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2110 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 84

Quanto à abertura de novas vias e grande, reparação das existentes, também a Cumaru Municipal de Barcelos não tem sido das menos favorecidas: teve já a seguinte ajuda, do Plano de viação rural: 1959, 302 400$; 1960, 51 7000$; 1961, 475 500$; 1962, 679 800$; para 1968, a maioria na base de 80 por cento.

Lisboa, 11 de Março de 1968.

O Sr. Presidente: - Está na Mesa um ofício do 2.º Juízo Correccional do Tribunal da Comarca do Porto pedindo que seja autorizado o Sr. Deputado José Alberto de Carvalho a depor como testemunha naquele Juízo. Consultado, o Sr. Deputado informou que não via inconveniente em ir depor. Nestes termos vou consultar a Câmara.

Consultada a Câmara, foi autorizado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Alberto de Meireles.

O Sr. Alberto de Meireles: - Sr. Presidente: na linguagem simples que as circunstâncias justificam proponho-me trazer a esta Câmara um breve comentário a um facto ocorrido junto à barra do Porto. Não vou apenas referir o fait divers que os jornais trataram com desenvolvimento: no negrume da noite de sexta-feira o cargueiro Silver Valley, embandeirado na Libéria, pertencente a armadores italianos, provindo da Jugoslávia, mas com tripulação totalmente grega, naufragou, perdido o rumo; em frente à restinga do Cabedelo, na foz do Douro.
Mobilizaram-se desde logo, aos apelos lúgubres do navio ferido de morte, as corporações de bombeiros voluntários, que abnegadamente acorreram com todo o seu material e a dedicação do seu pessoal. O salva-vidas dos socorros a náufragos acorreu também. A frota de rebocadores da Administração do Porto de Leixões não se fez esperar e até, como sempre pronta, como sempre expedita, como sempre galharda, a nossa corporação da Armada acudiu com uma vedeta para prestar o único socorro possível, o do apoio psicológico aos náufragos. E sucedeu, Sr. Presidente, que as horas da noite passaram e, ao deambular da manhã, cresceu então e fundamentadamente a esperança de auxílio eficaz aos 27 homens em perigo naquele lugar fatídico, onde não é preciso ser velho e ter grande memória para lembrar passadas horas de tragédia.
Há 40 anos a perda do Deister, com a tripulação perdida e um dos pilotos da barra tragado também pelo mar; foi depois o Gauss, e nele não se perdeu a tripulação, mas morreu meia dúzia dos homens que tripulavam os salva vidas e se expuseram mais uma vez, corajosamente, para valer à tripulação em perigo.
E tudo isto, Sr. Presidente, se passou sob os nossos olhares, tão perto da costa que parecia que bastava estender a mão para que as mãos dos náufragos, agarrando as nossas, pudessem voltar à vida. Mais uma vez, com angústia, a população ribeirinha, que vive debruçada nas margens do Douro, desde o Esteiro da Campanhã até à Cantareira, que Raul Brandão descreveu em águas-fortes, e do Avintes a Lavadores, e as gentes do mar, confundidas com a população, viveram horas de tragédia. E posso testemunhá-lo, perante a impotência dos socorros, quer de terra, quer do mar, intuitivamente se corporizou naquela enorme multidão a ideia de que só do Céu podia vir a salvação. E dele veio, como sempre, afinal, materializada desta vez num instrumento maravilhoso que o engenho do homem criou e domina já tão perfeitamente: o helicóptero.
E vieram, graças u Deus, a tempo, os helicópteros que em Alverca estavam, tripulados embora por pilotos estrangeiros, em colaboração pronta com os serviços competentes do Ministério da Marinha; eles vieram num clarão de esperança. E com eles as esperanças já perdidas renasceram em todos.
Calculamos a alegria dos náufragos, que já descriam de outro socorro. E com uma regularidade que fez pasmar, com a simplicidade das coisas enormes, foi possível, em escassos 40 minutos, trazer para a praia, sem um acidente, sem um incidente, como se se tratasse de um exercício de socorros a náufragos, os 27 tripulantes do navio perdido.
Como sempre, o sentimento da população do Porto, digo, o sentimento da população de Portugal, veio acima. E não se sabia a princípio quem eram os náufragos, mas, gregos ou troianos, o que importava era salvar aquelas vidas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E vieram as explosões de alegria porque, por fim, se afastou a usa negra de tragédia que pairou naquelas horas sombrias.
Sr. Presidente: disse, que só do Céu podia, vir a salvação.
E ela veio pela mão solícita da Torça Aérea, que esteve representada pelo director dos seus serviços fabris, Sr. Coronel Fernando de Oliveira, e agiu com serenidade e eficiência dignas dos maiores elogios e de rendido agradecimento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por tudo isto, Sr. Presidente, há um anseio agora mais vivo, da parte de todos nós, para que sejam dotados os serviços dos socorros a náufragos com um meio que agora se nos oferece, para que sejam mais eficientemente protegidas as vidas dos homens do mar.
Toda a nossa população piscatória e marítima pede que o Governo lhe conceda, mas para já, o apoio de alguns helicópteros, adstritos a operações de salvamento.
O Porto deseja-o e pede-o; já clama na sua imprensa. E posso afirmar que a voz humilde que aqui se levanta na Assembleia traduz o pensar, o sentir e o anelo de todos os homens do mar e de todos aqueles que vivem o seu drama. Mas os homens do mar confiam sobretudo no que vêem, e ouvi dizer a um: «Não podemos estar à mercê dos telefonemas de Lisboa ou da boa vontade de Lisboa. Queremo-los aqui, ao pé de nós, para que saibamos que os helicópteros estão ao dispor da Capitania ou das autoridades locais». E isso que o Porto quer, que o Porto deseja, o parece-me que não pede o impossível.
Porque não se há-de guarnecer a nossa costa com esses aparelhos, que virão tornar mais eficientes os nossos serviços de socorros a náufragos? É um aparelho caro? É difícil obter guarnições para eles? Mas penso que o Aeroclube do Porto está em condições de fornecer voluntários dispostos a aprender a tripular aquelas naves que em Pedras Rubras estiverem na segurança dos hangares. Um ou mais voluntários não faltarão, e os técnicos das nossas forças aéreas certamente se prestarão a instruí-los.
Se deste apelo da cidade resultar, como espero, audição do Governo para que dote o Porto com helicópteros prontos a salvar vidas, teremos prestado justiça à gente do mar e concorreremos, ao mesmo tempo, para a tranqui-