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818 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 46

valores, presentes e incisivas, asseguraram que a ideia em potência fosse acto hoje felizmente cumprido.
Eis um documento, dos mais representativos, e fidedignos, e sólidos documentos deste período histórico, que, por graça infinita de Deus, foi de paz fecunda e foi de trabalho esforçado dos Portugueses. Ad rei memoriam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: No dia 6 de Agosto passado abriu ao trânsito, após cerimónia espectacular, a ponte sobre o Tejo, a ponte sobre aquele rio que tem não sei quantas pontes a atravessá-lo, da nascente à foz, mas a que faltava a que mais era desejada - a ponte que ligasse Lisboa à Outra Banda.
Cerimónia espectacular - disse -, pois decorreu em tão feliz aproveitamento do cenário natural que não só o espírito mas forçosamente os olhos nela se deleitaram. Mas tudo embora, foi no espírito que sobretudo sentimos a satisfação daquele dia memorável em que a ponte ficou, no sector das obras públicas, como imorredouro marco de uma política de construção e reconstrução que, aplicada nos últimos 40 anos, dê lês a lês do País, a ele dotou de tal conjunto de coisas novas que só obra como a ponte seria capaz de dar remate condigno, como a Igreja de Santa Engrácia é, no capítulo das conclusões, o morrer do símbolo político das coisas que ficam por acabar.
Ao dar-se à ponte o nome do Sr. Presidente do Conselho - o único que se lhe poderia dar, em inteira justiça - e ao inaugurá-la a coincidir com os 40 anos do regime político de que o Dr. Oliveira Salazar é o realizador, vinculou-se a ponte a uma política, embora nacional e unitária. Tal aconteceu com esse monumental documento que é o novo Código Civil, cuja linha doutrinária consagra a reacção contra o liberalismo individualista, a qual define o actual regime político.
Sr. Presidente: exultaram as gentes com a inauguração da Ponte de Salazar e porque, no dia seguinte, tivesse e venerando Chefe do Estado de deslocar-se a Setúbal, foi a gente deste distrito que, em nome de todas as demais, foi para a estrada tornar triunfal uma viagem de 30 km, encheu Setúbal ao longo das suas ruas, de nascente a poente, e disse ao Chefe do Estado o seu obrigado, o seu emocionado e orgulhoso obrigado. Quantos assistiram a essa manifestação sabem quão vibrante, quão sincera ela foi, pois como nenhuma outra a gente do distrito de Setúbal, em especial a da zona servida pela estrada nacional n.º 10, sentiu que a ponte lhe pertencia, não apenas por assentar um dos pés em terra sua, mas sobretudo per realizar enfim a esperança da travessia cómoda de um rio que nem sempre é amável para quem o procura diàriamente.
Sr. Presidente: A ponte, como eu a vejo, é uma vitória sobre nós próprios, sobre um povo que adora as improvisações, pois sabe que delas se sai sempre airosamente, embora com as dificuldades ,em que parece comprazer-se. É uma vitória sobre nós próprios, porque, realizada no presente, foi feita para servir no futuro. Quando o plano de rega do Alentejo for uma realidade, como o Algarve o é já hoje como potência turística, a ponte rodoviária será o grande caminho para a penetração num e noutro sentido. A ponte não foi, pois, construída para serviço da Outra Banda, nem que essa Outra Banda vá até Setúbal. Servi-la-á talvez quando se completar com ï exploração ferroviária. A ponte, como infra-estrutura que é, está ali à espera do desenvolvimento futuro próximo do Sul do País. Como não são de nosso jeito tais antecipações, há já quem murmure.
Sr. Presidente: Quem governa os povos, mesmo um simples regedor, sabe que ao lado das necessidades objectivas, que alguns procuram, existem, com a força colectiva do sentimento, as necessidades sentidas. Para os povos ribeirinhos de Lisboa, para aqueles que, com frequência, e tantos dia a dia, têm de atravessar o Tejo, a ponte sempre foi o grande desejo, a mais sentida das necessidades. E como não, se o corpo acaba por cansar-se de meses de nevoeiro, de anos de vendaval, da angústia dos abalroamentos, da dúvida das horas certas? A ponte era o grande desejo e foi, nas vésperas da inauguração, a grande esperança, tanta que a Câmara Municipal de Almada se bateu por uma ligação mais directa do centro da vila à entrada da ponte, quando já tinha o caminho amplo e fácil pela Cova da Piedade. Esperança acrescida com o desaparecimento dos ferry-boats para o Terreiro do Paço, os quais às horas de ponta levaram sempre, e quase só, mais gente do que carros. Desaparecimento desses autênticos barcos de passageiros sem que outro qualquer transporte fluvial os substituísse. Esperança acrescida ainda com a publicação de um discricionário decreto sobre mais-valias de terrenos antes e depois da ponte, dos terrenos compreendidos na área do Plano Director de Lisboa.
Vai por aí uma quase especulação sobre a utilização da ponte, com repercussões já na chamada grande imprensa. A construção da ponte foi, sem dúvida, a satisfação de uma necessidade objectiva, mas não podemos esquecer que ela foi sempre uma necessidade sentida pelos que demandam o Tejo com frequência. Procurar o equilíbrio entre os dois princípios é tarefa política, porque política - repito - é a arte de governar os povos.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão, na generalidade a proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1967.
Tem a palavra o Sr. Deputado António Santos da Cunha.

O Sr. António Santos da Cunha: - Sr. Presidente: Aqueles que como nós - eu e V. Ex.ª, a quem presto mais uma vez as minhas respeitosas homenagens - têm acompanhado passo a passo a vida do Regime e a ela sacrificaram o negrume dos seus cabelos podem e devem, legitimamente orgulhosos, ao comemorar-se o 40.º aniversário da revolução nacional, erguer altivamente a fronte e, olhando para trás, para o muito que de grande se tem feito neste país nas últimas quatro décadas, entoar um hino fervoroso de agradecimento e louvor a Deus.
Na verdade, não só renovámos - nós os do Regime - a face das cidades, vilas e aldeias deste país, num conjunto magnífico de obras, que vão desde a eliminação de fontes de chafurdo e da construção de pequenos caminhos de aldeia até às pontes da Arrábida e do Tejo, e das pontes da Arrábida e do Tejo às grandes obras portuárias e hidroeléctricas e à construção de bairros residenciais que são o orgulho dos grandes centros, como transformámos ; radicalmente o viver do nosso povo, dignificando-o e eno-