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12 DE MARÇO DE 1964 3597

brir e civilizar novos mundos, ao ser visitado por esses mundos que descobriu.
Sr. Presidente: vai já longe o tempo do turismo receptivo e turismo feudal, que uma classe privilegiada praticava, deslocando-se periodicamente para determinadas zonas, onde por hábito se passava a reunir para continuar a cavaqueira interrompida nos locais de origem, ou para continuar a que se interrompera no ano anterior, e realizar um convívio social em ambiente diferente do habitual.
Aqui, zonas privilegiadas e tradicionais, limitavam-se à prática de um turismo receptivo, recebendo os hóspedes habituais com as condições com que a Natureza as fadara.
A evolução social dos povos e a extraordinária facilidade de comunicações, porém, alteraram completamente a fisionomia do problema e impuseram o desaparecimento deste tipo de turismo, pela sua integração noutro de tipo mais dinâmico chamado turismo social. As férias das classes trabalhadoras, como consequência de uma evolução social, que tem levado a tratar o homem não como máquina fornecedora de mão-de-obra, mas como elemento humano ligado à actividade económica, que importa defender, impondo a existência de férias e pagamento de um subsídio das mesmas, e o natural anseio de viajar e recrear o espírito impuseram a criação deste turismo social.

O Sr. Calheiros Lopes: -Muito bem!

O Orador: - Para receber e conduzir essa grossa massa humana, que cruza as fronteiras e transita nas estradas, caminhos de ferro, barcos e aviões, importa possuir um equipamento turístico próprio, de modo a poder entrar na luta económica que se trava entre os vários países e orientar a seu favor essa torrente turística, que é ao mesmo tempo torrente de divisas, com que esses países procuram, e alguns conseguem, tapar os saldos negativos das suas balanças de comércio.
Assim, do turismo receptivo ou passivo se terá de passar ao turismo activo, servido por meios próprios, para conduzir, através de todo o País, a grande massa de turistas que se desloca ao longo do Mundo, constituindo torrente contínua que importa aproveitar durante os doze meses do ano.
O turismo desempenha um papel altamente educativo, não só para os viajantes, do contacto com outras culturas, outras civilizações, outras paisagens, que provocam o seu enriquecimento espiritual e cultural, mas também para os povos recebedores, que beneficiam do fenómeno da reversibilidade dessa acção educativa.
Da compreensão deste valor educativo se apercebeu no passado ano escolar o S. N.º I. ao preconizar, junto do Ministério da Educação Nacional, o estabelecimento- do turismo como tema do centro de interesses das actividades escolares desse ano lectivo. No sector do ensino técnico foi realizado interessante trabalho, que creio não terá sido completamente aproveitado, pois que com uma exposição final dos trabalhos realizados se poderia lançar as bases do inventário turístico a realizar no nosso país, e com um pequeno prémio ter-se-ia estimulado n. realização de trabalho ainda mais profundo.
Porém, para além do valor educativo extraordinário, o turismo tem hoje um valor económico que não pode ser desprezado, sob pena de se perder uma das maiores riquezas, que representadas no valor de exportações invisíveis são elementos da maior influência na balança de comércio, valor que importa defender e acautelar.
Como factor económico-social, deve o turismo dispor de infra-estruturas adequadas à plena execução dos seus fins. Neste aspecto, como aliás em toda a movimentação turística do nosso país, tem desempenhado o S. N. I. um papel do maior relevo, não só orientando e estimulando iniciativas particulares, concedendo subsídios paru a construção de hotéis, pousadas, miradouros, piscinas, etc., como criando e promovendo de sua própria iniciativa actividades integradas no plano turístico nacional, caminhando, com segurança e decisão, a par da valorização e elevação geral do País nos restantes sectores da actividade nacional, que são consequência imediata da acção governativa praticada por uma situação política que há mais de três décadas Salazar, na sua extraordinária visão política, deu à Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todavia, parece-nos que a marcha no caminho do turismo, porque segura e cautelosa, terá sido um tanto lenta, o que de forma nenhuma se coaduna com a actual velocidade das relações turísticas, e de tal forma que nos ficam sérias dúvidas se a actual estrutura do S. N. I. poderá satisfazer o dinamismo decorrente das suas realizações.
O turismo é hoje também uma indústria, que tem por fim prestar aos que viajam um serviço, e prestá-lo nas melhores condições, e como tal exige meios financeiros, instrumentação própria, uma administração activa e uma coordenação perfeita entre os meios e os fins. Uma indústria que utiliza uma matéria-prima sui generis, constituída por uma série de factores naturais e humanos, que existem em abundância na Natureza ou a que o homem, com o poder criador que recebeu de Deus, deu forma e expressão.
Portugal, tem a seu favor uma matéria-prima riquíssima. O seu sol, o seu mar, o seu clima, a sua paisagem, a sua riqueza monumental e artística, são armas valiosíssimas para entrar na batalha, mas tem principalmente a tradicional fidalguia do povo português, que antes de ser hospedeiro é sempre hospitaleiro, e sempre pronto a obsequiar quantos, por necessidade ou por prazer, batem à sua porta e entram em sua casa, que é este velho burgo lusitano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas se lhe sobra matéria-prima, é evidente que lhe faltam alguns dos instrumentos principais, principalmente equipamento hoteleiro, falta que urge suprir, para que não entremos na batalha com qualquer flanco .desguarnecido por onde possa infiltrar-se o inimigo. Portugal é dos países da O. C. D. E., para citar só estes, que possui um equipamento hoteleiro mais pobre, e aqui haverá que fazer um esforço extraordinário para que este não falte por acondicionar todos quantos nos visitam, pois que qualquer deficiência neste domínio pode destruir todo o esforço nos restantes. Ainda aqui haverá que ter cuidado, não se vá construir hotéis de luxo ou de 1.a classe, mutilando logo de entrada as possibilidades de utilização pelo turismo de massa. Tomemos antes o exemplo da vizinha Espanha, que tem feito o seu turismo na base de hotéis de 2.a e de 3.a classes.
Quanto às matérias-primas, haverá que fazer um inventário cuidadoso, para que se não perca alguma, na necessidade de andar depressa.
Está projectado um inventário turístico do nosso país. na execução de uma das recomendações do I Colóquio Nacional de Turismo, realizado em 1961, inventário que se torna absolutamente indispensável para se poder fazer um aproveitamento integral das riquezas potenciais do nosso país neste domínio.