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2474 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 98

por contraproducente, ser envolvida por informação de natureza política.
É uma idea que tenho há muito tempo e ela resulta mais de casos ditados pela experiência do que de qualquer ideia especulativa.
Mas, mais do que qualquer organização que venha a estabelecer-se, que V. Ex.ª referiu e que desconheço, a inteligência e a competência dos homens que a sirvam será o principal factor na diferenciação dos dois aspectos que citei.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª pela sua excelente achega, que valorizou o nosso trabalho, mas, parece-me que equacionei por via indirecta esses dois tipos de informação: a política e a nacional. A primeira parece ter ficado genericamente implícita na exemplificação da actuação das potências internacionais na informação africana. Quanto ao desenvolvimento do planeamento, chamemos-lhe assim, da informação nacional, V. Ex.ª verá que, na sequência do meu trabalho, procurei fazer o apontamento que V. Ex.ª em boa hora aqui referiu.
A lei ou estatuto que a enquadre há-de forçosamente encontrar na fórmula «máxima liberdade, máxima responsabilidade» a síntese feliz que reúne as aspirações e anseios dos seus servidores. Mas há também que ter em conta a devida correlação dos termos «liberdade» e «responsabilidade».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O binómio haverá de implicar sempre direitos e obrigações.
Não pode gozar do seu estatuto quem, esquecendo a responsabilidade, converte a liberdade em licença, em afronta à lei, à moral, à Pátria, à dignidade humana, aos valores próprios da nossa civilização.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Instrumento precioso de vida social, escusado será destacar a sua eminente «função de interesse público», como bem o reconhece a Constituição.
Assim, a imprensa, em todas as horas um serviço da maior utilidade pública, deve ser também a todo o momento não apenas nacionalista, numa atitude estática, mas sim e ainda nacionalizante, numa atitude dinâmica. E sob este aspecto terá de haver uma coordenação perfeita entre a metropolitana e a ultramarina, ambas na sua quase totalidade com uma excelente folha de serviços em prol do País, cujos interesses vêm defendendo com raro denodo e acentuada eficácia.
Entretanto, parece-nos que o que não for de conveniente publicação nos órgãos da metrópole, por lógica consequência, não deverá sê-lo nos do ultramar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E talvez que nem sempre assim tenha acontecido.
Há, por vezes, um lamentável desarrumo de ideias acerca de problemas graves, primordiais, como os ultramarinos, que, de qualquer forma, nesta hora decisiva da Nação, não podem estar à mercê de jornalismo barato ou da improvisação de jornalistas incipientes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há noções, conceitos, que, pela transcendência que ré vestem, excluem in limine trasteios de debutantes.
Por outro lado, temas existem que, pelo seu significado, não podem oferecer-se à discussão - entre eles o da unidade pluricontinental da Nação, preenchida pelo mais autêntico humanismo cristão: o da comunidade multirracial lusíada.
Não pode, pois, falar da Pátria quem a não entenda e a sinta!
É preciso saber rezá-la, tomar nos dedos como se fossem contas de um infindável rosário todos os assombrosos actos da nossa gesta.
Assim, a função de jornalista requer, de cada um em particular e de todos em geral, uma soma de predicados que não torna a selecção dos seus valores empresa demasiado fácil.
O jornalista tem de ser recto no juízo, puro na intenção, objectivo na informação.
Necessita de ser esclarecido e esclarecedor; haverá que ser sensível aos grandes ideais: o belo, a verdade, a justiça, conceitos a que há-de render-se a sua inteligência como o seu coração.
A um tempo inflector e reflector dos grandes como dos pequenos acontecimentos; síntese e análise de grandes e pequenas coisas, o jornalista quando as comunica apõe-lhes o selo da sua personalidade.
Na reportagem como no fundo, na crítica como na crónica, ele não formula apenas juízos enunciativos, elabora sim juízos de valor.
E como magistrado de uma magistratura que se deseja sem mácula, tem de possuir uma bagagem intelectual, uma formação moral e um suporte de erudição que lhe permitam, na época diferenciada que é a nossa, com a ajuda de uma sensibilidade apurada, seguir a via recta que a sociedade exige e a ética profissional reclama.
Aqui tem lugar o particular interesse e alcance do problema da preparação profissional do jornalista.
Desta tribuna renovamos ao Governo o pedido que já em tempos aqui se fez: o da criação urgente de uma escola ou instituto de jornalismo, de grau médio ou superior. Escola ou instituto onde, a par de cadeiras de ordem técnica, dirigidas por profissionais da imprensa, haveria aquelas outras de índole formativa ou cultural, como sejam a Literatura Portuguesa e Universal, a História Pátria e a da Civilização, a Sociologia e a Deontologia Profissional, a Organização Política e Administrativa da Nação, e as Ciências Políticas e Sociais.
Parece-nos ser esta uma linha de rumo certa, pelas razões atrás apontadas e já que não devemos esquecer, como bem o salientou ilustre jornalista, em notável conferência, que «a história do jornalismo pode, de certo modo, identificar-se com a história da cultura».
Assim, prevemos e desejamos que a função de jornalista, prestigiada pela excelsitude do seu préstimo, seja social, intelectual e materialmente valorizada.
Na sua quase totalidade, esta nobre e valorosa profissão tem servido com dignidade, honradez e independência os mais legítimos interesses nacionais.
Disso é sobejo exemplo a distinta representação nesta Assembleia dos vários órgãos informativos do País.
Para todos eles, para os que devotadamente os servem, a nossa melhor compreensão pela delicadeza das suas funções e a homenagem do nosso respeito e apreço pela maneira galharda como têm sabido defender o interesse geral, identificado com o soberano interesse do País.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.