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11 DE DEZEMBRO DE 1963 2693

reforçou-se o equipamento em aparelhos de radiofoto, que hoje é constituído por 7 aparelhos fixos e 17 unidades móveis; passou-se de 3 para 16 o número de brigadas móveis de provas e vacinação; e aumentou-se substancialmente a distribuição gratuita dos antibióticos de 1.º e de 2.a linha, dentro das condições estabelecidas.
Quais têm sido os resultados obtidos?
Pelo que se refere aos sanatórios, conseguiu-se suprimir a demora dos internamentos, acabar com a «bicha» para a sanatorização. Desde há dois anos que a admissão, tanto de homens como de mulheres, se faz imediatamente e assim se tem podido fazer, cada vez com mais frequência, o internamento precoce, que tanta importância tem para uma mais curta sanatorização e para um melhor êxito do tratamento.
O movimento dos dispensários quase que duplicou no que respeita a consultas - mais 290 956 consultas do que em 1955. Da análise dos números ressalta que aumentou subitamente o número dos que se inscreveram pela primeira vez, mas verifica-se também que entre eles se encontra cada vez maior número de indivíduos sem doença. Efectivamente, a diferença nestes oito anos é de mais 79 610, mas enquanto entre os 64 591 de 1955 havia 22,3 por cento de tuberculosos em actividade, nos 143 201 de 1962 não se registaram senão 10,7 por cento de tuberculosos nessas condições. Quer dizer: entre os que se fazem observar no dispensário há cada vez maior número de indivíduos sem doença evolutiva. Isso não pode resultar senão da campanha em marcha, do progressivo esclarecimento das populações, da consciência que vão adquirindo da gravidade desta doença, da colaboração activa que vão prestando e da confiança cada vez maior que vão revelando pelos nossos serviços.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - As nossas unidades de radiorrastreio, a despeito das condições em que trabalham, do estado dos caminhos que têm de percorrer, do estado dos edifícios em que têm de instalar-se, das frequentes avarias dos velhos e estafados aparelhos e dos não menos estafados carros de transporte, obtiveram, em oito anos, mais de 7 milhões de radiofotos.
As brigadas de vacinação votaram-se a um trabalho intenso, aumentando substancialmente de ano para ano o número de vacinados, de modo a sextuplicá-lo em 1962. Deste modo, no fim destes oito anos, o número de vacinados subiu para 1 264 529. Da acção conjunta de todos os elementos resultou uma baixa de 62,4 por cento na mortalidade de tuberculose pulmonar e de 36,7 por cento nas outras formas.
Quer dizer: o número anual de óbitos por tuberculose em Portugal foi, em 1962, de menos 220 indivíduos do que em 1955. A descida da taxa por 100 000 habitantes, tanto na tuberculose pulmonar como das outras formas, tem sido contínua, sem sobressaltos, baixando, respectivamente, de 53,2 para 32 e de 10,6 para 3,9.
É preciso manter a luta com este ritmo ou pode afrouxar-se?
Estes resultados substanciais não devem servir para justificar uma redução na concessão de subsídios nem um afrouxamento na prossecução da luta.
Assim o têm entendido, felizmente, com a sua clara visão de estadistas, o Sr. Presidente do Conselho e o Sr. Ministro das Finanças.
É preciso que as baixas da mortalidade pela tuberculose, os reclamos maravilhosos de novas drogas e os artigos optimistas publicados nos jornais não iludam os governantes, nem os médicos, nem o público.
É necessário manter no País o interesse pela luta e é preciso criar no público uma consciência sanitária cada vez mais forte c chamá-lo a uma colaboração activa cada vez mais intensa.

O Sr. Nunes Barata: - Muito bem!

O Orador: - É indispensável também evitar que os estudantes de Medicina- e os próprios médicos se interessem cada vez menos pela tuberculose-doença e pela luta antituberculosa. Uma visão errada tende a levar uns e outros a julgar que a doença é coisa já arrumada, sem interesse sanitário e sem recompensa material. Contra esta ideia, é preciso que as Faculdades de Medicina- esclareçam os estudantes de que a tuberculose continua a ser o problema sanitário número um do nosso país, que são precisos cada vez mais médicos esclarecidos para o combate ii endemia e que muitos dos fracassos da terapêutica são de origem iatrogénica, quer dizer: são os próprios médicos, e sobretudo os de clínica geral - os que primeiro observam e tratam os doentes e orientam os seus planos de tratamento -, os causadores das resistências medicamentosas, que tão desastrosas consequências nos acarretam, tanto no campo da terapêutica como no da profilaxia.
Inquéritos feitos, mesmo em zonas rurais da África, da Ásia e da América do Sul, demonstraram que 20 a 40 por cento dos doentes bacilíferos têm já resistência aos antibióticos de 1.a linha - os mais baratos e os mais conhecidos - quando chegam aos serviços especializados. Isto é o resultado de uma insuficiente assistência médica quantitativa e qualitativa dessas regiões e também da facilidade com que os doentes obtêm nas farmácias essas drogas sem receita médica. E o que acontece nessas regiões acontecerá, sem dúvida, em bastantes outras da Europa, onde a periferia, a zona rural, não está convenientemente assistida.

O Sr. Jorge Correia: - Muito bem!

O Orador: - Portugal não estará fora das graves consequências deste importantíssimo problema sanitário.

O Sr. Jorge Correia: - Muito bem!

O Orador: - O tratamento ambulatório, hoje tanto em voga, é também responsável por muitos casos da resistência medicamentosa. Os doentes, sem vigilância capaz e sem consciência sanitária bem esclarecida, mesmo que tenham recebido instruções precisas e convenientes, nem sempre cumprem. Da receita até à boca vai uma grande distância. Não basta observar os doentes, fazer diagnósticos criteriosos, estabelecer prescrições convenientes e distribuir gratuitamente os medicamentos. É preciso uma estrutura capaz de saúde, pública e uma vigilância constante.
Defendi aqui, no ano passado, a ideia de que nos devíamos lançar abertamento numa política de erradicação da tuberculose, aplicando ao nosso país os argumentos expendidos na reunião da Conferência Internacional da Tuberculose, em Toronto.
Mantenho o que aqui afirmei. Devemos intensificar a luta, aperfeiçoar os métodos, ajustar os programas para obtermos rapidamente, como primeiro escalão, aquilo a que se chama o controle da tuberculose - isto é, a detenção dos contágios, a paragem da transmissão. Só então ela deixará de ser um problema de saúde pública e se poderá passar ao escalão final - o da erradicação da tuberculose, a sua eliminação da comunidade.