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3474 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 138

Se pretendermos fazer que o turista que utiliza a estrada Europa n.º 4 siga por Montemor-Évora-Estremoz, falta a construção de escassos quilómetros da estrada nacional n.º 18, entre Évora e Azaruja. Se, porém, o turista vier do norte não será mais feliz, pois a entrada mais fácil no distrito de Évora será feita pelas estiadas nacionais n.º 2 (do limite do distrito até Mora) e n.º 251 (Mora a Pavia), as quais precisam de verba para urgente reparação de, respectivamente, cerca da 5 km e 8 km.
Há mais estradas que necessitam de ser construídas e reparadas, mas, atendendo às dificuldades do Tesouro, para uma primeira escala no apetrechamento e melhoramento rodoviário distrital, o que acabo de indicar seria o mínimo absolutamente indispensável, não para ganhar a batalha do turismo em 1964, mas para criar condições para uma vitória a mais longo prazo.
Modernamente, porém, o turista utiliza, e em grande parte, a via aérea para se deslocar. Évora não tem um aeroporto. A capital do Alentejo (sob todos os títulos) ainda não foi considerada digna desse melhoramento. Mas um dia, mais tarde ou mais cedo, há-de haver quem queira fazer essa justiça a Évora. Que ela não tarde, são os meus desejos. Um simples aeroporto, talvez preparado para linhas de helicópteros de tráfego nacional, sem luxos, mas seguro, impõe-se.
Vou falar-vos agora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, das instalações hoteleiras que Évora ainda, não tem e de que precisa. Este é problema candente, na minha terra.
Não é hoje o momento próprio para dizer das tentativas goradas e ... porquê.
Falarei um pouco sobre o que interessa imediatamente fazer: a iniciativa privada, com ajuda do Estado, tem em acabamento o Hotel Planície. A morosidade desta obra, cujas causas não me interessam de momento, não se compadece com as necessidades da cidade. Urge que o Secretariado Nacional da Informação, ou quem de direito interfira, active e conclua. Não se pode esperar mais.
O turismo tem de dispor de alojamento para os viajantes. Está, ainda, em construção uma pousada, ou unidade semelhante, no antigo Convento dos Loios. Parece-me que não vai ficar mal, mas, suponho, necessitaria de algum alargamento. Talvez fosse possível a utilização do actual edifício da Biblioteca, e a transferência destes serviços para outro edifício, a adaptar, em conjugação com o Arquivo. Aqui fica a lembrança tio ilustre titular da pasta das Obras Públicas.
Creio ser pertinente, nesta ligeira nota sobre alojamentos, uma palavra sobre ementas regionais. A cozinha alentejana é sápida e suculenta, os seus doces são afamados, os vinhos de Borba, Redondo e Reguengos suportam qualquer comparação, mas, e isto é triste dizer, nem sempre o que se encontra à disposição dos turistas corresponde ao título e ao preço. Uma fiscalização idónea, concursos de provas, e sinais exteriores, mas sérios, de autenticidade, impõem-se como propaganda e defesa dos interesses de todos.
Os turistas, muitos turistas, deslocam-se em busca de novos sectores na arte e na arquitectura. Para estes, Évora é um manancial inesgotável.
Civilizações e povos passaram ... Évora guarda, ciosamente, os testemunhos desse passado.
Teremos todavia, de cuidar da sua conservação, do seu reparo e, ainda, da sua valorização estética. Que recolham a Évora as pinturas que lhe pertencem.
Que se desobstruam muitos dos seus monumentos e, sobretudo, que se iluminem, como convém, para que prendam os estudiosos, os amantes da arte e, finalmente, os possuidores de divisas.
Precisamos, localmente, de montar e manter serviços de propaganda, de todos os tipos, não esquecendo os mais modernos e eficientes. Para já é indispensável que as autoridades competentes não neguem, antes auxiliem, a criação de um posto emissor - A Voz do Alentejo - que leve a toda a província e aos que nela transitam a sua música, os seus cantares, os seus desejos, as suas dores, as suas alegrias, a sua cultura e o seu sentir. Esta poderosa voz, tão dos nossos dias, não destoará nessa tão mal compreendida Planície Heróica.
Évora é, Sr. Presidente e Srs. Deputados, um dos mais valiosos tesouros turísticos do Portugal continental. O seu passado longínquo iluminou a história da nacionalidade desde o seu alvorecer. Todos os factos notáveis têm a sua parcela eborense.
Enumerá-los seria um nunca acabar de citações honrosas, mais Évora quer progredir e estar presente em todas as manifestações da era actual. O turismo, como indústria, é de criação recente, mas, não o olvidem os responsáveis, todos os responsáveis, nós já temos tradições e não as queremos perder, e para isso basta uma só coisa: não nos esqueçam.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Alberto de Meireles: - Sr. Presidente: o esclarecido Deputado avisante deu, através da exaustiva exposição; com que abriu este debate, mais uma amostra brilhante do seu talento e de excepcionais qualidades de estudioso seguro e documentado.
Para além da homenagem que tão grato me é prestar ao Sr. Dr. Nunes Barata, eu queria significar-lhe quanto me satisfaz o poder despir de toda a substância estatística, que seria já agora tão impertinente como inútil, esta minha intervenção.
Com isto espero fatigar menos VV. Ex.ªs
E, por mim, afeito a buscar no turismo mais a satisfação de curiosidades próprias e evasão de um quotidiano, por vezes esgotante, do que tema de especulações científicas ou investigação económica, louvo-me em que possa ser assim.
António Ferro (e muito propositadamente coloco o seu nome no pórtico desta fala como pioneiro que foi na cruzada do turismo português), ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... António Ferro disse um dia que:

Se o turismo é um problema sério, e não um simples passatempo, é porque está ligado, directa ou indirectamente, a quase todos os problemas nacionais, contorno indispensável da nossa renovação, seu necessário acabamento. O turismo perde assim o seu carácter de pequena e frívola indústria para desempenhar o altíssimo papel de encenador e decorador da própria Nação.

E mais além:

O turismo constitui em si mesmo uma obra profunda de higiene e de bom gosto, uma divulgação de gostos e princípios indispensáveis à elevação artística e espiritual de cada povo. Mais ainda: o prestígio