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3758 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 149

o parque nacional de pinhal, com o acréscimo anual de 15 000 ha a 20 000 ha. E, pelo menos, esta a média dos últimos quinze anos. Daí nos vem um volume de material lenhoso da ordem dos 5 400 000 m3. Os consumos actuais - sobretudo fabrico de pasta celulósica e lenhas - são da ordem dos 3 800 000 m3.

O Sr. Reis Faria: - Eu não sei onde é que V. Ex.ª foi buscar esse número de 3 milhões e tal, mas no relatório do II Plano de Fomento já em 1958 se falava em 5 100 000 m3.

O Orador: - Estes números extraí-os de uma publiblicação da Secretaria de Estado da Agricultura, cujo nome não recordo, mas que com certeza V. Ex.ª conhece, pois eu recebi-a aqui.

O Sr. Reis Faria: - Estou convencido de que os números do relatório do II Plano de Fomento foram obtidos de uma base séria.

O Orador: - Não quero dizer que não. Mas os números que utilizo suo dados por uma entidade oficial, e nessa qualidade, como se diz nas leis, até prova em contrário demonstram o que se pretende.

O Sr. Reis Faria: - Em todo o caso, e como já aqui disse há dias, ao falar sobre o assunto, os 5 milhões de metros cúbicos serão consumidos.

O Orador: - Não creio. Para a indústria de pasta o consumo actual anda por 700 000 m3 e para lennha 1 milhão.

O Sr. Reis Faria: - Só para caixas vai 1 milhão de metros cúbicos.

O Orador: - Com certeza. Em esteios para minas, em caixas, em lenha e em. madeira aproveitada vão 3 800 000 m3...
Ficam assim desaproveitados 1 600 000 m3! Mas como a produção aumenta ano a ano, não só pela maior envergadura das árvores adultas, como pelo crescimento do novo pinhal, aquele desperdício continuará não só a verificar-se como também a aumentar cada vez mais. E isto sem prejuízo da reserva de segurança que se entenda deva constituir-se, pois jamais, para um consumo como o referido, se poderia consentir uma margem de segurança do volume semelhante a 1 600 000 m3. E esta inferência vem ainda a ser confirmada por esta verificação,: naquele consumo de 3 800 000 m3 cabem 1 600 000 rn3 a lenhas utilizadas como combustível, prática que está a ser abandonada com o recurso a combustíveis de maior poder calórico.
Conclusão de quanto venho expondo: desperdiçamos anualmente mais de 1 milhão de metros cúbicos de material lenhoso, de pinho que deveria sei1 adquirido aos proprietários de pinhal - e receberiam centenas de milhares de contos - que deveriam ser transformados em pasta celulósica e dariam trabalho a milhares de portugueses e dariam centenas de milhares de contos em divisas estrangeiras à Nação.
Pois este desperdício afecta, se não total e exclusivamente, pelo menos da maneira mais gravosa, a parte ocidental do meu distrito, onde uma tal riqueza se perde quase inteiramente!
Não é difícil calcular o extraordinário impulso que para a economia da região o para a melhoria do nível da vida da sua gente - tão sobrecarregada de sacrifícios e privações! - proviria do aproveitamento daquela abandonada fonte de riqueza, ao nível das centenas de milhares de contos por ano.
Pois é bem simples e bem fácil, Sr. Presidente: bastará apenas que sem demora seja instalada no vale do Tejo, na zona de Vila Velha de Ródão-Castelo Branco, uma fábrica de celulose a partir de pinho, nos precisos termos em que, aliás, foi já requerida ao Sr. Ministro da Economia.
Ao fazer esta solicitação sei bem que acarretarei sobre mim as iras e as especulações de poderosos interesses.
A vida económica portuguesa que vive enquadrada no condicionamento industrial, como esta do fabrico da celulose, tornou-se campo proibido à boa fé dos que não desistiram de lutar pela vitória dos princípios da justiça social, pelos princípios de uma sã, economia corporativa.
E já adivinho as iras e as especulações a que aludi.
Na minha curta vida de aprendiz de político - péssimo aprendiz - tenho sido vítima de umas e de outras, das mais torpes às mais idiotas. Agradeço a Deus o ter-me dado este feitio sem medo, que as olha com desprezo, para apenas manter-me fiel aos ditames da minha consciência.
Há-de o Sr. Presidente do Conselho desculpar-me a ousadia de invocar a sua lição, para mim das mais extraordinárias e impressionantes que até hoje pude escutar-lhe: eu também devo à Providência a graça de ser pobre. E para ganhar, na modéstia em que vivo com os meus, o pão de cada dia, não tenho de enredar-me na trama dos negócios que comprometem, nem preciso da solidariedade dos que julgam que tudo se vende porque tudo compram.
Sou um homem independente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E é por isso que o receio das iras e das especulações não consegue calar-me: a economia da minha província - e por ela a da Nação - carece desse empreendimento que será uma fábrica de celulose no vale do Tejo a aproveitar a enorme riqueza florestal que ano a ano se perde para a Beira Baixa, para a Nação e para uma população tão carecida de tudo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E contra esta realidade, que toca na vida da Nação, nada podem, no meu espírito, razões de um direito positivo que se faz e desfaz precisamente nos termos que aquela vida exigir, nada podem invocações de um obsoleto condicionamento industrial...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ...que com mais de 30 anos de vigor, foi totalmente incapaz de preparar a indústria nacional para competir, em condições de igualdade aproximada que fosse, com a de outros países que, devorados pela guerra, talvez precisamente por não terem condicionamento industrial, aí estão já à nossa frente, e em relação a alguns deles nem sequer poderemos invocar, como atenuante, a nossa maior carência de recursos naturais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sei que há investimentos na indústria de celulose que a economia nacional pede se acautelem. Eu sei. Mus também sei que estão acautelados no condicionalismo em que funcionam o que só será legítimo pedir até aí.