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9 DE JANEIRO DE 1964 2831

relevo a nobre acção do Governo na defesa do território nacional, ferido gravemente nas suas parcelas de além-mar.
Srs. Deputados: cumpre-me lembrar, antes do mais, a primeira, manifestação levada a efeito por uma população agradecida. Em 1961, sete meses depois da eclosão do terrorismo, fui portador de uma mensagem endereçada a S. Ex.ª o Presidente do Conselho, Prof. Doutor António de Oliveira Salazar, em que a Câmara Municipal de Carmona, interpretando o sentimento da população da cidade e do distrito, exprimia, mais que apoio, o preito das suas homenagens, o tributo da sua fidelidade e o alto grau da sua gratidão pelo facto de ele personificar a vontade do Governo de defender a todo o custo o território em perigo e de proteger as vidas ameaçadas de extermínio.
Sabemos todos que é dever do Governo promover a defesa do País quando a paz interna é abalada por perturbações de qualquer natureza. Sabemos igualmente que é legítima a sua posição quando utiliza a força pública para restabelecer a ordem e garantir a segurança, onde quer que se mostrem periclitantes. Modernamente, porém, os maus ventos têm soprado tão fortes que, ao que parece, constitui uma afronta o elementar gesto de legítima defesa.
No entender desses opinantes, generosos na distribuição da fatia alheia, teríamos de deixar correr os caudais dos nossos anseios para o mar da sua gula para trilharmos o caminho certo do apaziguamento e da apregoada convivência dos povos. Em certos sectores da opinião em evidência acoima-se de temerária a luta pela integridade nacional, em contraste com a atitude dos que abdicaram desses mesmos direitos, aparentemente iguais, nivelados adrede por teorias inconsistentes e por conveniências de ocasião.
A vida dos povos, porém, no vasto campo da sua história, oferece matéria vasta de meditação sobre os Golias prepotentes vencidos por modestos Davides, numa afirmação saudável da força prevalecente da moral que, subjugada temporariamente pela tirania e pelo abuso do poder, acaba por triunfar da força bruta. Bem grandes eram as forças adversas quando os terroristas iniciaram as suas chacinas, numa proporção, talvez, de 50 para 1, e nem por isso os sobreviventes da hecatombe se deram por vencidos.
Mau grado a escassez de meios, não temeram o inimigo, nem pelo vultoso do número, nem pela vantagem que lhe concedia a acção de surpresa. Combateram firmemente contra o crime e contra o barbarismo, sem curarem de saber de que lado estava a superioridade de armas, escudados apenas na possança da sua razão. E a dúvida subsequente que se apossou dos assaltantes, sem ideal nem moral, levou-os a abandonarem a presa e a refugiarem-se nas matas, onde se albergam ainda, alimentados e assistidos do exterior.
Na verdade, o desaire causou surpresa e produziu o efeito de uma travagem brusca no panorama geral da luta pelo domínio de África. E perguntava-se: como ousaram os escassos milhares de civis opor-se à horda de dezenas de milhares de «soldados da U. P. A.», exercitados, doutrinados e armados para a sua rápida supressão? Chocados com o insucesso, os mandatários da «libertação» trataram de rever os planos, de seleccionar os grupos de acção e de os orientar para a táctica de forças militarizadas.
Internamente o efeito foi de sinal contrário. Conduziu os espíritos à formação de um juízo de valor, e a resistência, que, no dizer de alguns doutrinadores de então, destoava da fatalidade que pairava sobre a África, teve o mérito de levantar os ânimos abatidos ante o pessimismo que alastrava e ganhava terreno. Os maus ventos sopravam rijo e uma- parte da opinião vergava, indecisa, subjugada por factos de outra ordem, em que sobressaía a fuga da Europa e o abandono da África à sua triste sorte. Como podia Portugal, com a pequenez dos seus recursos, triunfar onde os mais fortes tinham cedido?
Sou, então, a voz de Salazar, e pôs ponto final no coro de dúvidas que circulava e ameaçava avolumar. «Eu poderei morrer - disse, um mês depois de ter rebentado o terrorismo -, mas Angola não morrerá».
E as populações que até àquele momento se batiam valentemente, mas em branco, alheias ao vácuo que se criava à sua volta, ficaram sabendo, enfim, que o sangue dos mártires não tinha sido vertido em vão. Contra as forças adversas, e muitas eram elas, o Governo velava, pela integridade do património nacional e pela defesa de vidas e bens.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E assim nasceu a semente de gratidão, que mais tarde havia de frutificar em manifestações de maior grandeza, com real escândalo dos representantes dos novos Estados africanos que na O. N. U. transaccionavam o território angolano, omitiam por sistema os factos sangrentos consumados pelo terrorismo, desvirtuavam-nos, invertiam a ordem dos factores e acusavam Portugal de massacrar os assassinos, enfeitados com o nome de «nacionalistas angolanos». A verdade, porém, comprovada por relatos fidedignos e por fotografias indiscutíveis, encarregou-se de pôr fim à falsidade das acusações.
Por outro lado, a força militar, na sua missão de restabelecer a ordem, firmou bem o dispositivo de defesa, eliminando os motivos que pudessem prestar-se a equívocos. Provocou grande brecha no campo terrorista, não pela perseguição e morte, como se afirmava no exterior, mas pela reconquista do homem, como unidade de valor, e da sua confiança pela acção psicossocial. O regresso em massa das populações à vida pacífica, representando a diluição do plano arquitectado para o domínio de Angola, gerou o pânico entre dirigentes e comandos, que se digladiavam entre si na luta pelo poder, e a dúvida no seio das potências que os apoiavam.
No receio de que outros auferissem os lucros de tão importante operação, o reconhecimento ostensivo dos dirigentes da U. P. A. pelos representantes dos novos Estados africanos como o único governo válido, no exílio, para os negócios de Angola não é mais do que a confirmação do estado de nervosismo em que se encontravam. Tornava-se preciso proclamar o timbre da sua empresa, e ninguém melhor do que o chefe desse governo reunia os dons considerados infalíveis. O Holden Eoberto, o do ódio entranhado e da intolerância religiosa, o das chacinas cruéis e das devastações a esmo, o da invasão, enfim, a todo o custo, para que os financiadores se não desinteressem da empresa. Deste modo, puderam manter a campanha no ponto alto das reivindicações, e as vozes dos representantes dos novos Estados africanos tornaram-se mais ásperas na O. N. U.
Para nós a situação tornava-se clara, e ninguém mais, a partir de então, alimentou dúvidas quanto às intenções dos pseudo libertadores. Independência a todo o custo é o estribilho inamovível martelado aos ouvidos a todo o momento nas assembleias internacionais, com a persistência de uma ideia fixa, só possível em defensores de interesses