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12 DE MARÇO DE 1964 3593

Caso não seja possível angariar num. cruzeiro marítimo o número de turistas suficiente para, compensar o custo da viagem através de fretamentos, deve-se começar por incluir esses programas de turismo nas viagens das carreiras regulares. Aqui, como em todo o problema, a boa compreensão e o desejo de colaboração do armamento, das agências de viagem e das entidades financiadoras tornam-se imprescindíveis.
Já temos utilizado navios nacionais em cruzeiros turísticos. Temo-lo feito menos vezes do que seria de desejar, porque as actuais circunstâncias obrigam a utilizar grande parte deles, com absoluta- prioridade, em outros serviços de mais alto interesse nacional. Resta-nos a esperança de que, passada esta emergência, possamos de futuro utiliza-los com mais frequência nos referidos cruzeiros, em serviço contínuo ou nos intervalos das suas viagens regulares. Não nos faltam excelentes unidades mercantes, que podem ombrear com as estrangeiras nesse serviço.
A marinha mercante, que tão preciosa tem sido ao País, pode também neste sector prestar-lhe assinalados serviços. É preciso, porém, não esquecer que se trata de uma actividade privada e assim só é admissível exigir-lhe sacrifícios suportáveis, pois ela não conseguirá manter-se se a exploração dos seus navios for frequentemente deficitária. Deve-se-lhe dar por isso condições de vida, ...

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - ... sem as quais está condenada a definhar ou a estagnar e portanto a não acompanhar os progressos técnicos que se registam a cada hora na construção naval. Uma frota antiquada ou insuficiente não pode corresponder às múltiplas missões a que é chamada. O prestígio da bandeira, a afirmação de presença nos portos nacionais da metrópole e do ultramar e nos portos estrangeiros, a garantia de comunicações que o País requer, a independência perante o pavilhão estrangeiro, o instrumento de riqueza e de prosperidade que ela representa para a Nação, nunca devem ser esquecidos, se também neste domínio quisermos seguir uma política verdadeiramente nacional.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Hoje garantindo ligações regulares e frequentes entre as diversas parcelas do território e facilitando a circulação de pessoas e bens, amanhã utilizada em transportes militares exigidos pela defesa nacional, depois aproveitada em missões de paz, que proporcionem a portugueses e estrangeiros a possibilidade de fazerem digressões turísticas e educativas e de conhecerem os pontos mais afastados do nosso território & do estrangeiro, caminhando assim a par das outras marinhas e com elas competindo, a nossa marinha mercante encontra-se, como a sua valorosa companheira, a Marinha de Guerra, sempre ao serviço da Nação e para ela permanentemente mobilizada.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Bom é que todos o reconheçam e que não lhes regateiem os meios de que elas carecem para continuar ã bem servir e para servir cada vez melhor.
Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Moura Ramos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: são de saudação para o Sr. Deputado avisante, o Dr. Nunes Barata, as primeiras palavras que dirijo, por haver tomado a feliz iniciativa de trazer a debate nesta Assembleia um problema que «está na primeira linha das grandes preocupações dos Portugueses» - o do turismo.
A sua iniciativa bem merece o nosso reconhecimento, pelo que o deixo aqui consignado em termos da maior simpatia e admiração pelo seu incansável labor de estudioso que procura trabalhar em prol da valorização turística do País.
Bem haja, pois.
Está por de mais demonstrado qual o lugar privilegiado que o turismo, como indústria nova e fascinante, tem vindo a ocupar nas economias dos países que têm querido e sabido explorá-lo em termos convenientes.
Esse valor é, aliás, comprovado pela relevante posição que ocupa nas respectivas balanças de pagamento.
Mas se é verdade que uma indústria turística pressupõe a existência no País de condições naturais indispensáveis - e essas temo-las graças a Deus -, também não é menos certo que o turismo, como fenómeno específico da nossa época, não se compadece com organizações antiquadas nem com medidas improvisadas, antes requerendo técnicas baseadas em seguros e bem delineados planeamentos.
Assim as condições naturais deverão ser valorizadas pelo homem, que, por todos os meios ao seu alcance, deverá tornar agradável e aprazível a vida do turista e procurar prendê-lo, atraí-lo ao país visitado, e não levá-lo a arrepender-se de haver saído do seu.
E se assim não for, de nada valem propagandas por mais bem orientadas que sejam, belas paisagens e boa comida, pois que o veraneante dificilmente esquecerá as horas amargas e desagradáveis que lhe fizeram viver nas terras por onde passou.
Desde há muito tempo falamos em turismo; contudo, um falso e perigoso conceito parece ter-se enraizado na maioria das nossas populações - o de considerar o turismo como exploração descarada do turista, levando-o a pagar por cem o que, na realidade, só vale vinte.
Ora este conceito é falso, porque parte do pressuposto de que são milionários todos os turistas que nos visitam a daí o poderem ser explorados por todos, desde o hoteleiro ao engraxador. Ora o turista, se não é rico - e não o é muitas vezes -, conta com as despesas extraordinárias das férias e realizou poupanças durante o ano para fazer a sua digressão turística. Será preciso que o nosso hoteleiro se convença de que a sua indústria, desde que tenha possibilidades de abastecimento, produz maior rendimento com maior número de hóspedes a preço médio do que com meia dúzia deles a altos preços. O mesmo se pode dizer para os donos de cafés, de restaurantes, de casas de artigos regionais, de agências locais de viagens, etc.
Mas, além de falso, dissemos que o conceito é perigoso, porque se cria no turista um estado de espírito de desconfiança e até de incapacidade financeira que, em vez de o atrair, o faz afugentar para outros países, espalhando assim um ambiente que só nos desprestigiará e prejudicará grandemente.
É certo que nos últimos anos se têm verificado sensíveis progressos: aumento e melhoria das nossas infra-estruturas e a afluência simpática, e reconfortante de meio milhão de estrangeiros. Mas estas realidades devemo-las considerar apenas como ponto de partida para a batalha que se impõe travar em prol do desenvolvimento turístico do País.