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11 DE JANEIRO DE 1964 2861

nacional e, seguindo as directrizes do grande chefe que a Providência nos legou, procurem defender até à última gota do seu sangue a integridade do solo pátrio, onde quer que esteja situado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Creio ser esse o pensamento de todos os bons portugueses que, perante a gravidade da situação, não hesitam em pôr de parte todas as querelas partidárias, divergências políticas e mesmo certos recalcamentos ocasionados por situações de desfavor de que tenham sido alvos em momentos de crise da nossa política ultramarina ou por incompreensões ou desmandos de certos dirigentes públicos ou de organizações privadas.
E tenho a certeza de poder traduzir esse pensamento como sendo o de todos os portugueses da Guiné, que me honraram com a sua confiança, concedendo-me o mandato de que me estou servindo para fazer esta afirmação.
Estamos aqui, Sr. Presidente, como representantes das mais diversas regiões do mundo português, repartidas por quatro continentes do Globo, e, como lídimos mandatários das respectivas populações, cabe-nos a grande responsabilidade de avaliar a oportunidade do debate em causa e traduzir o melhor possível o sentir dos nossos representados.
Para mim, Srs. Deputados, acho da maior oportunidade o aviso prévio apresentado pelo nosso ilustre colega Sr. Deputado Veiga de Macedo, em seu nome e no de outros Srs. Deputados, e mal parecia se esta Câmara não tivesse abraçado com entusiasmo a ideia e no debate em curso não se tivesse verificado a concorrência invulgar de inscrições para nele tomarem parte.
Por isso não posso deixar de aproveitar esta oportunidade que V. Ex.ª me concede para participar nesta generalização do debate sobre a política ultramarina do Governo, para afirmar bem alto que a portuguesíssima província da Guiné, que tenho a honra de aqui representar, já em momento oportuno, só antecipada pela mártir Angola, teve ocasião de, pública e vibrantemente, manifestar o seu entusiástico e firme apoio à política ultramarina do Governo, e num apoteótico «Sim, Salazar» aceitou as directivas contidas na memorável declaração do Sr. Presidente do Conselho de 12 de Agosto último, que galvanizou todos os portugueses de aquém e de além-mar, levando-os a pensar mais maduramente no caminho que lhes era traçado e que, com a consciência do dever que a todos compete nesta hora difícil da Nação, decidiram aprovar sem tibiezas.
Mas se não fora a transcendência do assunto e o reflexo que uma ausência no debate poderia suscitar, bem me escusaria de roubar mais tempo à ilustre Assembleia, porque pouco mais poderei acrescentar do que aquilo que os meus antecessores já disseram, focando o assunto sob todos os seus aspectos.
E tomaria essa resolução porque a província da Guiné não precisava de repetir aqui, por intermédio do seu representante, o seu apoio à política ultramarina do Governo, dado que toda a província está diariamente a manifestar esse apoio incondicional ao procurar sufocar a guerra traiçoeira que os nossos inimigos implacàvelmente levaram até àquelas paragens e que, sem tréguas, continuam mantendo a todo o custo.
Procurarei, pois, ser muito breve, não só para não cair em redundância, mas, sobretudo, para não fatigar a Câmara.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: os portugueses da nossa província da Guiné, brancos, mestiços e negros, sentiram-se tocados pela declaração do Sr. Presidente do Conselho e compreenderam bem toda a verdade nela contida. Por experiência própria, resultante do conhecimento exacto do que se passa entre os nossos mais próximos inimigos e vizinhos daquela província, sabem bem que qualquer outra alternativa os condenaria à perda dos benefícios de uma civilização vivida há mais de cinco séculos para caírem numa subordinação nefasta com o seu património dividido por esses dois abutres, que depressa começariam a digladiar-se para retalharem a presa que, por desvario de certos portugueses transviados, lhes iria parar às mãos, mais cedo ou mais tarde.
Conhecem todos esta verdade e, por isso, todos sabem que nenhuma situação nova, nenhuma benesse oferecida com segundas intenções, lhes poderá proporcionar melhores oportunidades do que aquela que usufruem à sombra da bandeira das quinas.
Posso, pois, Sr. Presidente, garantir a V. Ex.ª e, por seu intermédio, ao Governo que podem contar com a lealdade e o portuguesismo das gentes da Guiné e que os seus autóctones estão na sua quase totalidade fiéis à política do Governo e prontos a lutar e a morrer pela defesa da integridade da Pátria sempre que seja necessário ou lhes seja solicitado.
E é-me muito grato poder afirmar bem alto que as populações nativas da Guiné, da mesma maneira como já o fizeram em tempos passados, se têm oferecido com insistência para combaterem ao lado dos nossos soldados como tropa irregular e, conhecedores do embrenhado matagal de muitas regiões da província, serem eles os elementos destinados à localização dos traiçoeiros terroristas, que, vivendo no mato denso, muitas vezes impenetrável, organizam emboscadas e ceifam vidas desprevenidas.
Para corroborar esta minha afirmação, não resisto à tentação de transcrever três declarações recolhidas de entre uma série delas proferidas numa manifestação prestada ao Sr. Governador da província.
Um grupo de crianças e mulheres cantaram o Hino Nacional, ao som de marimbas, que executaram primorosamente. A certa altura, Alfa Umaru Só, um dos «homens grandes» da população islamizada, disse:

É o nosso mais veemente desejo ver restabelecida a vida progressiva que sempre nos foi dado gozar na nossa terra, preocupados com o ideal de uma convivência pacífica, fruindo as benesses da liberdade que sempre nos foi concedida pelas leis do País. É certo que nos nossos lares se trabalha com entusiasmo e alegria, que os nossos filhos cantantes caminham para a escola, que não nos falta o pão de cada dia, mas ansiamos o regresso à actividade progressiva em que tanto andávamos empenhados. Com fé inquebrantável nessa volta, que esperamos ser breve, estamos ladeando V. Ex.ª, Sr. Governador, na certeza de que imporá a paz e o bem-estar nesta terra portuguesa.

Outro orador, Jorge Coli Seidi, disse a certa altura:

Nós, como os nossos maiores foram, somos e seremos sempre portugueses. Não queremos conhecer outra pátria.
O português europeu é nosso irmão mais velho. A ele devemos a luz da instrução, a civilização e a cultura. Queremos trabalhar na paz e criar os nossos filhos, porque é na paz que se farão grandes coisas. Nada nos falta na nossa Guiné que nos faça invejar o que é dos outros.