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17 DE DEZEMBRO DE 1966 943

Lisboa) nas casas de espectáculos quanto à frequência de menores cujas idades são inferiores à de classificação dos ditos espectáculos.
Em face do exposto se conclui que desta lamentável situação só resultam trabalhos, dificuldades e razões de queixa, quer para a Comissão, quer para os distribuidores, quer para os empresários, com sacrifício de alguns e prejuízo de outros, com desagradáveis consequências para a educação da juventude.
Ao dizer há pouco que o problema fundamental em causa era o da divergência de critérios não quero que se entenda que o problema do condicionalismo dos espectáculos não deva continuar a merecer a atenção do Governo, pois a qualidade da matéria-prima que pode ser importada para os nossos espectáculos tem piorado, do ponto de vista moral, de ano para ano. E se o Estado zela pela qualidade dos produtos que se vendem para a nossa alimentação física, não deve ser menos zeloso na exigência de qualidade dos que se vendem para a nossa alimentação espiritual.
As circunstâncias indicadas, que tornam difícil e muitas vezes inútil o trabalho de uma comissão que dentro do condicionalismo que lhe impõem cumpre honesta e eficientemente a sua missão, há que acrescentar o facto de se venderem livremente pequenos livros ou revistas que relatam com pormenor e com imagens os filmes cuja exibição é entre nós proibida, ou condicionada, e contudo é da inteira competência da Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores exigir a apresentação deste estilo de publicações para sua apreciação e parecer.
E por último, no que diz respeito aos factores que mais influenciam a juventude, uma palavra rápida acerca do mais moderno: o turismo.
A nossa secular e já histórica portanto hospitalidade, tão apreciada por todos nós quando nos deslocamos na nossa terra e por todos os que de outras terras nos visitam, começa a transformar-se perante o turista numa condenável subserviência, e dela resulta um clima de fácil aceitação para tudo o que o turista traz, quer ou impõe.
Uma velha e infeliz característica dos Portugueses: pensar e dizer que o que vem de fora é melhor do que aquilo que existe cá, embora, e com razão, esteja hoje menos acentuada, está ainda na base daquela inaceitável subserviência.
Confesso que me preocupa ouvir com certa frequência que para desenvolver o turismo em Portugal é preciso e necessário ter o espírito aberto à condescendência para com os costumes e hábitos que certos estrangeiros semi ou completamente selvagens exibem sem vergonha nas suas terras e desejam exibir também nas nossas.
E preocupa-me porque não vejo muitos lutarem contra esta ideia, que, para além do mais, considero, para o problema que estou tratando, um atentado contra a educação da nossa juventude e um atentado contra a Constituição Portuguesa, que, como já referi, impõe claramente que se evite a corrupção dos costumes.
Cada terra com seu uso, diz a sabedoria popular, e como mais uma vez esta tem razão, é bom que sejam os turistas a conhecer e adaptar-se aos usos da nossa terra, do que nós a copiar os deles, que são bem piores.
A fácil concessão gera a habituação e a habituação gera o mal irreparável.
Não está em causa o desejável e abençoado incremento do turismo em Portugal, mas a defesa contra os seus possíveis inconvenientes.
E como resposta aos assustados que pensam que os turistas fogem se não os deixarmos fazer tudo o que lhes dá na real gana, posso recordar que muitas vozes se levantaram em Espanha há anos contra o cancelamento do jogo, porque essa medida acabava irremediavelmente com o turismo. Está à vista a razão que lhes não assistia.
Conheço e tranquiliza-me a maneira de pensar do actual comissário de Turismo, mas o problema que apontei não depende apenas da sua orientação, mas fundamentalmente das autoridades locais, que devem estar de olhos bem abertos. E alguns sei que estão e não hesitam em fazer seguir pelos caminhos mais rápidos para a fronteira mais próxima todos1 aqueles que com a sua conduta e hábitos pecaminosos possam perverter a juventude local.
Para além das que resultam do que já foi dito, estarão certamente no pensamento de todos os educadores, no que respeita aos aspectos físico, cultural e social da formação da juventude, entre outras, as seguintes aspirações:

Generalizar a prática da educação física;
Fomentar o desporto e fazer dele uma escola de educação desde a aprendizagem à competição;
Preencher os tempos livres dos jovens não só com actividades físicas, mas também com actividades culturais devidamente orientadas e igualmente bem necessárias, nelas se incluindo a divulgação da educação musical, estética e outras de carácter artístico, bem como o conhecimento através de visitas de estudo do património artístico e cultural português;
Dar feição educativa às realizações de carácter social de tão vasta gama de aspectos, necessariamente a considerar nos jovens escolares e não escolares que habitam, ou que por largo tempo não habitam, com as suas famílias. E interessar os jovens nestas realizações;
Dar às residências de estudantes e às cantinas para jovens as condições básicas indispensáveis para que possam constituir sempre, para além da sua função social, locais de convívio para a juventude, saudáveis em todos os seus aspectos;
Estimular nos jovens o gosto pela vida ao ar livre, no campo e no mar;
Encaminhar a formação das raparigas no gosto do lar e no respeito pela nobre missão de mãe.

Algo de muito importante se tem feito já no sentido de dar satisfação a estas aspirações, devendo salientar-se a excelente contribuição dada pelas organizações nacionais Mocidade Portuguesa e Mocidade Portuguesa Feminina, que melhor e mais ampla não foi por não haver clara visão das suas qualidades.
Não seria efectivamente aceitável falar sobre a educação dos nossos jovens sem referir as nossas duas organizações nacionais de juventude, o que por elas tem sido feito e o que delas deve esperar-se em favor dos rapazes e raparigas de Portugal.
Quanto à Mocidade Portuguesa Feminina não me proponho analisar os seus problemas e dificuldades, que outros farão com melhor conhecimento de causa, nem os resultados obtidos da sua acção, mas pelo pouco que sei e vi estou seguro de poder afirmar que tem levado a cabo, quer nos centros, quer nos lares e casas de acolhimento, obra notável na formação das raparigas, não obstante as permanentes e naturais dificuldades com a constituição e manutenção dos seus quadros de dirigentes, onde aliás tem registado as maiores dedicações em qualquer época e qualquer lugar.
Bem merece a Mocidade Portuguesa Feminina o mais amplo apoio para poder continuar a alargar a sua actividade e a cuidar quanto possível da preparação das raparigas, tendo sempre em vista que são futuras mães portuguesas.