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3132 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 126

Entretanto, o para dar ao debate a amplitude nacional de que deveria revestir-se, a comissão poria à consideração do País, através das sessões periódicas de um congresso de educação nacional, os problemas mais candentes, apontando as soluções possíveis lá fora já propostas ou postas em prática, a fim de se estudar, sobre os dados estatísticos recolhidos, a solução mais conveniente, em função do crescimento demográfico e do desenvolvimento económico, mas sobretudo em função das exigências do futuro que queremos construir e havemos de construir para os nossos filhos, em nome do imperativo moral recebido das gerações.

O Sr. Pinheiro da Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Tenho acompanhado, como, aliás, toda a Câmara, o muito bem estruturado trabalho de V. Ex.ª e todos estamos convencidos da magnífica intenção que anima o espírito de V. Ex.ª Parece-me que lá para trás V. Ex.ª referiu-se ao de leve, como, aliás, convinha, a um problema que se me afigura de importância capital. Não posso naturalmente referir estatísticas, mas de certo modo posso garantir que no resto da África actualmente soit-disant independente assiste-se a um movimento intenso de educação em massa das populações.
Escusado será dizer que a orientação dessa educação, pelo menos por enquanto, não pode ser favorável aos Portugueses. Por isso creio que temos realmente de estugar o passo para que não sejamos ultrapassados dentro um breve. Não tenho dúvida alguma de que no passado (e passado bem recente) nós fomos sem dúvida alguma, repito, os que melhor trabalhámos para a educação das populações ultramarinas, mas a verdade é que agora assistimos a um caminhar muito lento, em face do novo condicionalismo que o mundo político nos oferece.
Quero felicitar V. Ex.ª não só pela sugestão que deu como por ter-me proporcionado a oportunidade de alto e bom som também exprimir as minhas preocupações a respeito e chamar a atenção do Governo para esse problema, que se me afigura merecedor de uma atenção apurada e rápida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Devo dizer a V. Ex.ª que a Nigéria, ao tratar do seu problema educativo, pediu a Sir Eric Ashby, uma das maiores figuras universitárias de Inglaterra, que presidisse a uma comissão para esse efeito. Elaborou um relatório intitulado «Investment in Education», que, partindo do ensino universitário, concluía não ser possível fazer obra de monta som se proceder a uma reforma geral do ensino. Sei que em Angola e Moçambique e em outras províncias ultramarinas se está a trabalhar, e muito bem, em certos aspectos. Simplesmente quis focar aqui a desarticulação total em que vivemos.

O Sr. Burity da Silva: - Eu não posso deixar de prestar também a minha inteira concordância, relativamente às preocupações que V. Ex.ª manifestou em relação ao nosso problema, do ensino. Problema que tem, realmente, aspectos muito sérios, em face da evolução do ensino que verificamos hoje em toda a parte, e muito especialmente em África. Mas seria injusto comigo mesmo se não deixasse aqui uma palavra de estímulo, de apoio, pelo esforço tremendo e pela grande vontade que se verifica em Angola no sector do ensino, para se dar uma maior aceleração, esforço que, apesar das nossas deficiências, das nossas dificuldades, da necessidade imperiosa de se estruturar em formas mais adequadas à época, não deve ser ignorado.
Pude constatar isso ainda há um ano, quando fui a Angola. E verifiquei, realmente, que há uma vontade enorme e se está a trabalhar intensamente no campo do ensino. As minhas preocupações são as de V. Ex.ª e as da Nação. Temos de actualizar-nos, temos, realmente, de acompanhar a evolução do Mundo no ensino, temos de adaptar as normas de ensino aos processos que já fizeram escola em relação ao ensino no ultramar. O nosso esforço é grande, mas tem de ser muito maior e ter em atenção, acompanhando-as de perto, as estruturas do ensino.

O Orador: - É algo de parecido com isto que se pretende fazer? Se é, por que se cala esse propósito? Se não é, para que iludir o País e as gerações novas que neste momento dão tudo, na dor da renúncia e na alegria de um sacrifício plenamente aceite, do qual seria sacrílego escarnecer? Que futuro vamos nós construir para esses rapazes que viram «claramente vista» a verdadeira dimensão espiritual e física do mundo luso-tropical, integrado na harmonia da tradição cristã com a doce, amorosa familiaridade portuguesa? Que garantias vamos oferecer às multidões nativas, legitimamente ávidas de promoção social através da educação, como aquela que em Angola eu VI em demonstração de afecto, que foi como que diástole da sístole do Terreiro do Paço, naquela tarde inesquecível de 27 de Agosto?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Portugal ergue-se em armas para defender-se a si e à civilização. Mas o esforço ingente que a providência de nós reclama só terá sentido se for total. A economia não pode ficar atrás da defesa, nem a educação pode ficar atrás de uma ou de outra. Espada e charrua hão-de ser conduzidas por cérebros apetrechados de todas as noções e capacidades desejáveis, mas informados por um espírito sadiamente integrado na compreensão dos valores sobrenaturais e terrenos que conscientemente aceita e o conduzem na acção.
A mobilização do País para a educação torna-se assim uma tarefa inadiável. Mas uma mobilização cautelosamente preparada. É preciso pensar - mas primeiro é preciso ter sobre que pensar. Ora o pensamento que não incida sobre generalidades e abstracções, ao tratar de matéria social tão delicada como esta, tem de exercer-se sobre realidades averiguadas; e entre nós está praticamente tudo por averiguar.
Pensar assim é levar a inteligência a actuar no vácuo, exibir perante o País maravilhado jogos florais e fogos de Bengala, sem a menor incidência sobre os dados concretos deste angustioso problema nacional.
Num país em que não há estatística escolar, nem professores bastantes, e em que mesmo esses poucos fogem da profissão em busca do mínimo que ela lhes não dá; onde não existe literatura pedagógica nem debate público e o divórcio entre a escola e a sociedade atingiu proporções abismais; num país em que não há investigação nem experimentação pedagógicas e há dezassete anos se fala naquela manhã de nevoeiro em que há-de ser criado o Instituto Superior de Ciências Pedagógicas; em que passam decénios sem que as estruturas oficiais se ajustem às modifica-