6 DE MARÇO DE 1964 3513
e se assim não fosse não teriam iniciado a construção do aeroporto do Algarve. Chamo-lhe assim, pois que para o mundo do turismo internacional o que se conhece é o Algarve como zona de óptimo clima, de boas praias, de lindas paisagens. Se lhe dermos outra designação, só servirá para confundir, para se falar menos do Algarve. De resto, esta designação abrange-nos de Sagres a Vila Real de Santo António e dá ao turista, quando chega ao aeroporto, a ideia de que está numa zona de turismo onde pode escolher o lugar, a praia para ficar, e não a ideia de que o turismo é só ali, na área do aeroporto de Faro, no caso improvável, estou nisso esperançado, de vir a ser esse o nome escolhido.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - O aeroporto do Algarve, cujo início de utilização se anuncia ainda para esto ano, cria complexos problemas de alojamentos, de mantimentos, lembra a urgente necessidade de se construir a ponte sobre o Guadiana, de uma mais rápida e pronta estrada para Lisboa, devendo esta ter já em vista a não longe abertura ao tráfego da ponte sobre o Tejo.
Servido já o Algarve de três estradas para Lisboa, contudo nenhuma delas, quer pela sua pouca largura, quer pelos seus traçados cheios de curvas, por terem de atravessar regiões montanhosas, são verdadeiramente próprias para um bom tráfego turístico. É pois de lembrar uma melhoria na actual estrada, em construção, que de S. Bartolomeu de Messines segue a S. Marcos da Serra, Santana, Aldeia de Palheiros, entroncando depois com a boa estrada de Alvalade a Grândola, passando por Alcácer em direcção a Setúbal. Esta é verdadeiramente a estrada que, podendo sair das ligações da ponte sobre o Tejo, virá passar pelo centro do Algarve num traçado mais recto e conduzindo fàcilmente à estrada geral da província, a que vai de Vila Real de Santo António a Sagres.
É necessário, quanto ao problema dos mantimentos, que os serviços oficiais agrícolas aconselhem nesse sentido à lavoura algarvia dos regadios das barragens de Silves e Alvor as culturas próprias e necessárias ao abastecimento dos grandes e muitos equipamentos hoteleiros que, sem dúvida alguma, terão de se espalhar por todo o Algarve, a menos que tenhamos de alojar os turistas debaixo da copa das alfarrobeiras.
Para bons alojamentos, mais condignos e próprios para o turismo, há que aproveitar velhos e arruinados conventos, moinhos, casas solarengas e mesmo históricos castelos, como os de Silves e Castro Marim, e algumas fortalezas, que, ultrapassados pelos modernos meios defensivos, se encontram abandonados, correndo o risco de se perderem para sempre.
Há que aproveitar, melhorando o seu acesso, as lindas furnas que existem na costa entre Armação de Pêra e a pitoresca praia de Carvoeiro, cuja povoação de pescadores oferece no seu anfiteatro um inesquecível aspecto. Aquelas furnas, sem dúvida dos mais belos espectáculos que o Algarve pode oferecer aos turistas, não têm igual em qualquer parte do Mundo; aproveitá-las, embelezando-as com iluminação eléctrica, construindo nelas restaurantes e bares, tornando-as acessíveis pelo lado da terra, e tudo isto sem estragar a arquitectura traçada pelo mar, pode, sem dúvida, repito, constituir um dos melhores e mais belos passeios turísticos do Algarve. De entre estes há que relembrar, como a imprensa algarvia de há muito vem fazendo, os passeios pelos rios Arade e Guadiana, cujas margens, de beleza sem par, se assemelham aos dos melhores rios peninsulares.
De Portimão a Silves, singrando o rio Arade, por onde navegaram as 37 galés portuguesas, juntamente com as naus flamengas e alemãs, que levaram os cruzados que auxiliaram D. Sancho I na conquista de Silves, a então mourisca Chelb, capital do reino de Chenchir, ele levará o turista, ao chegar ao morro da Atalaia, à histórica barra de Silves, onde ancorou aquela primitiva esquadra conquistadora, a se deslumbrar com a vista ao longe da actual cidade, que conservando reconstituído como se encontra agora o seu castelo, a ver um espectáculo idêntico ao que viram os cruzados quando pela primeira vez admiraram uma cidade de infiéis.
O Sr. Reis Faria: - Muito bem!
O Orador: - Está a Câmara Municipal de Silves empenhada no embelezamento do lindo Arade e risca já o plano, a apresentar em breve, da construção de uma estalagem, pousada ou hotel por sobre a ilha de Nossa Senhora do Rosário ou no morro da Atalaia, no sítio onde as águas da linda ribeira de Odelouca se juntam às do Arade.
De lembrar é a necessidade, sem dúvida urgente, de habilitar o pessoal capaz de servir na indústria hoteleira para a recepção, portaria, mesa, bar, cozinha, economato, andares, etc. A actual Escola Profissional da Indústria Hoteleira de Lisboa não tem possibilidades de preparar o muito pessoal que a indústria turística vai exigir. Assim, e junto aos melhores centros hoteleiros do Algarve, onde há, e de futuro mais ainda, pessoal capaz para este ensino, poder-se-iam, aproveitando as Escolas Técnicas de Vila Eeal de Santo António, Tavira, Faro, Silves e Lagos, instalar cursos hoteleiros.
A carinhosa Casa dos Rapazes de Faro, que alberga e ampara os rapazes da rua, e que é por assim dizer a saudosa fragata D. Fernando do Algarve, dirigida, amparada e crescendo sempre mais pela actividade dos benfeitores seus dirigentes, a que sem favor podemos chamar a maior equipa do «bem algarvio», que composta de homens de alto nível económico, como Aníbal Guerreiro, empregam nela os poucos momentos que as suas actividades industriais e económicas lhes permitem; aqueles rapazes, aqueles mocinhos algarvios, podem encontrar em colocações nos hotéis um bom, um honroso, futuro.
De tudo isto, de todas as necessidades que possam vir a constituir um melhor aproveitamento regional, se lembram nos seus justificados anseios bairristas os homens do Algarve. O seu povo, a sua gente, comunicará a sua expansiva e proverbial alegria aos que ali forem fazer turismo, recebê-los-á com a sua afamada hospitalidade, criando o ambiente necessário para se sentirem bem, para saírem com a doce saudade portuguesa, a criar-lhes o desejo de voltar.
E para isto, para o desenvolvimento turístico do Algarve, a sua gente confia no Governo de Salazar, que melhor do que nenhum outro ainda soube dirigir a Casa Portuguesa.
Sabemos dos planos governativos para o Algarve, dos projectos, dos estudos que se estão realizando, da atenção que ao problema dedica Salazar, o Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, o nosso estimado companheiro nesta Assembleia Dr. Paulo Rodrigues, hoje muito digno Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, o Dr. Moreira Baptista, incansável secretário da Informação, que bem tem acompanhado o turismo algarvio nestes seus primeiros passos.
Nestes homens, nestes serviços, posso afirmar aqui com superior verdade e lealdade, os Algarvios confiam e