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4 DE MARÇO DE 1964 3475

internacional de uma nação é consequência, em certos aspectos, da sua organização de turismo. O turista estrangeiro, salvo aquelas excepções que felizmente nos têm batido à porta, interessa-se menos pelos problemas de ordem económica e política do país visitado do que se preocupa com as comodidades que o país lhe oferece: a boa cama, a boa comida, o conforto não luxuoso mas suficiente, o pitoresco para lhe entreter a imaginação, o bom gosto para lhe alimentar o espírito. Atendidas estas condições mínimas, com melhor disposição se resolverá a admirar tudo o mais: a história, as ideias, as instituições, os monumentos. O turismo é, portanto, além de indiscutível factor de riqueza e de civilização, um meio seguríssimo não só de alta propaganda nacional, como de simples propaganda política.

O turismo é um fenómeno reconhecidamente contemporâneo, e pelas suas origens, evolução histórica e mesmo situação actual um fenómeno fundamentalmente europeu.
Só metafòricamente poderão considerar-se turísticos os grandes movimentos militares ou religiosos da Idade Média ocidental, que têm nas cruzadas e na rota de Santiago de Compostela os seus mais significativos expoentes.
As grandes viagens de exploração, comerciais ou de missão, que caracterizam a Idade Moderna (Marco Pólo, Fernão Mendes Pinto, S. Francisco Xavier), e em que Portugal teve primazia, dando novos mundos ao Mundo, foram o devassar do ignoto, e não uma expressão, mesmo remota, de turismo.
Constitui ainda uma aventura individual, nitidamente inglesa e reservada a raros privilegiados, a visita às grandes capitais da Europa («The grand tour»), com que, a partir da segunda metade do século XVIII, se completava a educação de todo o gentleman que se prezava.
Só em 1841 Thomaz Cook, o criador da agência de turismo que ficou como um símbolo, lançou a sua primeira viagem organizada por via férrea, entre Leicester e Longhborough. Pode considerar-se esta data como a do início da nova era turística.
Os «viajantes» - e assim eram designados, como pode ler-se nos curiosos guias de então, de que possuo este raro exemplar (Guia de Viajantes em Lisboa e Suas Vizinhanças, Lisboa, 1845, tipografia de O. R. Ferreira & C.a), e para os quais Mr. de Laporte escreveu ainda no século XVIII os 30 volumes do seu Viajante Universal- passaram gradualmente a ser «turistas».
Na base da designação está a organização do tour, o crescente enquadramento em programas definidos através das agências especializadas na esteira de Cook.
Os meios de comunicação, aumentando em regularidade, rapidez e segurança, favorecem a definição de correntes turísticas de interesse e com elas se firmaram estruturas turísticas valiosas.
A triunfante Côte d'Azur teve a consagração da presença da rainha Vitória em 1895. A Suíça, pelo sortilégio dos Alpes, meça dos pulmonares abastados, acaba por monopolizar, juntamente com a Itália, a França e a Áustria, o entusiasmo deambulante dos turistas de marca.
Foi o tempo áureo dos palaces, dos casinos, das praias mediterrânicas, como também a de Davos-Platz; La Promenade des Anglais, o ineditismo do Sol e das palmeiras; o azul tranquilo da costa de Amalfi; havia cabeças coroadas em -Sorriento; Capri embalava docemente amores fugitivos e o spleen inglês tudo invadiu e sustentou.
Paris e Viena esfuziavam de música e diamantes, mas já os tiros de Serajevo abafam o estralejar do champanhe chez Maxims. O ritmo trepidante do can-can cede o passo ao bater cadenciado dos tambores de guerra; as casacas vistosas e os peitilhos brancos são já uniformes cinzentos; os cavalos dos fiacres estrenoitados foram atrelados a peças de artilharia e não demorará que os táxis barulhentos de Paris rolem para o Marne e que nos pomposos reposteiros dos hotéis - agora hospitais de fortuna - surjam salpicos de sangue.
Findara La Belle Époque. E nem os entusiasmos de paz wilsoniana a conseguiram ressuscitar senão por fugidio momento.
Mas já havia brotado, com um turismo gradualmente alargado a novas camadas sociais, a consciência turística oficial, pela espectacular valia económica do fenómeno turístico.
Das cinzas da Europa, após a guerra de 1939-1945 veio a surgir o novo mundo turístico actual.
Então a América saltou espectacularmente e em massa o Atlântico, aproximadas inverosìmilmente as suas margens pela velocidade estonteante dos jactos. Passou a ser possível na rotina dos voos comerciais encurtar para horas a volta ao Mundo que Júlio Verne fantasiara em 80 dias. E a Europa, em plena recuperação e florescimento económico, respondeu, pelo seu lado, com um imenso surto deambulatório, favorecido pela alta do nível de vida, aumento mais generalizado de recursos e crescentes períodos de férias pagas.
Vão-se diluindo as fronteiras clássicas, eliminando formalidades, libertando a circulação de divisas.
Viajar deixou assim de ser privilégio de reduzido estrato social, em que abundantes disponibilidades de meios e lazeres tornam fácil vagabundear pelo Mundo. O turista, de que foi símbolo-caricatura o inglês carregado de spleen e de libras, infatigável globe-trotter e corredor de palaces, è já agora multidão de gente anónima, apressada, com tempo e dinheiro severamente contados, que aproveita curtos tempos de férias para se evadir da rotina quotidiana.
À clientela solene, repousada e fiel dos lugares-comuns de encontro cosmopolita sucedeu-se uma onda de gente curiosa, que faz campismo, povoa campos de férias e realiza com alegria e simplicidade a ambição de uma vida - conhecer novos horizontes. Esta mutação, a que podemos chamar «a democratização do turismo», é certamente um dos fenómenos «da era do social» em que vivemos e tem como pressupostos mais altos padrões de vida, períodos razoáveis de férias remuneradas, o acesso das massas a mais elevado nível de cultura. Justo é que lembremos aqui, no domínio do «turismo social», a acção meritória da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (F. N. A. T.), que foi entre nós a esforçada pioneira desse movimento de alto sentido social, e que desde 1935 se vem empenhando, com real êxito, em proporcionar aos trabalhadores portugueses a possibilidade de conhecerem melhor a sua terra (e mesmo alguns países estrangeiros) dentro das limitações que forçosamente decorrem do condicionalismo existente no nosso mundo do trabalho.
Um breve apontamento estatístico, relativo ao movimento apenas do ano de 1963, dará ideia aproximada da actividade da F. N. A. T. nesse domínio:
1) Turismo social tomando como base as colónias de férias da F. N. A. T.:

Beneficiários .............. 13 618
Quilómetros percorridos .... 5 650 200

2) Turismo social por intermédio dos parques de campismo da F. N. A. T.:

Beneficiários ............... 3 100
Quilómetros percorridos ..... 1 287 000