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2826 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 112

O Orador: - É esta a mensagem lacónica, mas tremenda, que Timor tem a dirigir à Nação e ao Mundo quando se lhe pergunta o que pensa sobre a atitude tomada pelo Governo perante a onda de perseguições de que Portugal vem sendo alvo só pelo «crime» de ser nação na África e na Ásia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Perante uma tal pergunta, a resposta de Timor reside, afinal, na lição da sua história destes últimos vinte anos. O povo timorense espera e confia que o Governo da Nação continue a ser digno dele.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: se me estivesse dirigindo apenas ao País, não acrescentaria uma palavra a tudo quanto já deixei dito. De resto, as impressionantes manifestações populares realizadas por Portugal inteiro, a mensagem dirigida pelas forças armadas, na pessoa do chefe do Estado-Maior do Exército, ao Presidente do Conselho, a triunfal recepção dispensada pelas populações de S. Tomé e Angola ao Chefe do Estado, tornariam supérfluas ou simplesmente pretensiosas as palavras que aqui se pronunciassem.
Mas o mundo que nos ataca, e que fechou os olhos e os ouvidos às manifestações do Terreiro do Paço e às aclamações de S. Tomé e Angola, tem de acabar por ver e ouvir. Não esperamos certamente convencer os homens e os países que tomaram posição contra nós no seguimento lógico da política do mais odioso colonialismo até hoje concebido, porque o imperialismo comunista só conhece um diálogo - o da força. Mas muitos dos Estados que alinharam no número dos actuais inimigos da presença portuguesa na África e na Ásia mudarão de atitude, espero, a partir do momento em que se convencerem de que a posição assumida pelo Governo na intransigente defesa dos nossos soberanos direitos corresponde fielmente à vontade desta grande nação euro-afro-asiática.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A questão, porém, é que a grande maioria dos nossos adversários está sinceramente convencida do contrário, por razões que me parecem ser de duas naturezas. A primeira ordem de razões filia-se na própria mentalidade de boa parte dos povos estrangeiros, que não podem facilmente compreender por si sós o estranho fenómeno que para eles vem a ser esta nossa sociedade, que não tem cor de pele e que, tanto na Europa como a 400 milhas da Austrália, constitui parte de uma mesma pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A segunda advém da campanha movida por grande número de órgãos estrangeiros de informação da opinião pública, que pretendem - e em grande parte conseguem - fazer ver que a posição portuguesa não seria mais que o fruto da vontade de meia dúzia de homens dementados que governassem uma nação de abúlicos.
A crermos nas informações emanadas daqueles órgãos, Portugal, arrastado, pela vontade despótica de um temível ditador, para uma guerra de desgaste por uma causa antipática ao seu povo, privado de compensações materiais que já lhe foram oferecidas a troco da «libertação» das suas possessões ultramarinas, Portugal seria, com efeito, um Estado terrivelmente infeliz.
É claro que este mal não se pode combater na origem, porque o que lança na luta esses órgãos de informação não é o peso de convicções nem a defesa de ideias defensáveis; todos sabemos que estão pura e simplesmente enfeudados a facções políticas nos grupos financeiros cujos interesses na África e na Ásia estão à vista. O que temos é que desenvolver, pela nossa parte, uma contra-ofensiva de informação.
A atitude de incompreensão da maioria dos Europeus e Americanos em relação à nossa causa resulta, quase exclusivamente, de má informação, e rapidamente se transforma em franca simpatia quando se lhes revela a verdadeira alma de Portugal. Sei que isto assim é pelos contactos que tenho tido com numerosos estrangeiros, sobretudo, pelo que mais directamente interessa à província de Timor, com australianos.
E o mais significativo é que são os próprios estrangeiros esclarecidos que nos vêm lembrar a necessidade de montarmos uma máquina de informação eficiente para esclarecimento da opinião pública dos respectivos países. Haja em vista o que, perante o Ministro das Corporações e altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse o ministro do Trabalho do estado australiano de Vitória, em Maio do anu passado. É que os nossos amigos sentem a necessidade de ver na imprensa dos seus países, e com frequência, notícias nossas que os animem na campanha que eles próprios vão desenvolvendo a favor da nossa causa, no círculo das suas relações e, por vezes mesmo, publicamente, como é o caso daquele ilustre ministro australiano.
Ora isto leva-me a exprimir uma dúvida, de resto a única que se pode levantar em relação à política de defesa seguida pelo Governo: estará realmente o País a empenhar, nesta situação de guerra que estamos vivendo, todo o peso dos seus recursos?
Já vimos que em matéria de informação internacional não parece ser esse o caso. É mesmo altura de duvidarmos se os nossos meios de informação teriam explorado convenientemente a atmosfera favorável criada pela brilhante actuação do Ministro dos Negócios Estrangeiros, a quem presto sinceras homenagens, nas suas intervenções junto da O. N. U.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E quanto ao esforço de guerra? Xá mensagem que, em nome das forças armadas, o ilustre chefe do Estado-Maior do Exército dirigiu, em Agosto do ano passado, a S. Ex.ª o Presidente do Conselho, dizia-se:

As forças armadas necessitam, para isso, que o País, que sempre reage tanto e em uníssono com elas, forneça, em homens e material, os meios indispensáveis para a luta até à vitória completa, os navios, os aviões, os equipamentos, as armas de toda a ordem que hão-de assegurar que a bandeira portuguesa tremule nos ares.
Ora, reflectindo sobre estas palavras, vêm-me ao espírito algumas perguntas para as quais não encontro resposta satisfatória.
Terá a nossa Armada um número de unidades que lhe permita proteger as extensas linhas de comunicações que ligam entre si as diferentes parcelas do território nacional e que, no caso de o conflito se agravar, lhe permita garantir a defesa do litoral das províncias ameaçadas?
Teremos uma força aérea à altura de corresponder às necessidades da defesa do espaço português?
Disporão as forças terrestres de armamento e equipamento modernos e eficientes?
Como se compreende a redução drástica, operada pelo Ministério das Finanças, nas dotações destinadas à defesa nacional para o ano de 1963?