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22 DE JANEIRO DE 1964 2953

à semelhança do que existe em França, como chamado «ciclo de observação».
Não possuímos estatística - e é pena! - que nos permita avaliar o elevado número de alunos que seguem cursos que de forma alguma se enquadram nas suas tendências e aptidões.
Se com a permanência num liceu ou numa escola técnica se suscita já o problema, ele agrava-se, sobretudo, no final do 2.º ciclo, quando o aluno tem de optar por uma das alíneas correspondentes ao 3.º ciclo. E mais se agrava ainda, tornando-se em situação dramática, ao frequentar determinado curso superior para o qual não possuía vocação, o que em número razoável se traduz em perda consecutiva de anos, por andarem a saltitar de curso para curso à procura do seu verdadeiro lugar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria de considerar no novo planeamento do ensino a criação de um serviço de orientação escolar, para que o aluno pudesse ser encaminhado num sentido mais de acordo com as suas aptidões.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Quanto ao ensino superior, para quem se debruce sobre os relatórios dos magníficos reitores das Universidades, logo ressaltam aos nossos olhos as coincidentes inquietações e as reclamações mais instantes formuladas pelos directores da totalidade das Faculdades. E assim é que se insiste, entre outros aspectos que adiante versaremos, na reforma do plano de estudos, de premente necessidade em relação a algumas das nossas Faculdades.
Bastará dizer que os que existem, por exemplo, nas Faculdades de Ciências têm, salvo pequenas modificações, praticamente 52 anos, e na Faculdade de Farmácia 31 anos. Daqui resulta encontrarem-se, como é evidente, desactualizados e ultrapassados pela natural e rápida evolução da ciência, nos seus múltiplos aspectos.
Sobre se o ensino universitário terá realmente carácter formativo, isto é, se dará aos que o procuram a mentalidade que é de desejar num diplomado com um curso superior, tivemos já um dia oportunidade de dizer que o problema se nos apresentava complexo. A resposta não poderá orientar-se numa direcção única e carece de ser condicionada ao que, fora da Universidade, se exige àquele diplomado.
Cremos poder afirmar, dizíamos então, que em quase todas as actividades se exige do ex-universitário capacidade suficiente para o desempenho das funções inerentes ao cargo que foi ocupar, e à consciência de quem ensina é posto o problema de criar, aos que procuram aprender, condições que tornem possível uma rápida adaptação às dificuldades da vida prática. O carácter formativo do ensino é, desta forma, um tanto sacrificado em benefício do aspecto informativo, menos propício, sem dúvida, à criação de um verdadeiro nível universitário.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Aprende-se e estuda-se, dizíamos também, para fazer exame, dedicando-se por vezes uma atenção um pouco mais intensa às questões que, de momento, se julga poder vir a utilizar no desempenho da actividade profissional.
O ensino encontra-se, de certo modo, adaptado a esta forma de encarar o problema, sem clima propício a criar condições de investigação, mesmo modesta, que permita o aparecimento do verdadeiro investigador. Mas a luta, voltamos hoje a repetir, trava-se contra esta situação quer da parte de muitos dos que ensinam, quer do lado dos que procuram aprender.
E é para os primeiros consolador, acrescentávamos nós verificar que neste ou naquele aluno há uma ânsia de ampliar conhecimentos, um desejo de ir além daquilo que se lhes ensina, procurando, num esforço próprio, desvendar aspectos desconhecidos, aperfeiçoar questões insuficientemente esclarecidas. Os exemplos, não sendo numerosos, permitem no entanto supor que em condições de trabalho favoráveis seria possível ir mais além, contribuir para uma verdadeira Universidade.
É na verdade de particular interesse a reorganização do nosso ensino superior, em ordem a torná-lo apto à chamada que o progresso técnico, científico e espiritual do País hoje lhe faz.
Fiel ao tradicional espírito genuinamente lusíada e cristão, de um país com oito séculos de história, imperioso se torna estender até ao grau superior de ensino a sua poderosa acção, impondo-se a restauração da Faculdade de Teologia, enquanto não seja possível, como indispensável e urgente, II criação de uma Universidade Católica, bem como a inclusão de uma cadeira de formação cultural cristã nas Universidades estaduais, embora de frequência facultativa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Outro aspecto de maior importância é o que respeita à formação política da juventude. Num pequeno artigo que lemos, da autoria de Osvaldo Aguiar, dizia-se, e com plena justificação, o seguinte:

Nos dois últimos anos do liceu consagra-se uma hora por semana ao ensino da organização política e administrativa da Nação. Ora nem o programa nem o tempo que se lhe dedica permitem o desenvolvimento nem a profundidade requeridos pela mentalidade dos finalistas liceais. Por isso, os princípios sócio-políticos, mal assimilados e pior alicerçados, são esterilizados pelo próprio espírito crítico do jovem ao defrontar-se com a problemática que a Universidade lhe levanta. E às perguntas que então formula nada o habilita a responder, porque, tirando o caso especialíssimo das Faculdades de Direito e do actual Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, nos programas das diversas Faculdades não existe qualquer cadeira - obrigatória ou facultativa - de ciência política.

Perfilhamos entusiasticamente esta opinião e formulamos os mais ardentes votos para que se pondere este transcendente aspecto, de maneira a integrar esses estudos nas próprias Universidades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A propósito destas breves considerações que vimos enunciando, ocorrem-nos estas palavras do Prof. Braga da Cruz, que não resistimos a referir:

Entendamo-nos, pois: ou continuamos a afirmar que um dos fins da Universidade é a formação cultural daqueles que hão-de vir a ser, como profissionais de primeiro nível, os futuros dirigentes da Nação, e não podemos amputá-la do direito e do dever de tomar posição no terreno ideológico, ou proclamamos a sua estrita neutralidade ideológica... e te-