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2828 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 112

os que o Chefe, numa superior visão e invulgar inteligência, traçou para a salvação da nossa pátria.
K interessante saber-se que os elementos que inicialmente se agruparam para fazer esta manifestação são africanos, naturais daquele distrito.
E é também curioso, por isso aqui faço menção, que a esse grupo organizador se tenham juntado os mais importantes régulos, um padre europeu representante das missões católicas e um padre nativo representante da religião muçulmana, de que são acólitos muitos habitantes daquele distrito.
Nessa patriótica manifestação foram, feitas as maiores afirmações de patriotismo e da mais alta admiração por Salazar, através dos eloquentes discursos dos vários oradores, todos naturais daquela região.
Mas o que mais impressionou, pelo tom de firmeza e pelo seu fervor patriótico, foram algumas palavras dirigidas à multidão pelo régulo grande, Megama Abdul Carnal, em língua macua, para melhor ser entendido.
Na simplicidade da sua pessoa, mas na grandeza da sua alma nobre, e pesando a responsabilidade das suas palavras, disse:

Somos portugueses de nascença e com isso muito nos honramos.
.Vivemos sempre à sombra, da bandeira portuguesa e dela jamais nos separaremos, ainda que por ela tenhamos de dar o nosso próprio sangue.
Estas palavras, que ficaram suspensas naquele silêncio impressionante e que tiveram eco para além da linha limítrofe de Moçambique, significam bem o patriotismo da gente africana portuguesa, são bem a afirmação de fé a Portugal, definem claramente o pensamento daquele meio milhão de almas que nasceram portuguesas e portuguesas querem morrer, sem intromissões estranhas que viriam sómente trazer-lhes intranquilidade e perturbar a paz e sossego em que sempre viveram.
Os povos africanos portugueses não querem essa liberdade mascarada em autodeterminações de autênticos pés de barro, que tem levado só a miséria, a fome c o, crime, como o quadro negro do Congo evidencia e não pode esconder aos olhos de todo o Mundo.
Não querem eles nem quer a população branca que para ali foi numa missão civilizadora que teve início vai para cinco séculos e jamais terá fim.
A população nativa, mesmo a menos evoluída, sabe bem definir situações, reconhecendo o amparo e a protecção que Portugal lhe dá, em flagrante contraste com a desgraça que reina por esse Mundo fora.
Quer continuar a usufruir da liberdade que goza e que jamais lhe foi negada. Quer continuar a ter o tratamento que lhe tem sido concedido para uma ascensão social e cultural que lho permita uma vida de direitos comuns sem preconceitos raciais que sempre condenámos e que repugnam à nossa índole de povo civilizador.
Quer continuar feliz, vivendo ao lado do seu irmão branco, partilhando das mesmas tristezas e das mesmas alegrias, numa paz preservada pela mesma bandeira a que todos se orgulham de pertencer.
Jamais poderá haver teimosia que vença a vontade dos povos quando eles se encontrem, como no caso português, coesos pelo coração numa unidade inquebrantável para a defesa do solo que nos é sagrado.
É preciso esclarecei1 o Mundo de que os fantoches que têm sido aceites na O. N. U. como peticionários não representam de forma alguma a vontade dos povos africanos, mas apenas a sua própria vontade, que desejariam ver generalizada, para servirem sómente os seus próprios fins.
Organização das Nações Unidas, traindo o fim para que foi idealizada, transformou-se num tribunal arbitrário onde se condenam os mais fracos, sem o menor respeito pelo seu passado e pela verdade digna do presente.
O jogo das duas principais nações na panorâmica africana, é sobejamente conhecido para que percamos tempo com a sua descrição.
Todavia, convém avivar um ponto, para que esteja sempre premente na nossa memória.
Essas nações, que pelo peso da sua força traçam os destinos do Mundo - e delas poremos em destaque a América e a Rússia, cujos interesses no jogo pró-África são bem claros -, são inteiramente responsáveis pela intranquilidade que vem pairando sobre uma grande parto do continente africano.
As que têm votado a favor das moções afro-asiáticas não o fazer em plena consciência, mas por mera questão de solidariedade política para com os grandes, umas, outras votando com a maioria, por completo desconhecimento da verdade e da razão portuguesa, que ali tem sido criminosamente deturpada, como convém aos seus fins.
Há, na verdade, um crime de que nos deviam acusar: o de não termos sabido mostrar ao Mundo os propósitos humanitários que informam a nossa política em África e o progresso moral, espiritual e cultural que ali se regista e a paz que ali se respira.
A história é o grande receptáculo do bem e do mal das nações para com a humanidade.
Ela registará, com o decorrer dos tempos, a responsabilidade que lhes cabe nesta transição relâmpago de autodeterminações em série, em cujos povos impera ainda o espírito de um tribalismo que só uma longa maturidade poderá dissipar.
Sr. Presidente: a nossa política ultramarina não pode na realidade ter rumo diferente, embora o Mundo a não queira compreender por repugnar à sua própria índole a existência de sociedades multirraciais como a que criámos no Brasil e como a que estamos formando nas nossas províncias de além-mar.
Mas não basta que a apoiemos unicamente em palavras inflamadas ou em discursos cheios de patriotismo.
É mister trocar as palavras por uma acção efectiva e constante no campo prático das realizações. E se cada um de nós quiser, muito poderá fazer para a valorização daquelas terras ricas, que se devem considerar a espinha dorsal da Nação.
Tanto pequenos como grandes, devemos multiplicar os nossos esforços para um maior contributo do progresso do ultramar, e para tanto bastará que sigamos o exemplo nobre dos pioneiros que ali enterram todo o produto do seu trabalho, ali construindo o seu património, ali tendo os seus filhos e os seus próprios netos.
Sigamos também o exemplo digno dos valorosos militares que para ali marcham com a maior fé na defesa e na salvação do solo que nos é sagrado.
A uns e outros, julgo ser dever nosso prestar-lhes as mais calorosas homenagens e dizer-lhes, do alto desta tribuna, que são dignos da pátria a que pertencem.
Sr. Presidente: ao terminar estas tão breves quão ligeiras palavras, que pretendem traduzir todo o meu apoio à política- ultramarina traçaria pelo Governo, desejaria formular um voto, para que ela seja cada vez mais fortalecida em dois aspectos que sintetizarei nestas simples, mas significativas palavras: justiça e firmeza.
Justiça que terá de ser cada vez maior e deverá chegar, sem desfalecimentos ou quebra, a todos os cantos onde houver um português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!