19 DE MARÇO DE 1963 2115
viços, todos os benefícios para que foram iniciadas. E só assim podemos bem-dizer as sornas enormes que nelas empregámos e os sacrifícios de toda a ordem nelas despendidos. Para tal, importa, antes de mais, olhar para as barras dos portos do Algarve. Sem um bom e seguro acesso aos portos, através das suas barras, tudo o que neles se tem gasto será perdido, quando, com um pouco mais de dinheiro e de trabalho, tudo se aproveitará.
Assim terá de ser, para não deixar em meio obras tão importantes e com as quais se desejou dar aos povos algarvios uma melhor e maior situação económica.
Os últimos temporais, felizmente raros, que durante o passado mês de Fevereiro assolaram tão desabridamente as costas algarvias, vieram lembrar a grande, a urgente, a inadiável necessidade de melhorar as barras dos portos do Algarve, e que, se não as desassorearmos rapidamente, todo o trabalho até aqui feito resultará em pura perda, ...
O Sr. Sousa Rosal: - Muito bem, Muito bem!
O Orador: - ... em absoluta e total inutilidade, em incompreensível desperdício. Mas estamos esperançados, ou melhor, seguros de que isso não irá acontecer, pois o contrário seria ver desmoronar grandes e belos trabalhos, erguidos com tanto estudo, saber e valiosos sacrifícios financeiros.
O Estado tem, sem favor e fora de elogio fácil o declaramos aqui muito gostosamente, serviços e técnicos da maior valia e dos mais profundos conhecimentos e condições de trabalho à altura de realizarem nas barras dos portos do Algarve as obras necessárias e precisas para a sua boa e fácil utilização. De resto, as obras que nos portos do Algarve já se efectuaram melhoraram por si próprias, em grande parte, as respectivas barras.
Assim aconteceu nos portos de Portimão e no comum Faro-Olhão, onde até com fortes vendavais é, se bem que com compreensíveis dificuldades, possível o acesso através das suas barras, bastando lembrar que ainda há pouco pela burra de Portimão se salvaram, debaixo de um dos mais fortes temporais que têm assolado a costa algarvia, as vidas preciosas de doze valentes homens do mar.
Nestas barras não têm sido constantes e aturadas as dragagens; pode dizer-se que desde 1958 ali não têm sido feitas, em vista de os dois molhes construídos à entrada das barras evitarem que nelas penetrem, assoreando-as, as areias-exteriores, o que antes disso facilmente acontecia.
Contudo, isto não obsta a que os técnicos continuem atentos aos movimentos das areias, das marés e da força das águas do mar, para executarem prontamente qualquer desassoreamento, evitando a sua avolumação e, consequentemente, maiores trabalhos e maior custo, pois sempre é mais fácil prevenir do que remediar.
Porém, e infelizmente, o mesmo não acontece na barra de Tavira, quase completamente assoreada, dificilmente permitindo já a entrada e saída de barcos de pequeno calado, que por ela se movimentam como auxiliares das suas quatro armações de atum, que, fora a do cabo de Santa Maria, são actualmente as únicas da costa algarvia.
Tais armações merecem de todos a melhor e maior atenção, pois, além de pertencerem a empresas de pesca das mais antigas da costa portuguesa, são os mais valiosos instrumentos de trabalho marítimo daquela encantadora cidade algarvia e alimentam a importante indústria conserveira de atum, não só das suas duas fábricas, como das existentes em Vila Real de Santo António.
Pelo I Plano Portuário alargou-se e afundou-se a sua barra natural, mas a falta, de uma assistência de dragagens tem deixado assoreá-la, tornando não só perigosa como até de quase impossível movimento de entrada e saída de embarcações de pequeno calado. E Tavira, a linda Veneza algarvia, merece que se lhe faça esta obra, aliás pouco dispendiosa, pois quase se resume a umas simples dragagens, visto ter mostrado nestes últimos anos desejar sair da apatia em que por muito tempo pareceu adormecida.
O seu concelho, as suas gentes, anseiam trabalhar pela sua valorização, e para isso uniram-se numa compreensão municipalista digna do melhor louvor e do maior amparo.
Por todas as suas freguesias, por toda a sua cidade, revive o anseio de progresso. Abrem-se estradas, melhoram-se ruas, estende-se a rede eléctrica, erguem-se edifícios em artérias que de novo se rasgaram, a sua mocidade instrui-se na sua escola técnica, na sua escola de pesca, nos seus dois colégios secundários; a sua população rural canta nos seus ranchos folclóricos das Casas do Povo u alegria esperançosa de um melhor viver, e o seu gosto pela música espalha pela sua banda municipal os acordes do hino da Pátria. Não esqueçamos Tavira!
Quase no mesmo estado de assoreamento se encontra a barra do valioso porto de Vila Real de Santo António. Porém, o problema aqui é de maior monta, pelo alto valor económico deste porto, sem favor presentemente o melhor e maior porto comercial algarvio.
Dotado de óptimas condições interiores, que lhe presta o rio Guadiana pelo grande volume das suas águas, pelo seu estuário frente a Vila Real de Santo António e à vila fronteiriça espanhola de Aiamonte e pela sua extensa navegabilidade até à vila de Mértola, este porto, pelas suas condições internacionais, merece-nos e merece de todos uma especial atenção.
Foi nele que se investiram as primeiras verbas do Plano Portuário de 1928, pela construção de um cais posteriormente aumentado até 300 n e junto ao qual se criaram fundos que permitem a acostagem de barcos de bons calados, facilitando-se directamente a sua carga e descarga através de dois guindastes de pórtico, tipo Diesel, eléctricos, para pesos de 3,5 t e 5 t a 18 n de braço, sendo ainda de salientar, por muito valiosa, a circunstância de tal cais não só se encontrar ligado a uma boa rede rodoviária, como ser servido por via férrea ligada à rede geral, pois o porto de Vila Real de Santo António é testa de caminho de ferro da linha do Sul.
Além de vastos terraplenos, possui este porto dois amplos armazéns comerciais com a capacidade de 3840 m3, tendo além disto um abrigo com cerca de 600 m2 de superfície.
Existe nele ainda um cais próprio com pontão flutuante, ligado à terra por um troço de ponte, destinado ao tráfego internacional de passageiros e veículos automóveis, ligeiros e pesados, para a vila espanhola de Aiamonte, cujo cenário maravilhosamente belo, pela alvura do seu casario, se espelha rias águas de um rio comum a duas pátrias, como o reflexo da compreensão política actual dos dois povos peninsulares, que por ela souberam afastar prontamente uma doutrina política cimentada no ódio, enquanto outros povos, em verdadeira cegueira, se deixaram iludir pensando defender os seus ideais, que diziam democráticos, quando os estavam perdendo na defesa do maior imperialismo jamais visto pelos povos do Mundo.
Vila Real de Santo António possui assim actualmente o melhor porto do Sul do País, não lhe faltando até uma boa doca de pesca, mas as condições naturais da sua barra, comum a Portugal e a Espanha, toda aberta entre areias que facilmente se deixam arrastar pelas correntes do rio Guadiana em entrechoque constante com as correntes das marés e do mar, necessitam, exigem, uma dragagem quase permanente, sob pena de se tornar inteiramente impossível o acesso ao estuário do rio.