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6 DE MARÇO DE 1964 3515

mas é evidente que sem reclamo o nosso turismo não aumentará mais que na fraquíssima proporção anual em que tem aumentado, do reclamo de pessoa a pessoa de que beneficiamos, certamente da maioria das pessoas que nos visitam ou já visitaram.
Hoje nada se faz sem propaganda, do que existe e do que devia existir, do que se fez e do que se fará, até para suscitar curiosidade e interesse pelo que há e pelas possibilidades do que virá a haver.
Esse interesse e essa curiosidade podem representar em muitos casos amizade e compreensão, e até a certeza de uma certa continuidade nas relações. Viu-se agora e pensa-se voltar a ver no futuro; não foi um curioso que passou, mas um amigo que se criou. E não nos digam que esse estilo de convivência internacional feito de interesse e compreensão, de estímulo e de curiosidade, não é um poderoso adjuvante de melhor compreensão humana e por si só um factor positivo a creditar aos muitos méritos do turismo, que não se medem apenas pelo número de divisas que movimentam, mas também pelo estilo de convivência humana que suscita e acalenta, e que é um valor não mercantil, mas positivo, a crédito de qualquer povo.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: há no problema geral do turismo dois aspectos fundamentais, nos quais não vemos relevância para qualquer deles, mas antes uma obrigatoriedade de coexistência, sem a qual o problema não terá validade ou, pelo menos, não terá todo o valor real a que temos direito pelas nossas condições privilegiadas. São a propaganda internacional e a valorização do País em todos os seus aspectos, desde os culturais aos folclóricos, habituando o Mundo a conhecer-nos e a apreciar-nos, e não a ignorar-nos sistemàticamente, como tantas vezes verificamos, mas muito por culpa própria; são as superstruturas próprias de um turismo ambicioso e não limitado ou acanhado logo de raiz e da sua própria iniciativa; são as infra-estruturas genéricas mais ou menos ligadas ao sucesso do turismo e das iniciativas que lhe digam respeito.
Se olhamos para os nossos vizinhos espanhóis e comparamos a difusão mundial da sua cultura, da sua literatura, da sua música, das suas touradas, dos seus cantares e dos seus bailes e a pobreza, a ignorância total do Mundo acerca da nossa cultura, da nossa literatura, da nossa música, das nossas touradas, dos nossos cantares e dos nossos bailes, logo aí vemos uma explicação em parte da curiosidade de 11 milhões de turistas se dirigirem a Espanha e um escasso meio milhão se atrever a vir a Portugal.
Uma que outra tímida tentativa de apresentação no estrangeiro dos nossos aspectos culturais ou folclóricos foram quase sempre coroadas de êxito e suscitaram uma agradável curiosidade e até surpresa, mas foram sempre tentativas esporádicas, de alcance restrito, sem continuidade nem reclamo devidos e, sobretudo, sem a coragem de afirmação de conquista do agrado, do gosto ou da moda que as fizesse frutificar como tantas vezes era necessário e possuem valor intrínseco para tal.
Como se quer suscitar o gosto internacional para visitar Portugal se o nome do nosso país, infelizmente, não aparece nos jornais senão nas notícias das agências relacionadas com a política internacional e uma política que só nos apresenta como vítimas ou algozes, como país votado à resolução de altos problemas de sobrevivência è até como desmancha-prazeres de potências olímpicas que ditam leis no Mundo?
Para o turismo seria preferível aparecermos menos vezes nessas notícias das agências e mais vezes nos certames culturais internacionais.
Aparecermos como somos, país de uma velha e sólida cultura, país de beleza e tradição, país de canções e de touradas, em que o turista, sedento de descanso, de curiosidade ou de distracção, tem fartos ambientes sedativos, estranhos, belos e variados, onde ele pode fàcilmente escolher e distrair igualmente o corpo ou o espírito.
Nos berrantes cartazes de reclamo dos cinemas, dos teatros, do music-hall, dos discos, etc., vemos sempre aparecer nos grandes nomes ou nos grandes títulos internacionais a Espanha, a França, o Brasil, o México, a Argentina, etc., mas, infelizmente, nunca Portugal.
Acaso vale mais o samba que o vira, a rumba que o fandango, a canção francesa que o fado, etc.? Não o creio; mas, quando todo o Mundo conhece e está amplamente familiarizado com essas manifestações estranhas, quase ninguém conhece as nossas, e até nós próprios as minimizamos, as ridicularizamos e quase nos envergonhamos delas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas não são estas manifestações, afinal, as que podem fazer a nossa propaganda, marcar o nosso carácter, suscitar no estrangeiro a curiosidade de as apreciar in loco e, portanto, fazer constantemente, a toda a hora e a todo o momento, na rádio, no cinema, na televisão, o reclamo de Portugal, lembrar que existimos e que temos um carácter próprio, que interessa conhecer e visitar?
É assim que a Espanha é conhecida e por isso é visitada. Exceptuando o período em que António Ferro, conhecedor profundo destes aspectos de divulgação e propaganda do nosso país, começou a dar a conhecer ao Mundo e a interessar o Mundo por eles, não talvez porque sejam melhores, mas porque são diferentes, nada mais se fez nesse sentido, e o nome de Portugal cada vez se encontra menos no dia a dia dos reclamos, das conversas ou dos espectáculos no estrangeiro.
Propaganda não é só o entendimento, aliás indispensável, com as agências de viagens, não são só os cartazes ou desdobráveis que se possam espalhar pelo Mundo, mas também o dar a conhecer ao Mundo que temos hábitos, trajos, canções, danças, culturas, diferentes dos outros, habituar-lhes os olhos e os ouvidos e suscitar-lhes o desejo de os conhecer no seu ambiente próprio.
O turista não quer só areia, calor e água tépida; nem todos os turistas se destinam às praias, e até se só tivermos praias para lhes oferecer nos doze meses do ano talvez não venham muitos visitar-nos, e por isso a propaganda não pode ser só orientada nesse sentido.
Em Espanha o sucesso de Torre Molinos não fez esquecer as rias bajas da Galiza, nem toda a boa cobertura de hotéis nas diferentes regiões, e em Portugal a possível disposição do Algarve para um turismo de Inverno é parte do Verão não pode fazer esquecer o Minho, e tanto mais que, se ao sucesso das praias do Sul da Espanha se quer ligar de certo modo o desenvolvimento do turismo no Algarve, não devíamos esquecer de ligar o desenvolvimento do Minho com a grande obra turística que os Espanhóis estão a executar nas rias da Galiza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo fronteiro é sempre aquele que contribui com maior percentagem para o aumento do