3592 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 143
gra e para o efeito tem-se recorrido a navios de passageiros, nos intervalos das suas viagens normais. Têm-se também transformado barcos para a realização contínua de cruzeiros marítimos e até, dado o interesse que esta modalidade vem despertando, algumas nações já se lançaram na construção de grandes paquetes expressamente destinados a tal fim.
Desde os Países Baixos, à Grã-Bretanha, à Alemanha Federal, à Itália, à Grécia, a Israel, à Suécia, à Noruega, aos Estados Unidos, à U. E. S. S. e à França, todos vêm ensaiando e prosseguindo nesta forma de exploração dos seus navios, com resultados compensadores, em face da enorme afluência de clientela, a ponto de se estabelecerem programas anuais com número de viagens crescente de ano para ano.
Na França já em 1961 os órgãos dirigentes da marinha mercante começaram a debruçar-se pormenorizadamente sobre este problema, estudando as providências indispensáveis para uma maior prática de cruzeiros marítimos nos seus paquetes, do que resultou a criação de uma comissão técnica, a qual começou a funcionar no princípio de 1963.
É claro que a utilização de um navio em cruzeiros marítimos não pode deixar de obedecer a determinadas considerações e particularidades: a existência de número suficiente de camarotes para alojamento adequado dos passageiros; poder o navio ser desviado da sua aplicação regular, sem prejudicar a carreira que serve e a sua clientela habitual; escolher-se a estação mais apropriada para o êxito do cruzeiro a efectuar, e ter-se em conta o rendimento a esperar de cada cruzeiro, uma vez que em tal serviço a única receita é a das passagens.
A aludida comissão destinava-se a propor as providências a tomar para satisfazer aqueles objectivos.
Em primeiro lugar, considerou se devia ou não atribuir-se prioridade aos cruzeiros de curta duração, tais como os escolares, os de empresas, os de congressistas, etc., concluindo pela afirmativa, em virtude da necessidade de ocupar uma parte da sua frota de paquetes do Mediterrâneo, que devido à independência da Argélia se tornara excedente.
Para atrair mais clientela a esses cruzeiros, considerou, depois, o problema da redução das tarifas, o que pressupunha um auxílio dos Poderes Públicos e uma acção de propaganda da parte do Comissariado do Turismo.
Tratou ainda dos cruzeiros educativos, que Americanos c Ingleses têm empreendido com muito êxito. Mas quanto a estes não se chegou a uma conclusão definitiva, embora as entidades intervenientes no problema se manifestem favoráveis à sua realização.
O incremento dos cruzeiros determinará, certamente, a transformação de alguns navios para os adaptar a tal serviço, contando-se que a respectiva despesa seja coberta com um auxílio financeiro do Estado, além dos subsídios a atribuir a cada cruzeiro, ou a cada paquete.
O Comissariado do Turismo passou a publicar nas suas folhas de informações turísticas o quadro completo dos cruzeiros marítimos realizados em cada ano por navios franceses, o que teve o mérito de incluir oficialmente o cruzeiro marítimo entre as actividades turísticas normais c de pôr ainda ao seu serviço outros meios de publicidade.
Mas, além dos cruzeiros de curta duração, já se pensa em utilizar dois paquetes em grandes cruzeiros, os quais permaneceriam nove meses de cada ano nas águas americanas e os restantes nas europeias.
Sr. Presidente: alonguei-me na exposição do caso francês, para assim apresentar um exemplo do interesse que esta modalidade de turismo está a despertar lá fora, não só entre os armadores, mas também entre os respectivos governos, estabelecendo-se uma rigorosa planificação em que todos os seus aspectos são encarados.
Esse interesse justifica-se plenamente. Os cruzeiros marítimos, além de serem um factor de angariação de divisas pela afluência de turistas que provocam, permitem a continuação ao serviço, em condições mais remuneradoras perante a concorrência da aviação, de maior número de navios de passageiros (instrumentos preciosos da defesa nacional, como transportes militares, para qualquer emergência). Acresce que, se os nossos navios não forem utilizados em tais cruzeiros, os turistas portugueses, seguindo a corrente mundial, logicamente irão recorrer a pavilhões estrangeiros, despendendo-se, deste modo, divisas que não se perderiam se, para tanto, pudessem preferir os navios nacionais. Através dos cruzeiros marítimos, e fazendo-se turismo, como já aqui se disse, de «fora para dentro», o País torna-se mais conhecido e as suas belezas mais admiradas, pelo afluxo de turistas que provocará.
Não há que providenciar ou colaborar sòmente no progresso dos cruzeiros marítimos em pavilhão nacional, há que facilitar também que os navios estrangeiros em viagens de escala pelos nossos portos os considerem tão atractivos como quaisquer outros portos dos seus itinerários. Temos de desenvolver ainda mais, se possível, particularmente no caso dos cruzeiros marítimos estrangeiros e até mesmo nas viagens de escalas regulares, uma política de simplicidade e de captação, particularmente no referente a facilidades e a baixos encargos.
Vozes: - Muito bem, muito bem !
O Orador: - O Ministério da Marinha, como já é tradição, multiplica esforços para que os seus serviços de fomento marítimo prossigam mais intensamente em tal objectivo dentro de uma simplificada burocracia.
O Ministério das Comunicações, em identidade de pensamento e actuação, até vem tomando providências especiais, como a da constituição de «comissões de boa vontade», que agrupam, não só funcionários destacados do seu departamento, como alguns de outros Ministérios e entidades privadas que podem contribuir para o objectivo em vista.
Temos, em complemento da utilização dos nossos navios de passageiros nas suas carreiras regulares, e até mesmo em conjunto e equilíbrio das necessidades previstas dessas carreiras, de programar uma mais intensa realização de cruzeiros - quer eles sejam puramente turísticos, quer sejam também de aspecto profissional ou educativo; temos de conciliar as possibilidades do armamento mercante nacional com os pedidos e as aspirações das agências de viagem e o apoio financeiro que estes projectos requerem; temos ainda de efectuar uma política de desenvolvimento de cruzeiros, mediante fórmulas atractivas e com financiamentos razoáveis, que permitam preços acessíveis que atraiam as classes médias menos abastadas.
Há que dar à mocidade a oportunidade de efectuar maior número de excursões às ilhas adjacentes e às nossas províncias ultramarinas; ...
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - ... há que facilitar, mesmo dentro de cada província, o visitarem-se alguns dos seus lugares de interesse, mas mais distanciados, proporcionando para tal, se as condições geográficas o permitirem, viagens por mar em condições especiais.