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2248 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 88

cerca de 75 por cento da população escolar saída da escola primária não podia continuar a estudar, não recebendo por isso qualquer ensino secundário, o que afectava de modo grave a formação profissional das camadas novas. Um inquérito então realizado veio a revelar que era de 700 000 o número de jovens de menos de 21 anos desempregados por não lhes ter sido ministrada instrução profissional, comercial, industrial ou agrícola após a instrução primária.

Era uma situação angustiante para que não se descortinava solução imediata.

Foi então que o Ministério da Educação pensou em socorrer-se da televisão, criando a telescola. Estudado convenientemente o caso, começou a televisão a transmitir no ano lectivo de 1958-1959 o programa do 1.º ano do curso de formação profissional, curso que tem a duração de três anos e abrange a formação profissional industrial, comercial e agrícola.

Nos anos lectivos imediatos, a telescola praticou os programas dos anos seguintes - o 2.º e o 3.º -, repetindo sempre os programas dos anos anteriores, para que não fosse quebrada a continuidade do ensino.

A recepção das transmissões faz-se em postos de recepção que funcionam em salas cedidas para o efeito por associações culturais, de beneficência, organismos oficiais, câmaras municipais, empresas industriais e simples particulares.

Os postos de recepção, que se tem procurado instalar de preferência em localidades com menos de 3000 habitantes, as mais desprotegidas quanto ao fomento da instrução secundária, subiam a 1600 logo no primeiro ano da telescola e ultrapassavam pouco depois os 3000, e estão hoje largamente espalhados por todo o país, sobretudo nas zonas rurais.

Além dos alunos oficialmente matriculados nos centros de recepção, os cursos de telescola são ainda seguidos, de forma metódica e sistemática, por muita gente, sobretudo adultos, quer em casa, quer em fábricas, quer em hospitais e até em prisões. Todos têm direito a enviar os respectivos trabalhos aos organismos centrais, podendo apresentar-se a prestar provas de exame nas escolas oficiais.

Em Junho de 1961, dos telalunos que fizeram exames nos estabelecimentos oficiais obtiveram aprovação 80 por cento!

A matéria de ensino abrange a história, a geografia, II educação cívica, as ciências, a matemática, o italiano, a caligrafia, o francês, prática de trabalho, desenho técnico, ginástica, religião, economia, música e canto coral.

Em cada centro de recepção há um prefeito, que vela pela disciplina e boa ordem e presta a primeira ajuda às dúvidas dos alunos. Para casos mais difíceis há os organismos centrais que superintendem em todo o ensino da telescola.

Os estúdios para a telescola estão montados como se se tratasse de uma verdadeira escola e os professores têm a assistência de um pequeno grupo de alunos, criteriosamente, escolhidos do ponto de vista da idade e da aptidão mental, por forma a corresponderem à média normal da grande massa escolar do país.

A telescola italiana é assim uma autêntica escola no sentido pleno da expressão. Uma escola gratuita, sem limite de idade e sem dificuldades burocráticas na matrícula e na frequência.

O Sr. Jorge Moita: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Jorge Moita: - Tenho estado a seguir as considerações de V. Ex.ª com todo o interesse e acho que o ponto focado tem a maior actualidade. De resto, através do que V. Ex.ª disse, o condicionalismo mundial e a própria crise de professores que estamos a atravessar no nosso país indicam que é aí que temos de cair.

Mas quando V. Ex.ª afirma que a telescola é uma verdadeira escola eu pergunto se o facto de ela fazer cessar a convivência entre o professor e o aluno não compromete a missão educativa da escola. Quero acreditar que o aspecto instrutivo se; a salvaguardado, mas acho que fica comprometido o aspecto educativo.

O Orador: - Tenho escrita mais adiante a resposta à objecção de V. Ex.ª Devo desde já prevenir que escrevi essa resposta pensando num objector possível, que nunca supus pudesse ser V. Ex.ª E possível que a resposta, tal como está redigida, possa parecer menos elegante, mas não é. E repito: quando a escrevi nunca pensei que o possível objector viesse a ser V. Ex.ª

O Sr. Jorge Moita: - Muito obrigado!

O Orador: - Em resumo: olhando às suas especiais características, ao realismo dos problemas que se teve em vista solucionar, ao bom acolhimento e eficiência prática das soluções adoptadas, à estrutura racional e orgânica dos programas criados, à coragem que houve em oficializar, com exames finais e diplomas legalmente reconhecidos, o ensino ministrado nesta escola revolucionária, a experiência italiana constitui, no campo da televisão europeia e. mesmo mundial, um caso único e particularmente sugestivo sobre o muito de que é capaz, a televisão hodierna no campo vasto da educação e da cultura popular.

Tal como na Itália, também entre nós, segundo já referi, o problema da instrução das camadas juvenis que concluem o ensino primário é aflitivo pela dimensão, já que todos os anos ficam sem possibilidade de continuarem a estudar cerca de 100 000 rapazes e raparigas à volta dos onze anos de idade, após terem concluído a instrução primária, subindo a cerca de 80 por cento a população escolar que fica com a 4.a classe apenas; é angustiante pela impossibilidade em que nos encontramos de satisfazer o seu justo e legítimo anseio, já que não temos nem liceus nem escolas técnicas por esses meios rurais além, nem dispomos de professores que lhes possam valer; é tremendo de responsabilidade pela perda irreparável que daí advém para o futuro da Nação, privada da imensa e maravilhosa potencialidade da inteligência de centenas de milhares de jovens, nesse aspecto para sempre perdidos; é doloroso pela de minutio capitis de valorização pessoal e social a que por essa forma estão condenados tantos e tantos portugueses cuja medida de faculdades mentais jamais será conhecida.

Pois bem, inclino-me a crer que todo esse requisitório de lamentos e frustrações está no nosso alcance afastá-lo de vez da sociedade portuguesa. Já não temos agora pela nossa frente o espectro dos inacessíveis recursos financeiros para a construção de centenas de edifícios - os centros de recepção do ensino da telescola funcionariam, à semelhança do que na Itália acontece, por essas vilas e aldeias, nas escolas primárias, nas Casas do Povo, nas beneméritas colectividades de cultura e recreio, nas salas oferecidas por empresas industriais e comerciais ou por simples e generosos particulares.

Já não nos assustará a falta de dezenas de milhares de professores - uma equipa deles, menos numerosa do que o corpo docente de um liceu ou de uma escola técnica,