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4 DE MARÇO DE 1964 3471

O Orador: - Para além das muitas obras requeridas pelo desenvolvimento das várias atracções turísticas, impõe-se também a construção de hotéis e pousadas, consoante as varas necessidades, nos vários locais cujo valor turístico o justifique. Deve ter-se sempre em consideração que pelos vários pontos da costa de Moçambique o luxo nos hotéis e pousadas deve ser substituído por partes funcionais e cómodas, pois a superfluidade encarece o turismo e em nada interessa ao visitante, mormente ao pescador ou caçador, até ao paisagista ou urbanista, que preferem apenas higiene e conforto em contacto com as maravilhas que a Natureza lhes proporciona.
Alojamentos funcionais e a preços acessíveis, a par de acesso fácil e cómodo para os locais a que se destinam, como, por exemplo, pistas para acesso de aviões rápidos (pelo menos de turbo-hélice), são obras inadiáveis, se quisermos pensar a sério em turismo.
A protecção, através de subsídios, aos hotéis já existentes que fazem parte da cadeia turística e aos que venham a construir-se, a par de isenção de contribuição industrial, bem como a isenção de direitos aduaneiros de determinados artigos destinados às respectivas construções e isenção de taxas de água e energia eléctrica aos hotéis e pousadas que sejam considerados de primeira linha no turismo, são benefícios que não podem deixar de ser concedidos como incentivo de uma indústria que tanto interesse tem para o turismo.
O Hotel Polana, que serve de exemplo frisante, não constituiria hoje um valor de Moçambique se o Governo lhe não prestasse grande auxílio ao longo de alguns anos, através de um subsídio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Fecharam já alguns hotéis em Moçambique e outros seguir-lhes-ão o caminho se não tiverem o necessário amparo, o que vem trazer sérios embaraços para acolhimento dos turistas, sobretudo na época das praias.
O Hotel Girassol encontra-se fechado há já bastantes meses. Hotel de características arrojadas, constituía um encanto dos Sul-Africanos, que representavam, por assim dizer, 90 por cento da sua clientela.
O actual proprietário, o Banco Nacional Ultramarino, não poderá dar-lhe destino diferente, sem correr o risco de prejudicar a vida turística da capital de uma província onde deve todo o seu ser ultramarino.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A construção de um hotel em Porto Amélia é obra que tem de estar na ordem do dia, pois a sua falta representa o elemento principal para o desenvolvimento das suas praias, das mais lindas de toda a costa, e de uma fauna e flora que dão o melhor interesse ao pescador desportivo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ali se pescam desde a barracuda até ao veleiro e marlim negro e azul, trofeus do mais alto valor para o pescador.
Esse hotel terá de ser feito com verbas orçamentais do Governo, uma vez que a iniciativa privada não se acha com capacidade, sobretudo porque lhe falta o elemento financiador, que de há tempos para cá, incompreensivelmente, tem restringido os seus créditos.
A cidade de Porto Amélia, a que a Excelsa Senhora Rainha D. Amélia quis ligar o seu nome e a que com propriedade podemos chamar a pérola da costa moçambicana, com uma luxuriante vegetação que muito a embeleza, tem a seus pés a mais rica baía de todo o território português, considerada a terceira do Mundo, onde se podem praticar todas as modalidades de desportos náuticos e se pescam todas as espécies que povoam o oceano Indico.

O Sr. Fernando Frade: - É exacto.

O Orador: - Não se pode, por isso, e porque o turismo pode vir a contar grandemente no orçamento do distrito, se olharmos para essa indústria com ânimo e perseverança, deixar que a falta de um simples hotel ou pousada esteja a dificultar o desenvolvimento da capital de um distrito de grandes possibilidades como é o de Cabo Delgado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No campo etnográfico o distrito de Cabo Delgado tem também certo interesse turístico.
Salientaremos, por exemplo, em breve síntese, a raça maconde, por possuir características especiais. Guerreiro e caçador por índole, o Maconde é artista nato.
Em trabalhos esculturais de arte gentílica muito apreciados, tem merecido os maiores louvores da crítica onde têm sido expostos, como, por exemplo, no Brasil, onde há pouco, por iniciativa do Governo-Geral de Moçambique, se fez uma interessante exposição da arte maconde e de conchas oriundas de Moçambique.
De tatuagem especial e dentes pontiagudos que lhe dão um aspecto verdadeiramente selvagem, mas de certa personalidade, o Maconde possui também um sentido apurado da música.
Digno dos maiores louvores, a Missão Católica de Nangololo (no planalto dos Macondes) instruiu um grupo de cerca de 200 crianças daquela raça, de idades entre os 7 e os 14 anos, que constitui uma maravilha inédita.
Em cânticos de igreja, num conjunto com tambores de batuque, que em descrição parece paradoxal e de certo modo chocante, este espectáculo é verdadeiramente maravilhoso, sublime e deveras emocionante.
E é tal o seu valor que, ao ser descoberto pelo Geografic Magazine (americano), logo para ali se deslocaram técnicos de cinematografia com aparelhagem sonora para registo de tão impressionante espectáculo.
A propósito, lembro-me bem da resposta que o cônsul belga em Lourenço Marques me deu, quando visitou esta Missão e eu lhe perguntei se tinha gostado do grupo coral dos Macondes.
Bastante emocionado, disse-me: «Nunca vi coisa mais bela!»
Em nada julgo exagerar nesta pequena descrição.
Acho que vale a pena mostrar esta maravilha, dentro e fora do País, para que o Mundo possa aquilatar de quanto é capaz a nossa capacidade civilizadora em África!
As companhias de navegação, que tanta colaboração têm prestado ao turismo de Moçambique, concedendo passagens a preços regulares para o cruzeiro do Cabo ao extremo norte da província, poderão aumentar esse auxílio, baixando ainda mais essas passagens e fazendo simultâneamente uma adequada propaganda.
Os espectáculos tauromáquicos na capital da província podem ser também bastante beneficiados através das companhias de navegação marítima, se estas lhes fizerem tarifas especiais para o gado transportado e para o respectivo pessoal que o acompanha. De igual modo, as companhias de navegação aérea podem também concorrer para