11 DE MARÇO DE 1961 4497
rasitárias enxertadas em locais onde existiam antigos pátios, os serviços para consulta externa das especialidades estão a ser instalados em edifícios próximos do hospital e que a Misericórdia se viu na necessidade de tomar de arrendamento para aquele fim, com todos o convenientes, de ordem funcional e financeira, que resultam da dispersão de serviços por vários edifícios existem serviços de fisioterapia e reabilitação, nem oftalmologia e pediatria, por não haver possibilidade de os instalar no imóvel existente São deficientes as instalações dos serviços de abastecimento e administrativos. Não há um pavilhão privativo para os portadores de doenças infecto-contagiosas, pelo que os doentes se encontram em enfermarias contíguas às de outros doentes. Não há serviços próprios de otorrino, de estomatologia e cardiologia Faltam instalações para um serviço permanente de urgência, pelo que existe apenas um serviço da urgência com médico por chamadas.
Ainda a par destas insuficiências e carências apontadas, lamenta-se não haver a possibilidade de pôr ali a accionar, anexamente, uma escola de enfermagem, cuja importância e necessidade na formação do pessoal tanto se impõe nos dias de hoje, quer no aspecto técnico, quer no deontológico.
Já alguém disse que os doentes eram como "convidados de honra" dos hospitais, pelo que, como tais, deviam ser considerados por todo o pessoal hospitalar. Mas se não quisermos ir tão longe, considerem-se, ao menos dentro da nossa concepção cristã de vida, como irmãos alie sofrem, a quem devemos tratar com a maior solitude, carinho e amor ou, numa palavra, com caridade.
E isto independentemente da sua condição social económica, pois todo aquele que dá entrada num hospital patenteia sempre sofrimento, que é acrescido, quando pobre, de lamentáveis condições materiais. Ainda há pouco, quando deu posse a novos administradores dos Hospitais Civis de Lisboa e provedor do Hospital de S. João do Porto, o Sr Ministro da Saúde condenou a ausência de caridade em favor de um profissionalismo estreme quando disse:
Desejo lembrar que os hospitais não podem mover-se exclusivamente em função da fria contabilização dos números, do desejo abstrato da investigação e do saber ou da satisfação dos interesses próprios. Isto, porque os hospitais têm por finalidade! primeira tratar doentes, que são homens dotados de uma dignidade que não podemos esquecer. Tudo efectivamente se faz porque o homem, imagem de Deus, o merece.
Assim mesmo Efectivamente, não bastam só boas instalações materiais, pois destas não se tirará o rendimento preciso se todo o pessoal hospitalar não souber ou não quiser aquecer na caridade os enfermos que lhe são confiados. Assim o quis significar D. Manuel de Aguiar quando na sua própria carruagem fez transportar os doentes para o hospital que havia mandado edificar.
E feito este parêntesis, vamos prosseguir dizendo que o Hospital de Leiria não tem, presentemente o edifício de que carece e que se possa harmonizar com uma eficiente e completa rede de serviços de combate à doença em geral, no seu tríplice aspecto de prevenção, tratamento e reabilitação, pois não pode tecnicamente ser lactado dos meios indispensáveis ao desempenho da sua alta missão no plano regional.
Caracterizado o hospital regional essencialmente "por nele deverem estar presentes, além dos serviços gerais de medicina e cirurgia, obstetrícia e infecto-contagiosos, próprios do esquema dos hospitais sub-regionais, todas as especialidades médicas e cirúrgicas classificadas como correntes", e conhecida a maneira deficiente e precária da instalação de alguns serviços e a ausência de outros tidos como essenciais, fácil se torna concluir que o Hospital de D Manuel de Aguiar, da cidade de Leiria, não tem condições para desempenhar, como convinha, as suas funções de assistência local e de apoio na região e ainda as de ligação entre os hospitais sub-regionais e os centrais e de chefia técnica da região.
Impõe-se, por isso mesmo, que em Leiria seja construída, dentro do mais breve espaço de tempo, uma unidade hospitalar digna das suas tradições, e que não só evite os inconvenientes já apontados, como seja também cabalmente apta a exercer a função fundamental e a todos os títulos nobre entre os mais importantes dos serviços de saúde.
A Santa Casa da Misericórdia, a quem o actual Hospital pertence, não possui meios financeiros que lhe permitam arcar com o encargo da construção dessa nova unidade, nem sequer dar a contrapartida necessária à comparticipação que o Estado viesse a conceder para a realização do melhoramento E nem admira que assim seja, pois se os recursos destas instituições se tornaram, em consequência das leis de desamortização e de várias outras causas, insuficientes para fazer face aos respectivos encargos, a situação agravou-se consideràvelmente com o encarecimento dos cuidados médicos, por virtude de novas terapêuticas e modernas técnicas.
E, por outro lado, conhecido o propósito do Governo da Nação de melhorar a vida das populações, criando condições de bem-estar social
Desde a Lei n º 2011, de 2 de Abril de 1946, em que, conforme se lê no parecer da Câmara Corporativa à proposta de lei então apresentada, pela primeira vez se lançaram "as bases de uma organização geral de assistência hospitalar do País, de forma a garantir com uma rede de centros sanitários o socorro médico e cirúrgico e o tratamento de urgência que os acidentes e a doença reclamam", ao Estatuto de Saúde e Assistência recentemente aprovado, toda uma série de diplomas refere o interesse do Governo em fazer uma conveniente cobertura sanitária do País.
A construção dos edifícios para a organização da rede hospitalar foi cometida à Comissão de Construções Hospitalares, que, não obstante a sua já comprovada capacidade e desejo de cumprir, não tem tido à sua disposição as verbas suficientes, sobretudo devido aos elevados encargos financeiros que teve de suportar com a construção e equipamento de duas grandes unidades centrais - o Hospital de Santa Mana, em Lisboa, e o de S João, no Porto.
O critério de dar prioridade à construção dos hospitais regionais sobre os sub-regionais, como se impunha, não vingou tanto como seria de desejar. Tem-se alegado razões de ordem financeira, pois a edificação e equipamento dos regionais é bem mais dispendiosa e as Misericórdias respectivas não estão, na sua totalidade, em condições de poder oferecer contrapartida às comparticipações do Estado.
Daqui resultou ter a Comissão de Construções Hospitalares volvido as suas atenções para os hospitais sub-regionais, mais modestamente equipados e, por isso mesmo, mais baratos, aproveitando todas as oportunidades de utilizar os recursos locais, não só em ajuda financeira, como também em assistência técnica.
Talvez por este motivo não dispõe ainda a capital do distrito de Leiria de um hospital devidamente apetrechado