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7 DE FEVEREIRO DE 1963 2021

Negociar a prazo mais ou menos longo a cedência?
A França cedeu, com mira na comunidade, e a comunidade tem sido espuma desfeita pelos ventos da história.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Bélgica deu cunho de magna solenidade a independência do Congo Até lá foi o rei, com a sua alta e significativa presença, para que se não duvidasse da intenção e do valor dos compromissos assumidos. E depois a Bélgica foi caluniada e expulsa.
A Holanda chegou a pegar em armas e a batalhar, mas depois esmoreceu e entrou em negociações, deu as suas velas aos ventos da história, e esses ventos trouxeram-lhe para casa os restos amortalhados do seu esforço no ultramar.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Todos os que cederam foram ou estão em vésperas de ser escorraçados.
A própria Inglaterra está perdendo vulto, influência, força.
O maior escândalo internacional do nosso tempo é o da ilusão.
Como e porquê?
Será compreensível ou admissível que existam ainda iludidos?
Então não se está vendo a olho nu, por toda a parte, que onde o Ocidente cede logo o Ocidente é maltratado e posto fora?
Ajudas económicas, assistência, dinheiro!
Suprema irrisão!
Os afro-asiáticos pegam no dinheiro e atulham o paiol com pólvora russa.
Os pró-comunistas aceitam as ajudas e pegam nelas e recorrem ao armamento russo.
Até Cuba - que está declaradamente ao lado da Rússia - aproveita a ocasião, trocando prisioneiros por dólares.
O Ocidente está a ser enganado e explorado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, não pedi a palavra para fustigar, propriamente, a O. N. U., que promove a unificação do Congo de Léopoldville e não promove, por exemplo, e colocando os factos no plano da mais estrita objectividade, a unificação da China da Formosa, uma vez que foi esta a China, como foi aquele o Congo, que ela aceitou e reconheceu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não, não era nem é meu intento tratar hoje especialmente da O. N. U., que deu por acertada e boa a Federação das Rodésias e da Niassalândia, e agora admite e acha bem o seu total esfrangalhamento.
Não, não estou aproveitando o tempo que me foi concedido para desenvolver o caso da O. N. U., que não movimentou um único capacete azul com o fim de impedir o roubo de Goa, e não escorraçou ainda do Congo ex-belga a turba de malfeitores que nos tem assaltado e se prepara para renovar as suas incursões ao abrigo da impunidade internacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, não me estou ocupando em cheio da Organização das Contradições Unidas.
O que pretendia e pretendo é dirigir-me aos profetas das erradas profecias, para os convencer a desistirem nobremente da sua marcha injustificada e perturbadora.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Portugal não está só.
Vale a pena ser teimoso, quando a teimosia se funda na verdade e na inteligência.
Onde a razão não cede acaba por triunfar a justiça.
Votaram connosco os países mais responsáveis pela política do Ocidente, e os que votaram contra só tiveram uma maioria afirmativa e efectiva de dois votos. Tal e qual o que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros ainda não há muito patenteou:

Verifica-se que os que votaram contra nós apenas tinham uma maioria de 2 votos dentro do número total de membros da O. N. U., que é de 110; e somando os votos favoráveis a Portugal e as abstenções conclui-se, além disso, que 32 delegações tiveram dúvidas sobre a propriedade e a procedência da resolução que foi submetida à Assembleia.

Não é tudo, mas é muito, pelo menos o bastante para ajudar os partidários da transigência, que leva ao suicídio, a arrepiarem o passo e descobrirem o peito contrito.
É que não podem existir dois patriotismos: o que pactua com o perigo e reduz a Pátria, julgando salvá-la, e o que afirma a Pátria, defendendo a sua integridade dos perigos que a ameaçam, pois há só um patriotismo, aquele que não discute nem admite que se discuta, e muito menos se ofenda, o todo nacional, sejam quais forem os tempos e sejam quais forem as pressões.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Governo e os que o acompanham não têm o monopólio deste patriotismo, não o arremataram nem o instituíram. Ele vem das raízes da nossa história, da nossa feição de povo que lutou e sofreu para se afirmar como é. Patriotismo lógico, autêntico, irrecusável, tão sensível e visível e tão natural que. só não o alcança o segue quem não quer ou quem anda mergulhado na ingenuidade mais espantosa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Também já nos acusaram de querermos a guerra entre as nações como meio de valorizarmos e segurarmos a nossa posição no Mundo. Mas como poderíamos nós desejar a guerra generalizada se entendemos ser o nosso exemplo o melhor e o mais útil argumento em abono da paz universal? Graves faltas de lógica e de justiça cometem por vezes os homens ao serviço das suas estranhas ideias e dos seus obstinados entusiasmos. Sempre praticámos a virtude patriótica da paz e, se não relegamos a virtude patriótica da guerra, aquela outra virtude está primeiro e em sua defesa pomos toda a esperança e vontade.
Esta é a nossa atitude, tão legítima como irrevogável. O resto - o resto será crise de patriotismo, embora restrita ou esporádica.
Crise de patriotismo - crise de ser como se deve ser.
O remédio é então o de aguentar, como já nos foi dito por quem sabe o que essa palavra contém, em somatório de sacrifícios.