O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

27 DE MARÇO DE 1963 2155

comércio de ouro e com os vultosos invisíveis de natureza comercial, que, por assim dizer, neutralizam o déficit referido.
E a vizinha colónia inglesa de Hong-Kong a principal fornecedora de Macau, com 64,3 por cento, assim como é ela a principal consumidora da exportação de Macau, com 32,2 por cento.
Segue-se, em ordem decrescente, no campo das importações de Macau, a China Continental, que lhe fornece 34,4 por cento, a metrópole, com 1 por cento, o ultramar português, com 0,2 por cento, e outros países com 0,1 por cento.
O destino da exportação de Macau é, em primeiro lugar, como se disse, para Hong-Kong, com 32,2 por cento, seguindo-se o ultramar português, com 28,8 por cento, com especial relevo para as províncias de Moçambique e Angola, que, em 1961, importaram, respectivamente, 97 531 contos e 52 074 contos de mercadorias produzidas ou transformadas em Macau.
E de se notar e de se referir a percentagem mínima, para não dizer insignificante, de importações efectuadas da metrópole (1 por cento) e do ultramar (0,2 por cento) pela província de Macau.
Como muito bem observa o ilustre relator das contas desta Assembleia, Sr. Deputado Araújo Correia, Macau «poderia consumir mais quantidade de produtos de origem nacional ou até servir de entreposto à expansão de alguns, tanto europeus como africanos, com consumo no Oriente, como café e outros de origem tropical».
Tem a maior pertinência e oportunidade a observação feita e só a incompreensão ou o esquecimento das possibilidades dos vastos mercados do Extremo Oriente poderão justificar a nossa inércia e o pouco, para não dizer nada, que se tem feito, tanto cá como lá, para retomarmos, em parte, a posição de entreposto comercial, tão ingloriamente perdida em proveito de outros.
E sabido que Macau surgiu em meados do século XVI do génio aventureiro dos portugueses; e até meados do século XIX foi a única posição estrangeira naquele vasto e quase desconhecido Extremo Oriente, constituindo o porto de escala obrigatório da navegação de longo curso que, da Europa e Médio Oriente, demandava tais paragens até o País do Sol Nascente.
Do porto de Macau largavam então embarcações a abarrotar de mercadorias e ali chegavam produtos de estranhas terras numa preciosa permuta.
Eram as célebres naus de prata, provenientes do Japão, que escalavam o porto para longe carrearem a sua preciosa carga, regressando prenhes de mercadorias diversas.
Eram os navios que da Europa ali descarregavam os seus produtos em troca das preciosidades orientais.
De Macau saíam, em profusão, os valiosos e exóticos produtos da China e do Japão, tão apreciados e procurados na Europa; era também por Macau que se fazia o reconhecimento e a penetração comercial europeia das vastas regiões da Ásia.
E por mais de dois séculos deteve Macau tão importante como precioso monopólio!
Porém, com o estabelecimento de Hong-Kong, em 1843, imposto pela força das armas britânicas, e a abertura de vários portos da China ao comércio internacional, iniciou-se o longo e penoso processo da decadência de Macau como entreposto comercial; e esse privilégio de predomínio económico, e até político, na China foi progressivamente desaparecendo em proveito dos ingleses, holandeses, franceses, alemães, belgas, italianos, escandinavos e até norte-americanos.
E nós, portugueses, que, numa luta de gigantes, primeiro abrimos o caminho do Oriente e fomos os precursores da formidável acção europeia na China, ficámos relegados para um segundo plano, obscuro e insignificante, em que nos temos mantido.
Seria ridículo pensar-se que poderíamos voltar agora a ocupar a anterior posição perdida; mas isto não significa que não possamos nem devamos recuperar parte do comércio de exportação que tão ingloriamente deixámos fugir por apatia e por inacção.
Estou convencido de que ainda hoje é possível colocarem-se alguns dos nossos produtos, tanto metropolitanos como ultramarinos, nos sequiosos mercados do Oriente, através de uma divulgação racional e constante.
Começando pelos vinhos, tanto os licorosos como os de mesa, a sua distribuição limita-se praticamente a Macau, e a sua representação qualitativa poderia e deveria ser melhor.
O mesmo se dirá das nossas belas conservas de peixe, carne, enchidos, etc., tão mal conhecidos naquelas paragens e que poderiam certamente competir, em preços e qualidade, com as de outras origens e que ali abundam.
E deveras desolador verem-se nas mercearias de Hong-Kong, tão próximo de Macau, conservas das mais variadas origens, mas nenhuma portuguesa; e confrange-nos entrar nos seus restaurantes e hotéis e pedir a carta de vinhos para verificar que o único vinho português que figura, e nem em todos os estabelecimentos, é o vinho do Porto, em flagrante contraste com a infinidade de variedades de vinhos franceses e italianos de todos os tipos e para todas as ocasiões!
E mais nos entristece esta situação quando pensamos que, até à segunda guerra mundial, os produtos italianos mal eram conhecidos no Extremo Oriente, à excepção das suas massas alimentícias e algumas variedades de queijo.
Presentemente a Itália, mercê de uma política comercial oportuna, inteligente e eficaz, ocupa posição de certo destaque naquelas paragens, e a sua exportação ultrapassa os limites de mero fornecedor de vinhos e produtos alimentícios, para abranger não só os mais diversos artigos de vestuário e artigos utilitários, como até produtos de beleza, em competição com a França, Inglaterra e Estados Unidos da América.
Ora Portugal pode e deve alinhar com os países atrás referidos como fornecedor de tais mercados, não só porque alguns dos seus produtos não terão de recear competição como outros estarão em condições de poder concorrer, tanto em preços como em qualidade, com os de outros países.
Assim, a cortiça em prancha, o azeite de oliveira, as filigranas, os vinhos e conservas, no que diz respeito à indústria metropolitana, poderão certamente ter colocação aceitável.
Dos produtos ultramarinos, pelo menos o café. o açúcar, o algodão e o óleo de amendoim poderiam igualmente ter larga colocação se as suas condições de preço e qualidade pudessem ser, pelo menos, igualadas às dos países que actualmente detêm o exclusivo de tais mercados.
O consumo do café tem entrado facilmente nos hábitos dos orientais, que, actualmente e nos meios citadinos, o preferem ao clássico chá, sendo tal tendência bem notória em Macau, Hong-Kong e nas cidades do Japão, onde o seu consumo tem vindo a aumentar progressivamente.
Há assim que se vencer a inércia em que nos encontramos e tornar conhecidos os nossos produtos no Extremo Oriente, mediante uma política comercial orientada com inteligência e de vistas largas e para a qual a província de Macau seria o entreposto ideal para a sua distribuição.