando desde tempos remotos, glória da cidade e dos seus habitantes, é inteiramente merecedora de protecção às necessidades que acusa.
Perante obstáculos que surgem no seu caminho do Bem, multiplicam-se as vontades na resolução de problemas que a sua administração comporta. E. graças à Providência, durante séculos não recorreu ao pedido de auxílio ou subsídios para continuar a grandeza da sua obra. Não sucede o mesmo na época calamitosa em que vivemos, onde as dificuldades se acumulam e sacrificadamente se resolvem.
A Santa Casa tem no seu activo três grandes hospitais: o Hospital de Santo António, de medicina e cirurgia geral e especial; o Hospital Conde de Ferreira, para tratamentos de doenças mentais, e o Hospital-Sanatório Rodrigues Semide, para tuberculosos.
Todos estes estabelecimentos acusam presentemente faltas que é preciso remediar, defeitos que é urgente combater, atrasos que é indispensável vencer, proporcionando aos doentes MS condições, u meios mais actualizados, resolvendo situações que só à custa dele uma grande dose de boa vontade têm sido solucionadas.
O Hospital-Sanatório Rodrigues Semide, que na sua existência de 35 anos teve a seu cargo o tratamento de milhares de tuberculosos, dando a muitos a saúde e a vida, foi dentro da sua categoria, pioneiro da luta antituberculosa no Norte de Portugal.
Em várias intervenções realizadas na Assembleia Nacional tive oportunidade de render homenagem á sua larga acção, realizada através de um corpo clínico de escol que lhe deu nome e lhe deu prestígio. Com o rodar dos tempos, e dentro de circunstâncias bem dolorosas, o Hospital-Sanatório de Rodrigues Semide envelheceu, tornando-se insuficiente para poder dar cumprimento à missão que tantas simpatias lhe granjeou. Desactualizado nas suas instalações, com capacidade reduzida a 90 camas, não podendo satisfazer aos requisitos indispensáveis a uma assistência completa, diminuindo-se num acumular de dificuldades de que resultou o abaixamento das suas receitas, com um deficit de administração que atingiu, nos últimos dez anos, a soma de 8800 contos, impunha-se a adopção de medidas atinentes à modificação deste estado de coisas.
Este facto foi levado ao conhecimento do Governo, que, após circunstanciado estudo de um projecto de renovação, chegou a conceder, por intermédio do Subsecretariado da Assistência, a que presidia o nosso colega e amigo Dr. José Guilherme de Melo e Castro, personalidade tão inteligente como distinta, valioso subsídio, que, por dificuldades surgidas, não pôde ser utilizado. Postas de parte as sugestões de encerramento, em que chegou a pensar-se, a mesa que actualmente dirigem os destinos da Misericórdia, constituída, como sempre foi, por homens bons da cidade, a que hoje preside a forte personalidade do Dr. Braga da Cruz, provedor incansável da instituição, meteu ombros à tarefa, após exame e estudo demorado do problema, a que deu o melhor auxílio futuro o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos.
Resolveu-se então procederá renovação, com um aumento de capacidade para 235 camas, dotando-se seguidamente com novo material indispensável à sua