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29 DE MARÇO DE 1963 2219

E já que falei em lavoura não deixo de referir-me a uma preocupação grave que domina a agricultura madeirense. Grande parte da economia da Madeira assenta na produção da banana - cujo principal mercado é o continente - e da cana sacarina.
Com a integração económica do espaço português prevê-se para a banana uma pesada .quebra na exportação. Sabe-se que a Junta de Colonização Interna já não financia investimentos para a exploração desta cultura. Para a cana sacarina é quase certo o seu desaparecimento. Ter-se-á pensado a sério nas sombrias perspectivas futuras da economia madeirense? Haverá já da parte das entidades responsáveis pelo menos um começo de estudos para um bom e seguro planeamento da vida económica da Madeira em vista da unificação do mercado português?
Formulo estas perguntas na convicção de que serão ouvidas pelo Governo, que agirá de acordo com as exigências que o caso impõe.
Para terminar as minhas considerações sobre assuntos de lavoura, farei minhas, com a devida vénia, as palavras do Sr. Eng.º Araújo Correia nos pareceres às Contas Gerais do Estado de 1960 e 1961:

No sector agrícola os atrasos são angustiosos em certos casos e os rendimentos que lhes cabem no agregado nacional desoladoramente baixos.
Falta de aptidão agrícola dos solos e outras condições climáticas?
Inadaptação das culturas praticadas à constituição dos solos?
Técnica atrasada ou rotineira nas diversas regiões agrícolas?
Falta de investigação regional e de auxílio técnico do agricultor?
Carência de auxílio financeiro a longo e a curto prazo ou sua má utilização?
Educação técnica defeituosa, demasiadamente teórica, sem contacto directo com a terra e seus problemas económicos e humanos?

Depois destas pertinentes perguntas, a que não foi dada ainda cabal e eficiente resposta, propõe, e com razão, que, preenchendo «os serviços relacionados com a agricultura mais de metade das dotações do Ministério da Economia, seria de vantagem estudar de novo a organização daquele Ministério, de modo a determinar se as verbas são insuficientes ou se as que actualmente se gastam não produzem os efeitos que se poderiam esperar».
Não quero deixar no olvido um serviço do Ministério da Economia que já tem dado grandes e esplêndidas provas da sua competência e árduo trabalho através de realizações magníficas, no sector agrícola, espalhadas por todo o País. Refiro-me à Junta de Colonização Interna, em cuja presidência está um dinâmico e inteligente técnico, que sabe trabalhar também com o coração: o engenheiro Vasco Leónidas, a quem presto as minhas, sinceras homenagens.
Sr. Presidente: não há dúvida nenhuma de que o turismo será a maior e melhor indústria para a valorização da economia nacional.
Uma grande corrente turística é capaz de transformar por completo a fisionomia económica de uma nação, como sucedeu com a Itália, que, saída financeiramente arruinada da última grande guerra, em poucos anos pôde retomar um teor de vida de progresso e prosperidade.
Não me alongo em considerações gerais sobre a matéria; vou outra vez localizar-me na minha terra.
A Madeira foi das terras portuguesas a que primeiro recebeu um afluxo turístico organizado. Mercê da amenidade do seu clima, das belezas inigualáveis dos panoramas de contraste forte, da afabilidade das suas gentes, manteve sempre um cartaz natural de propaganda turística que não mente, nem mesmo quando, uma ou outra vez, curtos vendáveis desfeitos parecem tentar o forasteiro a um juízo diferente.
Importantes têm sido as obras ultimamente realizadas, em vista, sobretudo, de um maior desenvolvimento do turismo. O aeródromo com as suas duas pistas: a do Porto Santo já aberta ao tráfego internacional e a de Santa Catarina em vias de conclusão. O porto, com o seu cais acostável e fornecimento de combustíveis líquidos à navegação, solenemente inaugurado o ano passado por S. Ex.ª o Presidente da República por ocasião da sua triunfal e carinhosa visita de cinco dias ao arquipélago, visita essa brilhantemente aqui evocada pelo meu ilustre colega Dr. Alberto de Araújo quando anteontem se referiu ao lançamento à água do primeiro rebocador para o Funchal. Se o turista de antes da guerra tinha exigências limitadas, que se satisfaziam quase com uma vida sedentária na cidade, hoje, porque é mais heterogéneo e vem de mais variados climas, tornou-se irrequieto, quer ver tudo, percorrendo a ilha em todas as direcções e sentidos.
Não podemos levar a mal a sua irrequietude; de outro modo não viria a conhecer a variada gama de encantos que a nossa paradisíaca terra proporciona aos visitantes. Falta, porém, à Madeira um conveniente apoio para que o turista encontre, fora do Funchal, ambiente acolhedor, a facilitar as suas digressões pelos recônditos da ilha.
Estamos, neste aspecto, em fase primitiva, numa completa pobreza, que não atrai os estrangeiros, antes os afugenta, como me tem sido dado constatar.
Lembremo-nos de que as impressões pessoais dos turistas são o melhor ou pior reclamo que podemos ter no estrangeiro. Ponhamo-nos em condições de dar satisfação aos seus aliás justos desejos e teremos ganho o mercado ...
Convinha, portanto, dotar as regiões de maiores atractivos panorâmicos com pousadas onde o forasteiro pudesse descansar e alojar-se. Em toda a Madeira só existe uma, e esplêndida por sinal, pertença da Delegação de Turismo, cujo presidente, Prof. Rafael Basto Machado, muito tem feito para o desenvolvimento turístico regional. Se o futuro económico da Madeira depende, sem dúvida alguma o afirmo, do turismo, inteligentemente organizado, não podemos estar com delongas, sob pena de perdermos, em favor de outros que sabem o que fazem, a maior fonte futura da nossa riqueza.
Mais hotéis e uma rede de pousadas é o que me parece ser necessário imediatamente encarar.
Aos particulares, é certo, cabe a maior tarefa; no entanto, é imprescindível, em tantos aspectos, até e sobretudo no financeiro, a ajuda do Estado, que de facto tem contribuído com grande quota-parte para o desenvolvimento turístico nacional.
Daqui apelo para o Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, pedindo encarecidamente que, à imitação da grande obra realizada no continente, faça erguer na Madeira algumas pousadas, que contribuiriam imenso para melhor organização e valorização do seu turismo.
E assim o Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo seria conhecido pelos madeirenses ...
Sr. Presidente: uma das velhas e sempre válidas regras de boa economia sintetiza-se nesta frase slogan: «Produzir e poupar», há anos proferida pelo Sr. Presidente do Conselho.