O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

19 DE FEVEREIRO DE 1964 3257

os aspectos comerciais que estas cooperativas teriam de encarar com decisão.
Chega-me a notícia de que no distrito de Bragança surge algo de novo na organização e protecção da agricultura, devido ao dinamismo de um antigo ornamento desta. Assembleia.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Pelo que toca aos restantes produtos, especialmente a batata e as frutas,- continuam eles à mercê de intermediários indesejáveis, que deixam nas suas mãos aquilo que à lavoura pertence de direito.

O Sr. Rocha Cardoso: - Muito bem!

O Orador: - Por vezes, lá surge uma panaceia para atenuar estes malefícios, como aconteceu, ultimamente, com a batata, embora não lhe fosse fixado um preço mais remunerador, como era de esperar, dado o custo da produção e a melhoria dos salários.
E porque de panaceia se trata, chega quase sempre tarde, já porque a lavoura, vivendo o seu fatalismo, não contava com ela, já porque, por necessidade de satisfazer compromissos inadiáveis e para sua própria manutenção, teve de se entregar às mãos dos especuladores de suas próprias infelicidades, chegando a vender o produto por preço inferior ao que custou a sua própria cultura.
Efectivamente, no ciclo económico actual, todos entendem dever tirar lucros compensadores, excepção feita ao lavrador, que deu o capital-terra, sementes e adubos e o capital-trabalho, forçado a vender por baixo preço, para outros, que nada arriscaram, levarem o melhor lucro.
Por maiores economias que o produtor de batata execute, não consegue obter um quilograma de batata por menos de
Já pode considerar-se feliz quando vende a 1$, pelo que o diferencial .de venda para o preço da produção nem sequer supre as necessidades do próprio agregado familiar.
Entretanto, sejam quais forem as flutuações de preços na lavoura, o consumidor continua a pagar o produto pelo mesmo preço, para satisfação dos interesses de toda a cadeia de intervenientes entre o produtor e o consumidor.
Certo que as cooperativas de produção podem resolver, em grande parte este problema terminar, assim, com a actuação destes intermediários em ostensiva e imoral negação de uma apregoada economia dirigida.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Mas, até aqui terá o próprio Estado que intervir, já que,
tratando-se de um princípio novo para muitos, necessita de ser orientado e explicado aos interessados, até que eles adquiram consciência do seu préstimo e possam afastar a natural desconfiança resultante da pouca ou inadequada protecção que lhes tem sido dispensada.
E se da batata passarmos às frutas, encontram-se os mesmos inconvenientes, possivelmente agravados pela existência de uma organização que parece ter como principal função o enriquecimento de uma nova classe, apelidada pomposamente de «mandatários».
Os serviços oficiais lançaram a campanha de plantação de árvores frutíferas, o que, em princípio, está certo, já que o nosso agro, especialmente em certas regiões, se revela apto a produzir excelentes frutas.
Porém, a campanha da plantação não foi acompanhada, em igual ritmo, da campanha de colocação das frutas.
Daí advém um excesso de produção de que só resulta o já falado enriquecimento dos intermediários, aproveitando-se à maravilha da intensa oferta, que provoca preços irrisórios, para evitar uma perda total do produto.
Há anos falou-se na instalação de armazéns frigoríficos destinados a armazenamento de frutas, que conservassem a sua sanidade e servissem, ao mesmo tempo, de reguladores indirectos dos preços.
Recordo-me do alvoroço com que a notícia foi recebida na minha região, produtora de frutas excelentes, julgando-se que o problema ia ser resolvido.
Assim se determinou e as brigadas de técnicos apareceram para a escolha do terreno onde construir o armazém, mas a verdade é que tão salutar determinação ainda não foi executada até ao presente, com grave prejuízo para a lavoura.
Daqui se pode concluir que o mal maior que aflige a lavoura nortenha não é propriamente a falta de medidas apropriadas, mas, sobretudo, a sua inexecução ou demora da execução.
Do organismo controlador do mercado de frutas guardo a desagradável impresão que me causou ter rejeitado a um pobre rendeiro, há anus, 1300 kg de batata, em
10 000 kg que lhe foram enviados, e cuja rejeição só foi comunicada ao produtor 45 dias depois, com a informação de que a batata rejeitada tinha sido distribuída pelas casas de caridade do Porto.
A organização resolveu, nesse ano, fazer caridade por conta alheia, distribuindo por velhos e doentes batata considerada pela organização imprópria para consumo, sem ter a caridade mais compreensível dê perguntar ao pobre produtor qual o destino a dar ao produto rejeitado, pois este não fugiria às despesas do retorno para as dar a comer aos animais que criava.
Ainda há bem pouco tempo uma revista oficial reconhecia a necessidade de uma organização racional do mercado de frutas.
E acrescentava:

Onde não há normalização, a ausência do critério da qualidade prejudica a rapidez e honestidade das transacções e suscita numerosos litígios prejudiciais às boas relações que devem vigorar entre vendedores e compradores.

Desde há muitos anos que tais anacronismos existem.
No entanto, não se deu um passo decisivo para a solução imediata do molestar criado nem para a valorização de um produto cuja cultura se aconselha intensivamente.
E, contudo, não faltam os estudos oficiais sobre o problema, crendo, para mim, que seria, por vezes, mais profíqua a acção do que a abundância de literatura.
Ora, se os departamentos governamentais têm a honestidade de reconhecer que produtos fundamentais à alimentação do homem estão a sofrer uma desvalorização, não obstante o aumento do custo de produção, há que encarar, e já, a valorização forçada desses mesmos produtos, para evitar a maior ruína daqueles que se dedicam à tarefa de os produzir.
Não pode essa gente esperar pela reorganização geral da agricultura portuguesa, baseada na adaptação dos solos às culturas de maior rentabilidade, até porque obra de tamanho vulto é sempre morosa.
Demais, afigura-se que esses trabalhos de adaptação virão criar problemas humanos de grande monta com a