162 DIÁRIO DAS SESSÕES N." 182
Há que apoiar inteiramente a larga sementeira que o Governo vem fazendo desses estabelecimentos, tornando-se necessário não esquecer outras regiões que tem vivido desamparadas, em triste e lamentável abandono, perante necessidades como aquelas que o Nordeste, transmontano acusa e sente. Sendo indubitavelmente uma região dotada de extraordinárias riquezas naturais, energéticas e extractivas, que têm e terão mareada e decisiva influência no futuro económico da Nação, tudo dando e pouco recebendo, bem precisadas estão de meios e auxílios modificadores do seu baixo nível dívida.
Tem de olhar-se com atenção e carinho para essa gente, tão sacrificada no seu viver, preparando as novas gerações o futuro diferente daquele que tem usufruído. Bem o merece quem à Pátria nunca negou a sua dedicação.
Porque, não estabelecer em Moncorvo, vila trasmontana de situação magnífica, uma escola técnica, que viria a ser frequentada pela mocidade dos concelhos que a cercam?
Aqui deixo, Sr. Presidente, esta interrogação, pedindo ao Sr. Ministro da Educação Nacional que se debruce sobre problema que tanto interessa esta bela região, para que ao lado dos seus mananciais de energia e jazigos de minério surjam estabelecimentos de cultura técnica, balizando proveitosamente o futuro da mocidade, sempre pronta a defender e honrar a sua terra e a sua pátria.
Sr. Presidente: no momento extraordinário que atravessamos, em que a cobiça, a inveja e a maldade medram à sombra de ideais que têm por base o ódio, permita-me V. Exa. que aqui venha lembrar a acção eminentemente construtiva e patriótica das missões católicas nas terras portuguesas espalhadas pelo Mundo.
Prestar merecida homenagem de reconhecimento e gratidão às missões católicas é fazer inteira justiça a esses pioneiros audazes da civilização cristã, que de cruz erguida acompanharam os nossas soldados e marinheiros na tarefa gloriosa de educar e instruir a gente dessas paragens ignotas, que descobriram e civilizaram através de todos os perigos e serão sempre terras portuguesas, de Portugal eterno.
E hoje, mais que nunca, é preciso salientar, com merecida relevância, a sua obra, impregnada de um portuguesismo vivo e sincero, servindo Deus o servindo a Nação.
As missões católicas, onde floresce a caridade, a virtude e o amor pelo seu próximo, são inteiramente credoras da nossa maior admiração, da nossa melhor gratidão.
A sua tarefa, através de séculos, na propagação da fé e no desenvolvimento do espírito, educando e convivendo, merece inteiro respeito e apoio constante do Governo, para completa realização dos seus fins, ao serviço de Deus e servindo a Pátria.
Fazendo cristandade, mas defendendo, através de todas as dificuldades e de todas as violências, a nossa soberania em terras de além-mar. Não suo as missões de outras procedências, com outras doutrinas, que interessam verdadeiramente às actividades nacionais, e o facto teve plena demonstração quando novas seitas andaram por terras do ultramar português, entregando-se a uma propaganda de desnacionalização, que originou incidentes, hoje já quase esquecidos.
Voltaram à sua acção as nossas missões, que um laicismo sem finalidade e sem projecção havia afastado, numa manifestação de incompreensível cegueira, perante a evidência das realidades.
A obra missionária realizada pelas missões católicas é de uma grandeza que importa não ser diminuída.
Poderia aqui fazer, com números bem expressivos, a apologia desse esforço, tão ingente como fecundo, através de gerações e com imensos sacrifícios.
Não o faço hoje, mas fá-lo-ei noutra oportunidade, como clara demonstração do meu apreço e do que a Mãe-Pátria deve a essa plêiade de missionários, que, não olhando a sacrifícios, em sacrifício total, vêm contribuindo para que os limites da Nação, os limites de Portugal, se mantenham firmemente desde o Minho e Timor, numa manifestação quente e fervorosa do seu lusitanismo, que acima da Pátria só coloca Deus.
Ao Governo chamo a atenção para as suas necessidades, concedendo-lhes todo o auxílio para dignamente poderem manter a sua actividade em benefício da fé e da caridade e em benefício da pátria de que são filhos, com todo o orgulho de portugueses, devendo, com justiça, enfileirar na legião dos seus beneméritos mais distintos, mais ousados e mais generosos, dando a vida em favor dos gloriosos destinos da nossa terra, espalhada pelas cinco partes do Mundo.
Sr. Presidente: existe no Porto um instituto - cuja fundação foi autorizada por alvará do rei D. João IV em 1961, a pedido do padre Baltazar Guedes, ilustre e venerando sacerdote portuense - realizador de unia obra impregnada de verdadeiro humanismo cristão, destinada a «meninos órfãos e desamparados» do seu bispado, que nos três séculos da sua existência tem dado provas brilhantíssimas na educação de milhares de rapazes. A história do Real Colégio dos Meninos Órfãos é longa e brilhante. A vida do seu fundador, na sua modéstia e grandeza, bem merece ser recordada e exaltada, visto ter-se gasto ao serviço de Deus e servindo o próximo, praticando a caridade na luta contra a dor e contra a miséria, numa manifestação de virtudes que frutificou largamente sob as bênçãos da Providência.
Aquela nobre instituição, Colégio dos órfãos, foi frequentada por muitos varões ilustres, que na vida social e nas diferentes carreiras que cursaram vieram a ocupar posições de alto relevo, o que honra sobremaneira tão velho instituto.
Tem sido desde séculos administrador e protector desvelado e constante deste nobre Colégio a Câmara Municipal do Porto; e aos seus vereadores, do passado e do presente, quero deixar aqui, bem expressivo, o testemunho de admiração e de homenagem que lhe é devido.
Tendo sob a sua responsabilidade a administração e a manutenção do Colégio, a Câmara estabeleceu por escritura um acordo, aprovado em sua reunião de 14 de Agosto de 1951, com a Província Portuguesa de Sociedade Salesiana, em que lhe são concedidas, dentro de bases contratuais, devidamente esclarecidas, e de harmonia com as directrizes estabelecidas pelo estatuto que rege o Colégio desde a sua fundação, a direcção e administração deste instituto.
Ficaram assim a cargo dos padres salesianos todos os actos respeitantes à administração e à actividade pedagógica e assistencial do Colégio, sendo-lhe concedido para despesas de manutenção a quantia de 900 contos anuais.
A Câmara Municipal do Porto demonstrou assim o interesse em manter tão nobre e prestigiosa instituição, embora esse subsídio seja insuficiente para ter em regime de internato 17õ alunos, na grande maioria órfãos, e 120 em regime de semi-internato. Evidentemente que tamanha frequência exige despesas que irão muito além do que foi previsto, não bastando para obras que se impõe realizar, visto as instalações de alguns serviços serem acanhadas e várias dependências necessitarem de um arranjo, limpando-as e