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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 124 3076

grandes despesas de instalação, e teríamos, deste modo, instituído 110 ultramar mais um curso universitário que se torna indispensável e urgente.

E, por último, umas breves considerações sobre um aspecto do ensino que não diz respeito apenas ao ultramar.

Quero referir-me ao ensino do português, a que aludiram também alguns Srs. Deputados.

Sr. Presidente: estamos numa época que se caracteriza essencialmente pelo predomínio da técnica. Os valores materiais sobrelevam os espirituais, e disso se ressente também o nosso ensino, onde não são devidamente consideradas as disciplinas mais capazes de transmitir aos jovens os valores fundamentais da cultura e do espírito.

Assim, não se dá o verdadeiro apreço ao ensino do português. Esta disciplina, que devia ocupar no nosso ensino um lugar primacial, porque, além de levar o aluno a exprimir com exactidão e clareza os seus pensamentos, possui um elevado valor formativo, despertando-lhe o sentimento da beleza pela leitura dos escritores da nossa língua, está hoje desprestigiada pela própria estruturação do ensino e pelos programas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Fala-se muito em crise de cultura, em falta de hábitos de reflexão, em dificuldade de elocução e de redacção entre os jovens, mas não se procura encontrar as causas desse mal e remediá-las.

Eu penso que essas causas vêm de longe o se poderão atribuir à deficiência do ensino do português desde a instrução primária. E nesta que se encontram as raízes do mal que há-de progredir pela vida escolar do aluno até ao ensino superior.

Se quisermos elevar o nível cultural da nossa juventude, teremos de começar por rever cuidadosamente o ensino da língua portuguesa nas nossas escolas primárias e secundárias.

O ensino excessivo da gramática, tão sobrecarregada de uma nomenclatura que se torna difícil e inexpressiva para os pequenos alunos das classes primárias, que muitas vezes a aprendem de cor, o abuso da análise gramatical dos trechos em detrimento de uma leitura racional de apreensão do sentido, a pouca frequência dos exercícios de elocução e de redacção são as causas primárias da ineficiência do ensino do português.

Esta disciplina, que no 1.º ciclo dos liceus é dada em cinco tempos semanais, passa no 2.º ciclo a ser ministrada apenas em três tempos. Nos cursos complementares só os que seguem os cursos de letras são obrigados a frequentá-la. Do que resulta que os alunos das classes complementares de ciências perdem o contacto com o estudo da sua língua a partir do 5.º ano, onde podem mesmo não ter obtido aprovação nesta disciplina. Quer isto dizer que no nosso país se pode obter um curso dos liceus ou superior de ciências sem que se conheça suficientemente a própria língua.

Apenas aos que pretendem seguir o funcionalismo ou o magistério primário lhes é exigida a aprovação na disciplina de Português.

A dificuldade que o diplomado em Ciências muitas vezes experimenta ao ter de expor oralmente ou por escrito as suas ideias resulta, sobretudo, desta grave deficiência no ensino do português.

O Sr. Ubach Chaves: - V. Ex.ª, dá-me licença?

A Oradora: - Faz favor.

O Sr. Ubach Chaves: - A colega, como professora de Português, não acha que faz muita falta o ensino do latim ?

A Oradora: - Sem dúvida. Acho que o latim faz muita falta, mas é tão odiado que já nem queria falar dele.

O Sr. Ubach Chaves: - Enquanto não se ensinar o latim dificilmente se saberá português.

A Oradora: - O ensino do latim deverá fazer-se nas classes mais avançadas.

O Sr. Gonçalves Rodrigues: - V. Ex.ª, tem toda u razão nas observações que faz, mas simplesmente parece-me que o cerne da questão está no facto de não haver instituições de ensino superior em que se ensine a língua portuguesa.

As Faculdades de Letras seguem uma orientação histórica que não permite o estudo da língua portuguesa no sentido da formação de professores familiarizados com a didáctica moderna, esquecendo a língua como realidade viva para a considerarem por vezes apenas como objecto de mera investigação histórica, não por preferência pessoal dos professores, mas em virtude de uma orgânica de estudos defeituosa.

Portanto, o problema fundamental não está no facto de se verificar que nas escolas primárias e secundarias- se ensina mal o português, mas que não se preparam os professores nus Faculdades de Letras para esse ensino.

A Oradora: - Mas não há formação de professores nas Universidades.

O Sr. Ubach Chaves: - Uma série de males infindável.

A Oradora: - Enquanto noutros países se dá um valor tal ao ensino da língua pátria que os alunos não podem prosseguir nos estudos se nela não obtiverem aprovação, entre nós, não só o ensino da língua é reduzido em horas como se não distingue de qualquer outro.

Num momento em que se está a estruturar o ensino p a reformar os programas seria de considerar uma total revisão rio ensino do português nas escolas primárias e secundarias. Seria também vantajoso que se prolongasse o seu ensino, embora diferenciado do de letras, aos cursos complementares de ciências, dando-se assim possibilidade aos alunos destes cursos de se aperfeiçoarem no conhecimento da sua própria língua.

Que se dê, pois, à língua portuguesa o lugar relevante que merece no ensino, pois que ela é não só o mais forte elo a unir os cidadãos de uma mesma pátria, como também o elemento de elevação cultural e espiritual do povo a assegurar a perenidade da civilização e cultura portuguesas no Mundo.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Alberto de Meireles: - Sr. Presidente: este arejado debate, mormente por coincidir com o propósito de revisão i- planeamento geral da acção educativa anunciado pelo Sr. Ministro da Educação Nacional, constitui um alto serviço, que dignifica a Assembleia Nacional.

E vem de encontro a uma necessidade, política que em 1952 o então Subsecretário da Educação Nacional, e hoje