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3250 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 130

sãs possibilidades provenientes do material recebido por conta das reparações da guerra de 1914-1918, os técnicos de todo o País sentiam a ineficácia dos seus esforços e a falta dos indispensáveis meios de acção.
A Campanha do Trigo, além de outros méritos, fez reacender no espírito dos técnicos e dos lavradores a chama do entusiasmo, operou a sua aproximação e foi verdadeiramente notável a dedicação com que todos se lançaram no desempenho de uma missão para a qual lhes não faltava nem fé nem confiança, nem apoio moral.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vivia-se então um período semelhante ao actual no respeitante à carência de técnicos, tendo sido necessário chamar a colaborar na Campanha os alunos dos dois últimos anos do curso de Agronomia.
Linhares de Lima conhecia a psicologia humana e sabia, com a sua palavra sempre afável e confiante, captar simpatias e incutir entusiasmo, colhendo em troca a devoção de que necessitava para realizar o objectivo inspirador da Campanha.
O resultado, Sr. Presidente, conhece-o V. Ex.ª e conheço-o eu, assim como todos os que viveram essa época; mas os que presentemente têm o privilégio da juventude só por informações ou leitura dos escritos do tempo se podem aperceber da amplitude dos resultados conseguidos.
As produções passaram de 275 337.t, como média anual do quinquénio de 1925-1929, para 440 076 t no período de 1935-1939. Foi assim possível reduzir substancialmente o dispêndio de divisas, o que permitiu ao grande obreiro da reconstrução financeira e económica do País, que nessa altura sobraçava a pasta das Finanças, dar impulso ao seu plano de acção.
Recordo-me de que num dos seus magistrais discursos, proferido quando se adquiriu a primeira unidade para renovação da nossa marinha de guerra, afirmou - e estas palavras têm um significado que importa recordar:
Para que pudessem sulcar os mares navios portugueses, foi preciso que a charrua sulcasse mais extensamente, e melhor, a terra pátria, poupando à Nação largas somas do seu ouro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tive a honra de pertencer a esse grupo de técnicos que deram o melhor de si mesmos, em esforço tenaz e em actividade construtiva, ao êxito da campanha. Fi-lo no exercício do cargo de director do Posto Agrário de Elvas, que desempenhava havia três anos e a que vi acrescentada a chefia da brigada técnica dessa região agrícola.
Falo, portanto, com conhecimento de causa e com a segurança que me dá a circunstância de ter começado a minha vida oficial como soldado das primeiras linhas e tomado parte nessa batalha criadora.
Não posso, assim, compartilhar da ideia, criada com alguma superficialidade em espíritos talvez insuficientemente esclarecidos, de que a Campanha do Trigo não foi benéfica para a economia nacional. A Campanha do Trigo cumpriu a sua missão e não tenho dúvidas em afirmar, volvidos 34 anos, que cumpriu bem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando se considerou que a sua 1.ª fase estava alcançada e que, dentro, aliás, do princípio da intensificação definido no relatório do decreto orgânico, se devia passar do ponto de vista unilateral para uma acção de conjunto, o que era facilitado pelo treino já adquirido, o próprio autor da Campanha do Trigo transformou-a em Campanha da Produção Agrícola, iniciada em 1931-1932.
Mas, mesmo antes dessa transformação, já tinham sido aprovados programas para outras campanhas, como a da fruta, a do leite e lacticínios, melhoramento e intensificação da cultura da batata, olivais e azeites, campanha da vinha e do vinho.
É evidente que aquela linha de orientação exigia disponibilidades superiores às da Campanha do Trigo e uma orgânica diferente, pelo que, passados poucos anos, a campanha foi integrada na Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, através da reforma do Ministério da Agricultura levada a efeito em 1936 pelo Dr. Rafael Duque, tendo nessa altura sido criada a Estação Agronómica Nacional, organismo ao qual se confiou a investigação científica.
Em 1938 o mesmo Ministro publicava a Lei do Povoamento Florestal, primeira medida tomada no sentido de uma arborização das dunas e dos baldios sem aptidão agrícola, e em 1942 criou a Estação de Melhoramento de Plantas, que tinha por missão obter novas variedades de cereais e forragens mais ajustadas às nossas condições ecológicas e com valor económico superior ao das que então se utilizavam.
Várias medidas foram tomadas no sentido de se substituírem algumas culturas e intensificar outras, por forma a conseguir-se melhoria económica e produtividade mais adequada.
Podemos dar alguns exemplos: a intensificação da cultura do arroz com resultados brilhantes, pois permitiu o auto-abastecimento até há poucos anos e mesmo apreciáveis exportações; o fomento da cultura do cânhamo, que deixou de se importar; os pomares industriais; expansão da cultura do linho no Norte do País, de tão evidente utilidade; os campos experimentais de culturas de sequeiro, e os ensaios de cultura com plantas industriais, designadamente a beterraba sacarina e o tomate.
Surgiu a segunda guerra mundial e, muito embora tivéssemos podido ficar fora do conflito, graças a uma política conduzida com excepcional visão, vivemos o clima de guerra, com as suas consequências. Houve necessidade de lançar mão de todos os recursos e tomar medidas que atenuassem as dificuldades do momento; por isso se lançou a Campanha de Produzir e Poupar, da feliz iniciativa do Subsecretário de Estado da Agricultura Prof. André Navarro.
Circunstâncias diversas, entre as quais figura com maior importância o estado de guerra no Mundo, conduziram a perturbações e atrasos na realização das intenções projectadas. Daí as deficiências que hoje se apontam e os critérios de apreciação que classificam de erro uma acção que serviu adequadamente o progresso agrícola e os interesses do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Só se pode apreciar com justiça o passado quando se conhecem pormenorizadamente os seus aspectos e o clima em que os factos se desenvolveram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As condições de então eram bem diferentes das actuais e grande parte dos conhecimentos de que hoje dispomos não existiam.