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7 DE FEVEREIRO DE 1963 2025

denodo e sem tergiversar, como, conforme já disse e aplaudi no anúncio do aviso prévio, tom feito os organismos e as revistas da especialidade e toda a imprensa, a radiodifusão e ainda as empresas de combustíveis.
A campanha tem o apoio da opinião pública e à Assembleia Nacional deve interessar secundá-la, visto que é a expressão suprema do sentimento nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As causas dos acidentes de viação são, a bem dizer, sempre as mesmas, aqui como em toda a parte, e todos as conhecem.
Umas mais frequentes do que outras; umas directas, que são as principais e provêm da acção individual dos condutores e dos peões; outras indirectas, derivadas da intensidade do trânsito, das condições atmosféricas, das avarias ou incidentes mecânicos, da configuração e estado de conservação de um certo número de estradas, etc.
Mas, já que falo do estado e da configuração de algumas estradas, cuja melhoria sem dúvida se impõe, em verdade lhes digo também que muitas delas são de faixas estreitas, mas têm as costas largas! ...
E assim, pois tem-se demonstrado que proporcionalmente, acontece ser mais frequente o número de acidentes ocorridos nas estradas em bom estado de conservação, nas mais planas, nas mais largas e nas grandes rectas. Assim fala o número de casos registados anualmente só pela Polícia de Viação.
Isto deve parecer inacreditável aos «ases do volante», mas não o é para os que conhecem o motivo, por de mais evidente, ou seja o predomínio nesses casos do factor confiança; e da confiança resultam a indiferença, a descontracção, a desatenção e o abuso de desmedida velocidade, quando não quase abandono do volante para gozar o panorama, animar a conversa, acender um cigarro, etc. E até é momento propício para consultar o retrovisor e retocar a maquilhagem, como sucedeu com uma dama, que, certo dia, fora da mão, se deparou a um lorde inglês, que, depois, na sua Câmara, pediu a palavra para protestar contra tamanho desaforo.
Li algures que a hipnose das estradas constitui um grande perigo para os motoristas e é considerada uma das maiores causas dos acidentes de viação; e as companhias de seguros têm como certo que, onde a condução é mais fácil, cria-se nos condutores um estado de abandono e desinteresse que origina reflexos tardios; adquirem uma falsa sensação de segurança e, daí, faltas de reacção se surgir bruscamente qualquer emergência difícil.
Ainda quanto às causas directas, ou sejam as provenientes da acção do homem, é conveniente notar que, no nosso país, em 1961, como geralmente nos anos anteriores e certamente em 1962, as mais frequentes, oficialmente registadas, foram o excesso de velocidade, a inobservância das prioridades, as ultrapassagens indevidas, a distracção e a falta de sangue-frio.
É claro que se uma delas, ou seja a velocidade excessiva, com simultânea transgressão da doutrina do artigo 7.º do Código da Estrada, é a causa directa de grande número de acidentes, ela também agrava indirectamente as consequências das causas materiais que por si os provocam, como rebentação de câmaras-de-ar ou de pneumáticos, derrapagens, avaria dos travões e outras.
São ainda as surpresas que se deparam, como as crianças ou os adultos que inopinadamente se atravessam no caminho, os obstáculos invencíveis, como veículos parados com desprezo pelas regras do artigo 14.º e do n.º 4 do artigo 20.º do Código, os veículos que surgem transitando fora de mão, com infracção do n.º 2 do artigo 5.º, ou não empregam o sinal acústico como determina o n.º 2 do artigo 6.º, o encandeamento, com desprezo do n.º 2 do artigo 30.º, etc. E se, nesses casos, o perigo por culpa dos outros subsiste, por vezes sem remédio para os que conduzem depressa, mas com domínio do volante e dentro do Código, certo é, porém, que ele é mais inevitável e invencível para os que conduzem sem precaução, mesmo que seja em velocidade moderada.
Muitas vezes, ao volante, o automobilista, apressada sem haver pressa, na ânsia de bater recorda e em competições, vaidoso, fanfarrão, desobediente, com vergonha de utilizar o aviso sonoro quando deve, além de perder por completo a consciência de si próprio e o amor à sua vida, à da família e à do próximo, transforma-se, transtorna-se, passa a ser uma espécie de «outro eu». Varre-se-lhe do espírito a noção das responsabilidades que a sua própria categoria e as funções que exerce lhe impunham e do perigo que a sua perícia não vence, como não vence a imperícia dos outros que se lhe deparam na anarquia e na desordem do caminho, onde, além de tudo o que se vê, se sente e se prevê, dominam os fatídicos imponderáveis que desafiam irresistivelmente a morte.
E que dizer do delírio de certos jovens nas suas bólides rasteiras, ruidosas, de escape livre, em vertigem louca, talvez emparceirados com furtiva flausina que se lhes depara nos acasos da vida? E desses adolescentes, cujo aproveitamento escolar os pais premeiam, não com um brinquedo, mas com um automóvel a valer para irem à escola?
Não será isto facilitar e apressar o autodeterminação juvenil de que falou André Maurois num interessante artigo publicado recentemente no Diário de Noticias?

O Sr. Amaral Neto: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Gostosamente.

O Sr. Amaral Neto: - V. Ex.ª tem carradas de razão, mas o pior é que às vezes o automóvel não é o prémio do aproveitamento escolar, mas do desaproveitamento ou pelo menos, sobrepõe-se ao desaproveitamento escolar ...

O Orador: - Deve ser assim.
Enfim: embora, na expressão de André Defert, presidente do Touring Club de França, muitos pensem e procedam chacun pour sói, eles tão inconscientemente o fazem que não pensam em si e perdem o próprio instinto de conservação; e não podemos denominá-los apenas suicidas, pois são também criminosos ou terroristas da estrada.
O próprio Pontífice Pio XII disse que os sacerdotes têm o dever de incutir na consciência do homem que vai ao volante a responsabilidade moral perante Deus o a sociedade. E, em 1958, afirmou que a frequência dos acidentes mortais embotou a sensibilidade moral; e acrescentou:

Que dizer então da insensatez dos automobilistas loucos que se deixam levar pela vertigem da velocidade e da competição, indiferentes à sua própria segurança e à dos outros? Como não hão-de estremecer o cristão, o homem honesto, ao simples pensamento de poder vir a ser equiparado aos piores criminosos ...

E a inconsciência desses indesejáveis atinge o paroxismo do inverosímil quando pretendem justificar os abusos da velocidade ou de condução sem controle nem domí-