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22 DE FEVEREIRO DE 1964 3337

Assim, não teve outra origem o decréscimo acentuado da produtividade das grandes zonas cerealíferas norte-americanas, despertando ainda, como reflexo de desequilíbrios da natureza devidos a cortes abusivos das florestas, uma vaga gigantesca de infortúnios nesse grande e progressivo país. Este é o caso das cheias catastróficas dos seus principais rios e das tempestades de pó, levando a esterilidade superfícies infindas, outrora férteis territórios de pão e de carne.
Assim, insisto, não foram apenas os países de imo caro os que lutaram pela extensificação da cultura dos cereais. Outros houve que também o fizeram, embora, é certo, com outra finalidade. E quer nuns casos, quer noutros, as nações tiveram de suportar as delapidações que o exagero da extensificação determinou. Que sensatos foram assim, na realidade, os velhos e laboriosos cultivadores do sequeiro português, quando defenderam, contra inovações ainda não suficientemente experimentadas, a «atitude agrária» do pousio mais ou menos prolongado das suas terras.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - E isto na luta pela integridade de um capital que, uma vez delapidado, leva gerações e gerações a reconstituir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não deixo também de lembrar, para esclarecer melhor o panorama do passado e do presente. em relação a este complexo problema, os enganadores resultados a que poderão conduzir indiscriminadas campanhas de motorizacão das lavouras, em territórios em que a ardência dos climas queima, rapidamente, a matéria orgânica que estrutura e fertiliza as terras.
Este panorama que, nas linhas gerais, acabamos de desenhar leva-nos a admitir que, esgotados os solos mais ricos das terras negras russas, balcânicas e americanas do Norte e do Sul, novos escalões de terras menos férteis terão de ser lançadas no cultivo de cereais panificáveis. Assim, julgo sensato o caminho que preconizamos de introduzir, mais largamente, nos solos menos férteis, a cultura do centeio, base de um futuro pão popular. E como forma de fixação de braços e de melhor aproveitamento de mão-de-obra e consequente acréscimo da produtividade do trabalho, impõe-se paralelamente, a divulgação, nos territórios mais adequados do Sul metropolitano, da fruticultura e da viticultura; a primeira modalidade, especialmente, a partir de espécies mais aptas para a secagem e outros aproveitamentos industriais e a segunda à base, fundamentalmente, de castas de mesa, precoces e de meia estação, ou de variedades próprias para a indústria de sumos de uva de alta qualidade.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - Quanto aos solos pedregosos de nulo interesse arvense ou frutícola, seriam valorizados, então, pelo revestimento florestal, utilizando para tal conforme as regiões, carvalhos, pinheiros ou eucaliptos, procurando completar com espécies apropriadas as respectivas associações botânicas, por forma a garantir a melhoria da fertilidade dos solos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Procedendo desta forma, o País assistiria a uma reconversão lenta e gradual, mas segura, sem diminuição apreciável das áreas dedicadas à cultura cerealífera, que iria ocupar os territórios onde a cultura poderia ser efectuada com riscos muito menores, especialmente ao Norte e Centro litorais.
Quanto ao regadio, alimentado pelas grandes obras de hidráulica agrícola em execução no Alentejo e pelas pequenas albufeiras que se poderão multiplicar largamente em diferentes regiões do Sul do País, terá, certamente, económico aproveitamento a partir da horticultura o da floricultura nos seus mais variados aspectos e de uma cultura forraginosa que seja apoio de uma pecuária intensiva, bem como ainda de cultivos de plantas industriais.
O sucesso desta planificação dependerá, contudo, em grande parte, da resolução dos problemas de extensão agrícola e de assistência, técnica, bem como da racionalização do crédito, aspectos que versarei noutra altura desta intervenção.
Mas não só do pão vive o homem ...

O Sr. Pinto de Mesquita: - Mas sem ele também não vive ...

O Orador: - ... Este conceito é slogan de todos os tempos e também dos actuais tempos.
Na realidade, atendendo ao menor valor nutritivo do pão hoje fabricado segundo os ditames da moda fixada pelos ditadores da «arte de bem comer», é slogan que tem, na realidade, sério fundamento nutricional.
Contudo, mesmo o pão fabricado com as características do antigo pão caseiro de. farinhas de ramas é incompleto como alimento único. E por isso é também de todos os tempos o completar tão precioso alimento com vários adjuvantes, entre os quais sobreleva, pelo seu valor alimentar, a proteína animal - carne, peixe, ovos ou leite, variando o seu uso conforme possibilidades de aquisição e gostos tradicionais dos povos.
Compreende-se, assim, que andem intimamente associados os problemas das produções de cereais panificáveis e o das proteínas de origem animal.
País, como o nosso, com territórios espalhados pela montanha, pelo planalto e pela planície, indo do temperado frio ao quente e do subtropical ao tropical e equatorial; territórios, ainda, acentuo, banhados sempre por um oceano, fértil em espécies ictiológicas. não deveria haver dificuldades de maior em resolver o caso do deficit de proteínas na alimentação das- classes menos abastadas do País.
Contudo, contra o que seria de esperar, uma das circunstâncias que mais têm debilitado sectores extensos de população continua a ser, de facto, a baixa capitação deste alimento nas respectivas ementas.
E a causa deste defeito tem sido sempre o preço elevado da unidade proteica em relação ao poder de compra do português menos abonado, branco ou negro. Isto é a conclusão geral a tirar da análise deste problema, certo que em diversos casos particulares haverá também falta de conhecimentos dietéticos entre a gente menos culta. Mas estes casos particulares não invalidam o geral.
O quebrar, pois, deste círculo vicioso - não se consumirem, na escala devida, proteicos de origem animal, pela circunstância de o baixo poder de compra do consumidor não o permitir, e não se conseguir reduzir o custo de produção destes alimentos por o baixo consumo não facultar o conveniente dimensionamento. económico das empresas produtoras - só poderá conseguir-se, na realidade, pela melhoria do poder de compra dos trabalhadores, função do acréscimo de produtividade do trabalho.
E isto em todos os sectores - primário, secundário ou terciário.