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3342 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 133

atrás, o do sisal, hoje, de novo, felizmente, em situação económica mais desafogada. Trata-se, porém, de actividades relacionadas, intimamente, com uma economia de mercado e, como tais, sujeitas aos riscos de sensíveis flutuações de preços, nos grandes centros consumidores internacionais. E estes dependem de inúmeros factores, que vão desde o político - é o caso do preço do açúcar, influenciado pela quebra e desvio da produção de Cuba para mercados do Oriento, que não eram os seus tradicionais; o meteorológico, que se pode anotar em relação ao mercado do café, em que a alta de valores é largamente influenciada pela diminuição da produção de certos grandes produtores, como o Brasil, sujeito, periodicamente, à acção devastadora de geadas; e será ainda, pelos tempos fora, o factor relacionado com o aparecimento de novos produtos de substituição - caso típico de algumas fibras vegetais; e agora, com evidência, o factor sanitário, posto em realce em relação ao tabaco.
Estes e outros aspectos similares são assim de moldo a aconselhar que imo se insista no erro de fundamentar a actividade agrícola de uma região, pequena ou vasta, numa só cultura, com um. único destino.
Assim, no Congo, o café deveria ser já acompanhado, no ordenamento económico, pelas frutas, com especial relevo da cultura de bananeira e da noz de caju, esta nos territórios do litoral; pela floresta, com aproveitamentos vários do lenhoso o produtos de secreção - látex e outros; pela horticultura e floricultura industriais, não esquecendo que muito do que só produzisse para o mercado externo teria também apreciável interesse no abastecimento do principal centro urbano da província de Angola - a cidade de Luanda.
Como esta, muitas outras exemplificações poderiam ser apresentadas, caso o tempo consentido, e que corre célere, pura esta intervenção parlamentar o facultasse. Não deixo porém de citar, e apenas como nota passageira, que, em relação ao cacau de S. Tomé, não seriam apenas culturas a conjugar na economia desta maravilhosa ilha, a aliviar a crise consequente da baixa das cotações internacionais do cacau, e essas seriam várias nos domínios da fruticultura, da horticultura e da floricultura, mas também a instalação, nessa ilha, de indústria, devidamente dimensionada, que pudesse valorizar melhor o produto e o trabalho português. Não continuaríamos, assim, a incluir apenas, no produto nacional, o valor do cacau exportado e pouco mais, e este seria, significantemente, acrescido pela retribuição do trabalho do operário português incluso em várias especialidades exportadas. E não faltariam, em S. Tomé, os diversos produtos complementares que hoje valorizam a indústria do chocolate.
Mas passemos adiante e digamos algo, agora, muito pouco, é curto, sobre o complexo problema da motorização e da mecanização da lavoura. Esta aparece, perante muitos entendidos, como fórmula mágica para reduzir custos e aproveitar ensejos da terra, especialmente quando esta é muito volúvel em desejos e exigências, que é o caso genérico dos solos portugueses da metrópole e do ultramar.
Mas a motorização e a mecanização da agricultura, é bom não esquecer, é uma faca de dois gumes, e qual deles o mais afiado, diremos!
Há, de facto, melhor aproveitamento de ensejos e redução de custos quando a dimensão de exploração o faculta, tendo em atenção a subida já significante do salário agrícola, não acompanhada pelo acréscimo de produtividade do labor da mão-de-obra rural. Mas, como infelizmente a contabilidade das explorações agrícolas não está, normalmente, apta a definir, com rigor, custos de várias operações, cometem-se, por vezes, graves erros de apreciação de valores, e então no sector de uso da máquina eles são muito frequentes. E digo frequentemente, porque não se considera, normalmente, a amortização de um equipamento sujeito a delapidação rápida com o uso, especialmente em terras fortes e pedregosas, aspectos muito comuns no agro português, como também o aparecimento contínuo de novos modelos, considerados mais eficazes, ou, pelo menos, mais dentro dos ditames da moda.
Agora o outro gume, que disse não ser menos afiado. Refiro-me ao que a mecanização e motorização, especialmente esta última, podem ocasionar no desequilíbrio estrutural dos solos, pela redução do teor de matéria orgânica consequente do desaparecimento ou redução do gado de trabalho ou de função mista, no conjunto da exploração.
Mas a este óbice poder-se-á responder, e com razão, que se dê, nu estruturação agrária, o devido equilíbrio à produção do forraginosas, de unidade nutricional suficientemente baixa quanto a preço, que, então, o defeito não surgirá. E assim é que procurar realizar campanha a favor do pão desprezando carne, ou vice-versa, conduzirá infalivelmente à ruína dos solos. É a história já muito conhecida, mas pouco aprendida, de galinha de ovos de ouro. São forças do mesmo binário que não é prudente dissociar. Por isso, na minha opinião, já expressa sobre o complexo problema da reconversão agrária do País, esta não se pode fundamentar, insisto, no desequilíbrio destas duas actividades funcionais.
Só consideraremos, assim, como uma política estimulante a que for realizada nos dois sentidos apontados. E tudo se poderá fazer, como disse, sem recurso a atitudes geradoras de movimentos de inflação, por acréscimo substancial de preços ao nível do consumidor. Bastará, como sugeri, quanto ao sector frumentário, usar o cereal mais adequado ao ambiente e fabricar também um pão mais condicente com a pobreza do nosso, território cerealífero, e, quanto ao problema das proteínas de origem animal, programar este circuito económico de acordo com os preços justos definidos pela análise de casos semelhantes em territórios estranhos, tendo em atenção que esta actividade agrícola deverá alimentar, de futuro, importante negócio de exportação.
A motorização mecanização é como vemos uma faça de dois gumes. E para que seja de um só, quanto a custos e em relação aos casos mais frequentes do agro português, do temperado ao luso-tropical, é mister montar a motorização e mecanização numa estrutura cooperativa progressiva, por forma a não só aproveitar ensejos, mas reduzir, realmente, os custos, sem prejudicar estruturas de solos. E, quanto a este aspecto, termino, dizendo que não seja esquecido o fabrico da máquina agrícola entre os objectivos principais a atingir na industrialização do País. Algo já se fez, neste caminho, mas muito é preciso realizar ainda, para se atingir o desiderando da máquina portuguesa para a terra portuguesa.
A assistência técnica à agricultura nacional é, na realidade, problema fundamental a considerar na resolução de muitos dos desequilíbrios económicos e sociais que hoje afligem a vida do cultivador da terra. E isto em relação aos mais diversos escalões, desde o empresário, grande, médio ou pequeno até ao mais modesto operário revirador de leiva, motorista ou mecânico, ou paciente pastoreador do gados. Por isso lhe vamos dedicar alguns minutos.
O facto, porém, de ter encaminhado para último lugar as considerações que desejo fazer na análise sumária deste importante aspecto das actividades agrárias apenas sig-