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23 DE JANEIRO DE 1964 2973

A abolição das economias fechadas e o cessar das restrições ao processo natural das trocas veio dar novos horizontes à especialização profissional, como elemento de diferenciação dentro de indústrias concorrentes.
Ocupamos, no mundo do comércio e com aqueles países com quem temos mais afinidades, quer perante a E. F. T. A., quer perante o Mercado Comum, modestíssimo lugar de exportadores. Bem pelo contrário, o que importamos gera um desequilíbrio na balança comercial que atinge soma superior a 3 400 000 contos de déficit, apenas no 1.º semestre do ano findo, embora para ele concorram as elevadas verbas destinadas à compra de maquinaria para a instalação e reequipamento industrial.
Panorama triste sobre o qual um isento juízo crítico talvez nos não liberte de condenação mesmo que por negligência.
O espaço económico português e a inevitável integração europeia impõem-nos, além da reestrutura de organismos específicos, a criação do substrato que torne possível a expansão industrial, como meio único da nossa sobrevivência.
Esperam-nos dias de grande amargura se nos esquivarmos, por comodidade ou ignorância, a olhar de frente os problemas a resolver e não soubermos, ou quisermos, ter coragem de lhes estudar a adequada solução.
Não é só o apetrechamento e criação de infra-estruturas, mas, também e principalmente, a valorização profissional que nos permitirá encarar o futuro de modo prudente, todavia com esperança.
Mas, interessa frisar, essa preparação profissional para dirigentes e dirigidos não pode nascer de improvisações - coisa tanto a gosto do nosso carácter - nem de irreflectidos e vagos programas. A nossa época não se compadece de hesitações nem de tibiezas. Exigem as novas gerações que lhes sejam fornecidas possibilidades de instrução altamente especializada, pois entendem só ser viável o sucesso a partir de laborioso estudo do mister a que se dedicam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Apenas a escola pode garantir essas condições do êxito, porque é lá que se ministram os ensinamentos que a prática, também grande mestra da vida, se encarregará de dimensionar equilibradamente.
Urge, portanto, recuperar tempo e terreno perdidos. Urge tirar dos factos explicações, claras e inequívocas, a todos os porquês. Urge remediar, corrigir e até arrepiar caminho, se for caso disso.
Que se digam as razões dos rumos a adoptar sem peias, sem entraves e sem respeitos humanos. Creio que, em matéria económica, a melhor explicação é a verdade, dita sem artifícios nem colorações de conveniência.
Apesar de a realidade nos ser cáustica em determinados aspectos, estamos em situação não digo vantajosa, mas de modo algum desanimadora.
Precisando melhor o que acabo de referir, penso que depende essencialmente do nosso comportamento nestes tempos mais próximos o podermos antever com optimismo ou pessimismo o futuro.
O que sucedeu à Alemanha de 1945 tem bastante paralelismo com a nossa posição actual. Desmantelada a sua indústria por imposição dos vencedores, cedo viram, alguns destes, a necessidade de garantir a existência a um povo a quem pretenderam tirar as condições de trabalho. Pois bem. Esse povo apetrechou-se com a mais moderna maquinaria e, possuidor de invulgares qualidades de trabalho e de apurada especialização profissional, lutou e venceu.
Na fase actual da nossa conjuntura económica podemos tirar daí proveitosíssima lição. A indústria portuguesa está, efectivamente, a modernizar as suas instalações e maquinaria. Portanto, encontra-se, em princípio, no momento altamente favorável de poder ter posição de concorrência paritária nos mercados internacionais.
O surto de apetrechamento industrial que atravessamos tem a óbvia concordância e protecção do Governo, se bem que manifestada, por vezes, em demasiado tímida isenção aduaneira.
Há que aproveitar, com inteligente pressa, a situação presente, não permitindo que a distância a que estamos de outros países do nosso bloco nos transforme em seus satélites económicos.
Em todo o caso, pouco adiantará o apetrechamento industrial que, não raras vezes, com tanto sacrifício se vai operando, se não puder contar com operários e dirigentes capazes e conhecedores em profundidade dos sectores que lhes forem atribuídos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De nada serve a mais perfeita máquina desde que lhe faltem as mãos que lhe orientam o movimento e o cérebro que determina o seu esquema de produção.
Lado a lado com o fomento económico deve situar-se o quadro de educação que possibilite ou torne autêntica a exigência tecnológica do processo industrial.
Para tanto, reputo indispensável a programação de cuidada política educacional que melhor se coadune com o combate às deficiências que afectam a nossa instrução pública, ao mesmo tempo que lance bases susceptíveis de um maior apoio para o desenvolvimento especializado do ensino técnico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A política educacional que desejamos conservará o estatismo dos princípios julgados imutáveis ou insubstituíveis, mas é forçoso ter maleabilidade para evoluir, se actualizar, acompanhar o ritmo da vida e, mais do que isso, saber prever as tendências de modo a fomentar e conduzir nesse sentido a formação da juventude.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deverá ser tal que, em cada momento, faça a si própria honesto exame de consciência, medite o seu rumo e tenha exacta noção do ambiente em que se desenrola, pronta, portanto, a anular qualquer desvio entre o que se vem realizando e aquilo que é desejo alcançar.
Política educacional que convirá ser dirigida não apenas a facultar o acesso a um frio diploma, só por si inútil, mas a fazer aptos para a vida os estudantes, garantindo-lhes competência específica no curso escolhido e inculcando-os no zelo pelo trabalho, indispensável aos profissionais habilitados e cumpridores.
Peço humildemente perdão a VV. Ex.ªs, Sr. Presidente e Srs. Deputados, se tenho andado demasiado longe em matéria porventura julgada fora da ordem do dia. (Não apoiados).
Necessito, porém, das considerações feitas, até como justificação de um alvitre a apresentar.
Continuo firmemente convencido de que nos enfrentamos perante um problema que só a escola pode resolver: educação técnica.
Temos seguido um critério que me parece não ser o mais acertado para a nossa época. Com efeito, parte-se