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3002 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 122

meira vez, a máscara bem afivelada, ali, a dois passos de nós.

Já em 1920, no Esboço Preliminar das Teres sobre Problemas Nacionais e Coloniais, Lenine preceituava:

A Internacional Comunista deve apoiar os movimentos nacionais de índole dèmocrático-burguesa nos países coloniais ou atrasados, apenas com a condição (repare-se bem, Srs. Deputados!) de que os elementos dos futuros partidos proletários, nos países subdesenvolvidos, não sejam comunistas simplesmente de nome, se agrupem e se preparem para as suas missões especiais, ou melhor, para as tarefas de combater os movimentos burgueso-democráticos, dentro das suas próprias nações; a Internacional Comunista deve entrar numa aliança transitória com a democracia burguesa nos países coloniais e atrasados, mas não deve fundir-se com a. dita democracia, mas antes preservar incondicionalmente a independência do movimento proletário, na sua forma mais essencial.

Se enquadrarmos estas palavras bem significativas, com a primeira das instruções a cujo conjunto elas pertencem (todos os partidos comunistas devem ajudar o movimento de libertação burgueso-democrática nesses mesmos países), tornam-se elas perfeitamente claras, dentro da terminologia clássica dos maiores ideólogos marxistas e do objectivo supremo de toda a sua acção, um imperialismo à escala universal, em que os povos do Mundo inteiro encontram apenas a sombra da bandeira russa, a tremular no Kremlin, como profetizou Bakunine no seu Apelo aos Eslavos.
Na escalada contínua para este triunfo definitivo, disfarçou-se de todos os modos o fim último, com um vocabulário ambíguo, de sentido múltiplo, de que os termos já estafados de autodeterminação, nacionalismo, independência, são hoje acaso os mais significativos, com uma força mágica de sedução sobre os espíritos, até dos mais subtis. Mas já o mesmo Lenine definira, com inequívoca precisão, o primeiro destes conceitos, sobre que todas as outras coordenadas se traçam, ao chamar à autodeterminação «união dos trabalhadores de todas as nacionalidades».
O eufemístico desta expressão leninista patenteia-o, com toda a evidência, Estaline, em 1923, ao falar no Congresso do Partido, desta maneira bem expressiva:
Há casos em que o direito da autodeterminação se opõe a outro direito, superior, da classe trabalhadora que chegou ao poder, ao de consolidar o poder. Nesses casos (deve declarar-se abertamente), o direito de autodeterminação não pode e não deve constituir um obstáculo na realização do direito à ditadura da classe trabalhadora.
Tudo se processa numa autêntica tríade dialéctica: à tese que a autodeterminação impõe, recorrendo a todos os sistemas clássicos de agitação, contrapõe-se a antítese da independência (que temporariamente parece desviar a nova nacionalidade da órbita comunista), rapidamente subsumida na síntese final de uma integração violenta no sistema das repúblicas soviéticas. Como acaba de suceder em Zanzibar. Como se desenhara já, antes, no Ghana, na Guiné, na Argélia. Como parece estar a suceder no Tanganhica.

Passou a hora das concessões aparentes, Srs. Deputados; do jogo ardiloso das sombras chinesas, astuciosamente descrito por Lenine, num escrito significativamente chamado «Um passo adiante, dois passos atrás».

Os Russos, compreendendo, há muito, que a África é o prolongamento natural da Europa, lançaram-se ardorosamente à jornada leninista do caminho mais fácil para chegar ao nosso velho continente, o qual passaria primeiro pelo Ásia e pela África. A inequívoca rivalidade com a China continental está a precipitá-las na luta aberta, atirando pela barra fora com todos os disfarces.

Chu En-Lai andou a passear, do Cairo ao Quénia, a perigosa política oriental do sorriso. Por onde passou a revolução brotou logo, como flor sangrenta, dos seus passos. O Quénia começa a reeditar a aventura proibida do Congo ex-belga. A Etiópia e a Somália, acicatada esta pelos Chineses, aprontam-se para um conflito inevitável. O Luanda, antes oásis de progresso O catolicismo, regressa à lei da selva, mal alcançada a autodeterminação.
Rivalidades de fronteiras, carnificinas tribais, vinganças inauditas (como as dos novos donos de Zanzibar, queimando vivos os adversários políticos), começam a tirai-as últimas dúvidas à utopia do Ocidente, receoso de dar-nos razão, na nossa heróica teimosia de preservar a civilização, duramente atraiçoada, ao longo de quase toda a África.

Vozes: - Muito bem I

O Orador: - O golpe do Tanganhica, varrendo as ilusões do impossível «socialismo cristão» de Julius Nyerère, vem demonstrar, cruelmente, a espantosa imaturidade política da África Negra. Sobre ela caem, como abutres esfaimados, os Russos, os Chineses, os «barbudos» de Fidel de Castro, adaga de morte apontada ao coração da América do Norte, como se viu nos sucessos recentes do canal do Panamá (vingança imanente da verdade histórica à sua desventurada política de Suez, quando Israelitas, Franceses e Ingleses estavam preparados para arrumar de vez com Nasser, em poucos dias.
Precisamos de não perder a cartada, com os trunfos que temos, mais seguros que nunca, na mão. Do incêndio ressalta a nossa verdade, iluminada como nunca pelas chamas da tragédia. Estejamos atentos, dentro e fora das fronteiras. Mais que a Rússia, é a China que hoje seduz as novas nacionalidades africanas.
Os diplomatas de Mao Tsé-Tung não se cansam de proclamar à sua nativa ingenuidade que também eles, Chineses, eram um povo pavorosamente atrasado, sem indústria nem progresso social, e que, no espaço de vinte anos, se tornaram uma das mais poderosas forças do Mundo, prestes a construir a sua bomba atómica. Sente-se já o refluxo das vagas moscovitas a embater, crispadas, contra esta muralha da China, que Chu En-Lai andou a levantar, África fora.
Ai do Ocidente, ai de nós, se não soubermos explorar esta rivalidade, que o futuro, dia a dia, mais há-de carregar de tons escuros, interpondo-se entre eles, para varrer de miasmas o espírito sugestionável dos Africanos, reconhecendo, enfim, a altíssima sabedoria daquela eloquente palavra do Sr. Presidente do Conselho, quando, em 1961, na altura em que estalara o morticínio de Angola, afirmou que o abandono da África pelo Ocidente era um crime contra o próprio Africano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nós ficámos. Os últimos. Sem arredar pé. De cara descoberta sob o aguaceiro. Sós. Caluniados. Batidos por todos, até pelos amigos e irmãos...
Fomos a verdade erguida, teimosamente, ante a mentira. Sem dar-nos, ainda, razão de palavras, os espíritos começam a abrir-se aos caminhos que teimámos em manter abertos à luz, para que os outros pudessem ver depois.