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22 DE FEVEREIRO DE 1964 3335

Não serão, todavia, os clamores a que acabamos de nos referir de origem semelhante aos que se levantam a partir de outras regiões agrárias do mundo civilizado?
Não será assim este concretamente, guardando é claro a relatividade de posições, o caso dos cerealicultores e - dos cultivadores de algodão dos Estados Unidos?
Toda a política americana de protecção à agricultura, transferindo para a nação, a partir de certo momento, os encargos consequentes dos deficits permanentes de inúmeras explorações agrárias cerealíferas e algodoeiras, não terá tido, de facto, o mesmo fundamento económico?
E os desastres confessados, além dos não confessados, pelos responsáveis das explorações colectivistas russas ou chinesas não virão demonstrar que a crise das actividades rurais ainda se torna mais grave quando se aniquila ou se estiola, a iniciativa privada por via do um dirigismo exagerado?
E mesmo em referência à agricultura excepcionalmente evoluída, debaixo do ponto de vista técnico, da Europa ocidental, a crise que atravessa presentemente e que ameaça fazer ruir os próprios alicerces do Mercado Comum, não virá também denunciar idênticos pontos de partida quanto à origem dos desequilíbrios agrários já denunciados, isto é, que a produtividade não poderá nos domínios do agrário evoluir com a mesma celeridade que se tem verificado no sector das indústrias?
E já não falo do que se passa quanto à, crise do agrário para lá da «cortina de bambu» porque para essas bandas, das índias e Indonésias e que jau dos, domina uma escravatura de fácies semifeudal em que o empresário não conta mesmo ou tem em pouca conta a saúde moral e física dos seus empregados, quer no ambiente dos campos, quer no das oficinas.
Isto quanto a aspectos mais salientes.
E bastará aprofundar um pouco mais esta análise para virem então à tona do conhecimento inúmeros outros desequilíbrios, cujas causas não diferem muito das já denunciadas. Será assim o caso, por exemplo, da crise de fruticultura norte e sul-americana. consequente, em parte, depois da guerra, do aparecimento de novos e perigosos concorrentes nos dois hemisférios, e ainda o da avicultura do novo mundo, colocada em presença, nos grandes mercados consumidores, da progressiva indústria avícola europeia, especialmente da alemã e da dinamarquesa, etc.
A agravar todos estes males que atingem a cultura da terra, a indústria agrícola, por índole o natureza, falha de maleabilidade e de reflexos rápidos, luta com o evoluir imprevisível de novas modas impostas pelos ditadores da «arte de bem comer» e «de bem vestir» o ainda com as correntes de sucedâneos que surgem a cada momento nos mais variados domínios, como no do plástico e de outros sintéticos oriundos do trabalho do homem no vasto sector da química industrial.
Fibras sintéticas substituindo, por exemplo, em escala incomensurável, lãs, sedas e algodões e até flores de plástico, deslocando das jarras aristocráticas e plebeias rosas, cravos, tulipas e orquídeas; material isolador sintético ocupando na construção civil o lugar tradicionalmente reservado à cortiça, já não falando das rolhas de milhões de garrafas; aglomerados e aglutinados diversos, com ou sem colas, retirando as madeiras dos seus usos típicos. E digamos, à laia de previsão, a própria substituição de lautas e - completas ementas, que já se antevê, por sintéticas pílulas contendo, à base de algas, tudo o que uma agricultura diversificada poderia fornecer a uma humanidade com gostos e costumes dos mais variados c exigentes.
Eis, assim, alguns dos aspectos mais característicos das preocupações que afligem o empresário agrícola contemporâneo, e, como vemos, há uma quase identidade do posições quanto a causas das maleitas agrárias, entre povos evoluídos e não evoluídos, entre populações insulares e continentais, entre indígenas de novos e de velhos mundos!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A crise agrícola é, assim, como parece ser, de facto, um fenómeno de carácter geral, fonte contínua de preocupações e que atinge quase todos os povos da terra.
E à medida que o homem, no uso e abuso do solo, delapida o seu potencial produtivo, que o emprego da máquina intensifica, mais se agravará a crise que atinge o cultivador da terra.
Se, por um lado, as sobreproduções regionais originam crises graves, as subproduções, mais generalizadas, derivadas da pobreza do meio ou da deficiência dos meios de produção, geram crises ainda mais graves. E de ambos os aspectos temos tido, em Portugal, exemplos de tais maleitas e, digamos, encontrado também, na nossa organização, paliativos para as atenuar.
Vejamos, então, depois destas palavras prévias qual seria o sumário da nossa intervenção, para se poder adaptar ao espírito que presidiu à apresentação do aviso prévio em causa e será talvez agora também mais fácil definir os limites que propomos para a nossa análise.
Dentro desta finalidade, sejam os seguintes os títulos do sumário da nossa intervenção:

1. Os males que afectam a cerealicultura da comunidade lusa;
2. A pecuária, fonte muito rica de possibilidades, mas, inexplicavelmente, abandonada ou desprezada nos planos de fomento agrário das actividades nacionais;
3. A fruta como fonte de riqueza nacional de excepcional valia na valorização de zonas circunscritas, mas extensas, do nosso território;
4. A viticultura industrial de produtos de qualidade e de baixo custo de produção, como sector a desenvolver nas zonas alentejanas de mesologia propícia para estes cultivos, especialmente onde se pensa realizar evolução profunda de reconversão agrária;
5. A silvicultura considerada como solução ideal para corrigir desmandos do homem no uso e no abuso da terra, e como fonte valiosa de réditos em extenso território, quer do temperado, quer do tropical. Sua influência dominante no equilíbrio da natureza e na economia das explorações agrárias;
6. As culturas tropicais de larga projecção no mercado mundial; Como realizar o seu condicionalismo por forma a evitar que flutuações periódicas de preços, nos grandes mercados mundiais, atinjam intensamente a economia dessas regiões;
7. A motorização e mecanização, grave maleita do agrário dos países de terra pobre, e, finalmente, problemas de crédito, de assistência técnica e de extensão agrícola, como base do sucesso ou causas do insucesso das iniciativas a levar a cabo nos domínios da agricultura dos países mediterrâneos.

O problema do pão digamos por outras palavras, o dos cereais panificáveis. é um dos que mais preocupam, e com toda a pertinência, os responsáveis pelo desenvolvimento económico do País, pois ele atinge, em extensão de ter-