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3516 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 140

turismo. Em Portugal, com uma fronteira única com a Espanha, é por aí que nós podemos esperar o grande aumento do turismo nacional, não pròpriamente dos Espanhóis, mas sobretudo dos Franceses, que, na sua grande maioria, se deslocam até nós por terra, atravessando a Espanha.
Se queremos desenvolver o turismo em Portugal, é evidente que só poderá ser através de um bom entendimento com a Espanha. O nosso condicionalismo geográfico impõe-nos esse entendimento, pois não é só pelo avião ou pelo barco que se poderá fazer o desenvolvimento que pretendemos e que não continue a ser o de umas dezenas de milhares de aumento por ano, mas sim obter também a possibilidade de canalizar para o nosso país alguns desses milhões que se dirigem para outros países ou deixam de visitar o nosso apenas por uma questão de melhores solicitações que aquelas que nós temos sabido usar.
É evidente que o turismo não é só propaganda, nem é tão-pouco apenas literatura ou folclore, nem ainda burocracia, projectos ou boas intenções. Não! O turismo é isso e muito mais que isso tudo: é o justo equilíbrio das superstruturas e das infra-estruturas de que atrás falámos.
Nas primeiras está a boa pousada, boa alimentação, comodidade e ambiente favorável; nas segundas está a distracção e a segurança. O bom e justo equilíbrio dos preços com o serviço; a autenticidade e sinceridade do acolhimento, liberdade e simpatia na acção.
Em todos estes campos muito há ainda que actuar, desenvolver ou modificar. O primeiro é sobretudo um problema de investimento, o segundo um problema de polícia ou de educação.
Se queremos sèriamente desenvolver o turismo em Portugal, não o podemos fazer imediatamente com os hotéis, pousadas e estabelecimentos similares actualmente existentes no País, e, só começássemos a fazer larga propaganda e chamamento de turistas para Portugal, poderíamos correr o grave risco de comprometer sèriamente o futuro pela carência de alojamento e de condições para albergar qualquer aumento substancial de corrente turística. E o turista que não se recebeu bem e a quem se desagradou uma vez dificilmente volta, e é mais um factor de propaganda negativa com que temos de contar no futuro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O turismo, porém, é uma indústria de resultados a longo prazo e os investimentos são elevados e extraordinàriamente aleatórios. Tudo isso não são condições para despertarem grande interesse à iniciativa particular pura ou preponderante.
Se o turismo rendeu ao País cerca de milhão e meio de contos, não nos parece que um auxílio ou comparticipação do Estado no valor global anunciado para o próximo ano de 50 000 contos seja investimento substancial ou que possa suscitar participação de iniciativa particular em proporção com um crescimento desejável ou a desejar que o turismo tenha no nosso país, e, sobretudo, pelo carácter aleatório, e até por vezes transitório, da aplicação desse capital.
Todos conhecemos grandes fracassos em iniciativas turísticas no estrangeiro, que não tiveram o desenvolvimento que se esperava, como todos conhecemos também iniciativas a que uma sábia propaganda ou um engodo inesperado do público deu desenvolvimento e projecção verdadeiramente inesperados e muito para além das previsões mais optimistas.
Turista termina por «a», e esse carácter feminino do termo dá-lhe a inconstância e a variabilidade do género. E outro factor que temos a atender, e suficientemente forte para influir na iniciativa particular e a tornar extraordinàriamente cauteloso e prudente.
Se vamos, porém, a desenvolver tão cautelosa e prudentemente os meios necessários para receber os turistas, arriscamo-nos a que eles procurem outras paragens e que nunca se cheguem a realizar as iniciativas tão longamente preparadas, que só queiram realidades e que não queiram investir com largueza à espera que o futuro os venha a compensar do atrevimento.
Neste campo só o Estado pode dar o primeiro passo decidido, firme e logo com largueza suficiente para animar e entusiasmar a iniciativa particular que o seguir.
Se queremos suscitar a vinda ao nosso país, não do escasso meio milhão, mas três ou quatro vezes mais, o que não me parece excessivamente ambicioso, e ir buscar ao turismo ingressos também três ou quatro vezes superior aos actuais, não me parece que chegue para se andar depressa um investimento de menos de 1 por cento desse total.
A Grécia, país com que nos podemos comparar sob certos aspectos do turismo, tem outros que não são para nós absolutamente nada relevantes.
A Grécia encontra-se rodeada de países comunistas, de sistemas rodoviários e ferroviários bastante deficientes e não especialmente dotados ou procurados pelo turismo; mesmo assim conseguiu um notável incremento turístico, graças às iniciativas das suas empresas de navegação, que encaminharam os estrangeiros para a sua terra com todos os aliciantes do seu sol, mar, ilhas românticas, antiguidades raras, etc.
Ao contrário da Grécia, nós encontramo-nos rodeados por um país amigo, extraordinariamente dotado turìsticamente e cujos caminhos e regiões turísticas fácil seria encaminhar ou complementar com os caminhos ou regiões turísticas portuguesas. Poderíamos imitar da Grécia a sua solução a que um destino geográfico-político os obrigou, mas devíamos também acrescentar-lhe um bom entendimento com o país vizinho, que viria acrescentar parte, estamos convencidos, bem substancial ao que se obtivesse por outros meios.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Porém, o que sucede hoje em dia?
O turista que por acaso, ao deslocar-se através da Espanha, pensa completar o seu itinerário atravessando Portugal encontra na sua frente uma barreira - a fronteira - que o faz em muitos casos desistir.
Toda a espécie de formalidades, papeletas a preencher para a Polícia Internacional, despacho na alfândega, por muita amabilidade e compreensão que haja por parte dos funcionários da fronteira, é sempre um embaraço, uma fonte de atrasos e aborrecimentos que se evita e que tira muitos turistas ao nosso país.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas há mais, há dificuldades quase insuperáveis e que, pelo seu aspecto ridículo ainda por cima, nos colocam mal perante o turista que vem passear ou descansar e não quer problemas ou dificuldades.
Se por acaso o turista possui um aparelho portátil de televisão, como hoje tantos há, não pode despachar o aparelho, não o pode deixar na fronteira, pois também o quer utilizar em Portugal ou pode pretender sair por outra fronteira, e então terá uma solução heróica: suportar a pré-