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2974 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 120

do desenvolvimento regional para justificar a criação da escola.
Assim, é vulgar presenciarmos a reunião das chamadas «forças vivas» desta ou daquela terra com o intuito de implorar a dotação de uma escola técnica, encarecendo, como razão, o volume do comércio, indústria ou o valor agrícola do agregado.
Julgo não dever ser esta a política a seguir, porquanto está, a meu ver, errado o pressuposto inicial. Não pode ser o desenvolvimento a justificar a escola, mas sim o aparecimento da escola a criar condições para o desenvolvimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se pretendemos, com vontade, acertar o passo e fazer subir o nível económico-social, é necessário que o desenrolar dos factos se processe apoiado em rigor científico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por outras palavras, permaneceremos como até aqui se a expansão económica em cada um dos seus sectores preponderantes não for antecedida de consciencioso conhecimento profissional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dentro do que venho considerando, creio da maior utilidade a criação de escolas comerciais e industriais não só nos concelhos onde o expansionismo económico o determine, como ainda nas regiões que, potencialmente, se mostrem com aptidão para franco desenvolvimento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Convém, todavia, ter em conta que a dotação de escolas técnicas não deverá obedecer a um padrão igualitário, alheio ao ambiente onde se instalam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O sector económico predominante da região é que indicará a especialização dos cursos regidos. E na paisagem industrial metropolitana há diferenciação regional bastante característica, embora crescida em desequilíbrio que necessita de ser corrigido em mais equitativo planeamento.
Vivo numa região cuja indústria predominante é a têxtil algodoeira. Não se me podem levar a mal, portanto, as particulares referências que lhe dedicarei.
Das nossas indústrias transformadoras, a têxtil ocupa o primeiro lugar, quer pela quantidade de mão-de-obra ocupada, capital investido e potencial de produção, quer pelo volume exportado.
O aumento da produção, que se tem verificado em ritmo satisfatório, apenas foi superado, no período 1962-1963, pela Itália e Áustria, situando-se logo a seguir Portugal, cuja taxa de expansão atingiu 5 por cento.
Nos últimos anos os produtos têxteis têm vindo, em animadora subida, a marcar posição de relevo na nossa exportação. Posso esclarecer que no 1.º semestre do ano findo o seu volume representou 24 por cento do total das nossas vendas ao estrangeiro, com valor superior a 920 000 contos - mesmo depois de uma sensível contracção, nascida da fixação de contingentes de compra decretada pelos Estados Unidos.
Temos na indústria têxtil empresas, preparadas e em dimensão favorável para suportarem a concorrência da integração europeia. Apetrechadas em homens e maquinaria, seguem cuidada e progressivamente, impondo a qualidade dos seus produtos aos mercados mais exigentes e consolidando uma posição que muito nos honra.
Essa indústria viu-se forçada a mandar para outros países, frequentar escolas especializadas, os que hoje são responsáveis técnicos nas empresas. Por outro lado, e como há notória falta de profissionais qualificados, teve necessidade de recrutar numerosos estrangeiros, a quem paga generosamente para ser bem servida.
E todos os anos partem para a França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha dezenas de jovens em demanda de preparação, em Portugal impossível por falta de escola ...
Possuo dados respeitantes apenas a uma das escolas francesas, ou seja, a Escola Superior de Fiação e Tecelagem do Leste, situada em Epinal. Até ao ano de 1963 concluíram o seu curso e foram diplomados por essa escola 47 portugueses e frequentam-na, este ano lectivo, mais 9 alunos portugueses.
Visto que não é acessível a qualquer bolsa suportar a despesa de um estudante no estrangeiro, suponho aceitável argumentar dizendo do benefício que constituiria, para a indústria nacional, a criação de uma escola ou instituto têxtil, em nível complementar do ensino secundário, instalado com todos os requisitos específicos à matéria leccionada e servido por professorado de escol.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Dias das Neves: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Dias das Neves: - Creio que o problema nau se situa só na escola, mas também na mentalidade de alguns industriais. O ensino técnico esforça-se para criar cursos de especialização, a que os industriais não correspondem depois com o seu interesse. Interessaria pois também uma reforma de mentalidade dos industriais.
Posso dar o exemplo de um curso de técnico papeleiro que levou cerca de oito anos a tirar e que depois de criado não tem merecido dos industriais o interesse que seria de desejar, pois não têm procurado matricular os seus operários.

O Orador: - Devo esclarecer V. Ex.ª de que me refiro apenas à indústria têxtil. Dentro de momentos falarei também dos cursos que temos nas nossas escolas técnicas, ou seja, debuxador, fiandeiro e tecelão. Posso afirmar que estes têm sido amplamente aproveitados.

O Sr. António Santos da Cunha: - Na nossa região, como V. Ex.ª sabe muito bem, há a maior receptividade da parte da indústria para esses cursos a que V. Ex.ª se está a referir.

O Orador: - Assim é, Sr. Deputado Santos da Cunha. Alas, esclarecendo ainda mais o Sr. Deputado Dias das Neves, eu queria dizer que esse ensino ministrado pelas escolas técnicas tem tido aproveitamento ao nível de operários especializados, mas não de dirigentes. Uma coisa não tira o lugar à outra.
Mas, como vinha dizendo, creio bem que este último aspecto, o do corpo docente, não seria de difícil resolução, mesmo que se tornasse preciso o seu recrutamento inicial no estrangeiro. Seria, de qualquer modo, menos dispendioso do que a estada de tantas dezenas de estudantes portugueses fora do País.