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2830 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 112

o agiota da pitaria tio dólar e o comunismo da Rússia Soviética, de mãos dadas com o surto cafreal dessa estranha brotoeja, de Estados africanos, cujos chefes trazem ainda, indelevelmente, gravada na alma, a marca sinistra da lei da selva.
A Europa um museu para distracção turística de argentários ianques? Nunca, Srs. Deputados.
O espírito europeu há-de continuar a ser o «sal do Mundo», na expressão feliz do pensador francês Jean de Guéhnno. Não aceitamos nem o americanismo nem o sovietismo, porque «ambos são filhos ingratos e monstruosos do espírito europeu».
«A liberdade americana, a liberdade do americanismo - diz um pensador contemporâneo -, não é liberdade, porque exclui a justiça, como a justiça russa, a justiça social soviética -, não é justiça, porque exclui a liberdade.»
Sim, Srs. Deputados. O genuíno espírito europeu definiu-o bem o escritor italiano Francisco Flora:
É a tragédia esquiliana, que purifica a alma, libertando-a, dos seus inales; o conceito de Sócrates, a ideia, platónica da reminiscência, a geometria de Euclides: a letra grega e latina dos Evangelhos, que anunciam a redenção dos homens; as doze tábuas e o direito romano; finalmente, a Igreja, que renova os espíritos e, simultaneamente, resgata a civilização; vota ao Deus único os templos e os ídolos; harmoniza a filosofia grega e romana com as palavras de Paulo e João; e, por toda a parte, tende a estabelecer a proporção entre a Terra e o Céu, entre as paixões da carne e a pureza da alma.

Sim, Sr. Presidente e Srs. Deputados. A velha Europa, que os hunos enfurecidos deste nosso século turbulento do avião de propulsão por jacto pretendem aniquilar, é ainda a, antífona do canto gregoriano, é a voz daquele que pregava às aves e aos lobos, que chamava ao Sol irmão e à própria morte irmã, o canto de todas as madrugadas e de todos os esplendores da Comédia de Dante, a loucura de Hamlet, o colóquio entre D. Quixote e Sancho Pança, o «cogito» cartesiano, a «síoría ideal eterna» de João Baptista Viço. E nesta Europa imortal, que há-de sobreviver, esplendorosa, ao sismo político-social que agita este pobre Mundo dementado, ocupará, sem dúvida, lugar de inconfundível relevo este «gigante do Ocidente» - Portugal -, donairosamente plantado, «onde a terra se acaba e o mar começa».
Deixemos, pois, que o batuque cafreal dos 32 Estados do meeting du Adis A beba lance às feras da selva o velho Portugal, que lhes ensinou o caminho da dignificação humana. Não nos intimidam as ameaças e arrogâncias intempestivas desses Estados-farsas sem maioridade política, cultural ou social. Sabemos bem que as nações não se improvisam. São antes o produto sazonado da longa sedimentação dos séculos.
Assim aconteceu com as nações europeias, estruturadas ao longo de dez séculos da tão caluniada Idade Média.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: no plano interno, a viagem de S. Ex.ª o Venerando Chefe do Estado a Angola e S. Tomé deve ter demonstrado, até aos mais rebeldes, que está certa a tese portuguesa de que Angola e todos os demais territórios ultramarinos querem permanecer portugueses, que a guerra sangrenta vem ateada de fora e que não podemos ceder à pressão traiçoeira de forças secretas à espera do campo livre deixado por nós para lá se imiscuírem, dominando, massacrando, escravizando populações indefesas que nós tornámos felizes e livres.
Moçambique vai receber o Sr. Almirante Américo Tomás no próximo ano conforme foi já anunciado. Não obstante a atmosfera de paz em que por lá temos vivido, tenho a certeza de que a minha província saberá receber S. Ex.ª com aquela galhardia, vibração e fidalguia que é seu timbre.
Do Rovuma à Ponta do Ouro, todos os moçambicanos se sentirão, nessa hora alta, mais unidos à Mãe-Pátria, unidade que é garantia da nossa grandeza e sobrevivência futura. Sem largos gestos nem palavras estudadas, tudo se reduz a esta evidência elementar: o ultramar é, por essência, a terra dos que lá vivem de longa data.
E quem é que se deixa espoliar, com indiferença, do que lhe pertence? Por isso, as reacções mais prontas e entusiastas vêm quase sempre do povo, que tem, como ninguém, o claro sentido dos destinos eternos dê uma nação. R esta santa teimosia dos puros e dos fortes que tem conservado Angola, que mantém Moçambique intacto e em paz. Por esta verdade nacional se tem batido o Governo, com uma paciência que não sabe de esmorecimentos, com uma clarividência que nenhum sofisma enreda, com uma constância que não cede ápice no caminho andado, com uma coragem que muitos julgaram loucura, mas já começam a considerar sabedoria, com uma audácia que só respira os ares lavados dos altos cumes do mais depurado heroísmo.
Ao aguentar-se deste modo, a pé firme, na trincheira batida pelos aguaceiros que as Nações Unidas nos mandam, nada mais tem feito, afinal, do que interpretar, fielmente, o sentir geral da Nação, madura de oito séculos, e que, por isso, não precisa que Estados adolescentes venham rasgar novos caminhos à sua largada providencial pelas sendas da história futura. Era o seu dever. É, também, a sua glória.
Por isso o aplaudimos todos sem reserva, oferecendo nomes, fazendas e vidas para que, além de nós, a Pátria se engrandeça, intacta, «continuando na morte de seus filhos», como cantou um dos maiores poetas angolanos - Tomás Vieira da Cruz.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Carlos Alves: - Sr. Presidente: se é certo que as ideias são factos em potência, como se diz e se aceita, não é menos certo que o povo aprecia os factos melhor que as ideias, em especial os que, pela grandeza da sua representação, lhe entram directamente no coração. Ou porque se desenvolvem mais ao nível da sua inteligência, ou porque dispõem de maiores dons de penetração, eles impressionam-no mais fundamente e fazem melhor carreira na sua alma simples. Alma aberta aos sentimentos puros, que caracterizam a fé e a caridade, ela vibra fervorosamente nos momentos solenes de elevação patriótica, retém nos seu recessos a memória desses momentos, preciosos e raros, como marcos indestrutíveis de amor e constância, a assinalar as grandes etapas da sua vida.
Habitante que sou do Norte de Angola, os olhos cheios do panorama negro, artificialmente criado, devo dizer que faço parte desse povo anónimo que ama e sofre e que, no turbilhão de teorias postas em marcha, para a sua suposta salvação, se aflige com o conflito marcado pela confusão de ideias.
Posto assim o rumo do meu pensamento, cingir-me-ei aos factos que vulneraram o sentimento das populações daquelas terras, palco experimental do maquiavelismo hodierno que introduziu no seu viver o demónio da desavença, juntamente com as armas da destruição. Trilho assim um caminho mais seguro, e que V. Ex.ª me releve a pobreza de expressão neste acto, solene e magno, de pôr em