O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2860 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 114

piração internacional secreta para a partilha das colónias portuguesas. Salvámo-nos, mas anos depois o Governo Inglês não hesitou, com a sua habitual sem vergonha nestas coisas, em nos trair para uma futura- partilha colonial, situação difícil que a República resolveu entrando na grande guerra para salvar o ultramar, não sem grandes dificuldades na paz de Versalhes, em que foi preciosa a acção do Dr. Afonso Costa.
As tentativas de desintegração de Portugal tomaram novo rumo com a fundação da Sociedade das Nações, onde durante anos fomos duramente atacados também, com toda a falta de verdade a que já estamos secularmente habituados. Afonso Costa e Freire de Andrade foram ali os nossos grandes e hábeis defensores.
Quando em Lisboa se instaurou a ditadura de 1926, estava na forja, em Genebra, e nas grandes capitais da Europa, a tentativa de resolver o problema da criação do Estado Judaico, instalando-o em Angola.
Passo por cima de outras interessantes tentativas de esbulho político do nosso ultramar sob a forma de perigosas penetrações económicas, às quais o Governo acabou por contrapor de uma vez para sempre o Auto Colonial, que neste aspecto prestou inestimável serviço nacionalizador.
Depois, nas vésperas da última guerra, voltou a falar-se de Angola e Moçambique como meio de resolver os grandes apetites fascistas da Alemanha e da Itália. E veio a guerra, seguida desta paz precária, com dois grandes impérios em organização difícil.
Pelo que respeita aos Estados Unidos, não lhes foi possível, para salvar a fachada, empreender conquistas directas, pelo que se lhes tornou necessário lançar mão de um novo cavalo de Tróia. A Inglaterra fora o último país a poder pensar, como escreveria Brecht dos processos expeditos dos romanos, que «as fronteiras que as mercadorias não podem transpor são os exércitos que as atravessam». O exército, ser próprio ou constituído por terceiros súbditos, financiados por interpostas pessoas, é apenas uma modalidade engenhosa.
Já escrevi que os Estados Unidos, a continuarem o seu conhecido e descarado patrocínio, directo e indirecto, à forçada desintegração de Portugal por meio de invasões que visam obrigar as populações à insurreição, não podem continuar a contar connosco como seus aliados, tanto mais que toda a gente sabe que aquele país tem influência decisiva nos nossos incómodos vizinhos de África.
Tem, portanto, o Governo dos Estados Unidos de fazer um exame de consciência ao seu comportamento e às suas atitudes, porque as duplicidades não são
admissíveis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aliás, é por meio delas que os Estados Unidos têm conseguido carrear sobre si os ódios de todo o mundo livre, de que são o perigoso «aliado romano».
Este perigoso «aliado romano» do nosso tempo, a que temos estado ligados por certos ideais comuns, dá sobejas provas de não querer ter respeito pelos interesses morais e materiais dos povos portugueses, que são todos os que vivem nesta pequena metrópole, nas pequenas províncias de além-mar e nas duas grandes de Angola e Moçambique, que principiam agora a sair, como toda a África também, da vida primitiva dos mundos impenetráveis e se tornaram apetitosas pela sua riqueza, a sua gente e os seus mercados.
Reconhecemos que a situação é potencialmente perigosa para nós, mas. por isso mesmo, e porque não merecemos nem justificamos uma solução trágica e injusta, ó
visível que a Nação cerra fileiras para se defender. Não sabemos como, mas isso é a consciência de se saber porquê.
Talvez o Mundo tenha algum interesse em conhecer esta espantosa determinação portuguesa e comece a compreender o que vale um sentimento e o que significa uma fé. Porque há quase uma contradição entre a nossa força e a nossa vontade.
Mas tem sido sempre assim. Como vimos, a situação actual é apenas o renascer de um perigo permanente, que tem sempre afectado e dificultado a vida nacional.
Mudaram os tempos e evoluíram naturalmente as formas de ataque, as técnicas, a estratégia e a táctica políticas, mas, no fundo, o tema é o mesmo e consiste apenas no esbulho de populações e territórios que Portugal valoriza para passarem a outras mãos com aparências de soberanias independentes.
A própria metrópole, sabe, por experiência própria, o que isso é, e o jogo de alianças políticas em que os grandes a envolveram ao longo dos séculos sempre visou apenas, por um lado, fazerem de nós carne de canhão, por outro, a vaca leiteira dos grandes bebedores de leite, deixando-nos viver para que eles vivam, como dizia o cândido Brecht.
Quanto mais fragmentado estiver o Mundo, mais fácil às grandes panelas de ferro partirem pelo caminho todas as pequenas panelas de barro, o que não pode ser, porque não é justo. Temos o direito de ter uma vontade honrada e construir a nossa vida sem atropelar ninguém, nem sermos atropelados pelos outros.
A intransigência do Governo na salvaguarda deste direito nacional, que o tempo e a vida transformaram em dever, é uma intransigência nacional, que se insere na série já longa de iguais atitudes de todos os governos portugueses desde que reconquistámos Angola e o Brasil aos Holandeses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A monarquia liberal e a primeira república continuaram essa tradição, que o actual regime retomou, como não podia deixar de ser, sob pena de não poder continuar a governar Portugal.
O Mundo tem de aceitar que os pequenos, os fracos e os humildes também têm direito a uma vida melhor e os nossos povos ultramarinos não ficarão à mercê da desumanidade dos poderosos enquanto pudermos lutar pelo bem deles na Pátria Portuguesa, que é a única construção política capaz de realizar no mundo futuro a vida comum dos povos e das raças ligados por solidariedades que resultam da verdadeira unidade do género humano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há, pois, que continuar a persistir, que para isso é que servem os ideais e as realidades. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto Buli: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: nestes conturbados tempos que estamos atravessando e em que todos ou quase todos os países afro-asiáticos se juntaram para nos atacar, dentro e fora fronteiras, não será demasiado que todos os portugueses, de todas as etnias e credos políticos, procurem reforçar os elos que sempre uniram a família lusitana nos momentos de perigo e formem um quadrado intransponível à volta do património