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17 DE DEZEMBRO DE 1966 939

Parece, pois, que só a mudança de nome trouxe estabilidade de governo ao pelouro da instrução.
Há, pois, algumas razões, não obstante as vultosas verbas que se mencionam no Orçamento Geral do Estado (vultosas, mas insuficientes) e esforçado labor de alguns governantes de larga competência, para a escola se encontrar ainda hoje na situação em que tudo é deficitário em relação ao número de alunos que a frequenta.
E enquanto não forem criadas ao professorado as condições que tornem dignificante e estimulante esta nobre profissão, enquanto não forem criadas aos professores condições para que sejam só professores, a escola continuará a não ter as condições indispensáveis para poder leccionar, com o rendimento e aproveitamento que deve exigir-se, o número sempre crescente dos que desejam ter acesso à cultura, como continuará a não ter, pela impossibilidade de selecção e de rápida mentalização e promoção do professor, as condições mínimas necessárias ao exercício da sua função educadora.
O Sr. Prof. Costa Pimpão disse recentemente:

Não é sem apreensão que podemos abeirar-nos do assunto em face do crescimento explosivo que estamos verificando nos diversos sectores do ensino e da impreparação da escola portuguesa para dominar o fenómeno por outros meios que não sejam da solução ad hoc de emergência ou improvisada. Para acudir ao impetuoso arranco para a cultura que se está verificando em Portugal, houve que procurar por toda a parte quem se prestasse a um arremedo de ensino, isto em todos os graus, mesmo no ensino superior, embora neste, por enquanto, com menor gravidade. Há uma ciência da educação; e quem a não possuir não pode ser professai. Por este motivo, os agentes de ensino são cada vez em maior número; em contrapartida, há cada vez menos professores.

A instrução, parcela da educação, é um dos tais campos anexos e afins, nos quais desejo vencer a tentação de cair nas minhas reflexões, pois é sector suficientemente vasto para ter lugar à parte nos estudos desta Assembleia.
Aliás, e na presente sessão, vão ser apresentados especificamente os problemas do ensino liceal, e espero que noutras oportunidades se analisem os dos outros ramos de ensino.
Só aludo à função instrutiva da escola porque, como já afirmei na parte inicial do meu trabalho, ela é indispensável à função educadora.
E parece-me a este propósito extremamente importante sublinhar que concorrem para um erro de incalculáveis consequências todos aqueles que não querem entender que a escola não é apenas um lugar de instrução, mas, acima de tudo, um lugar de educação.
"Sagrada oficina das almas" foi a feliz expressão utilizada por Salazar, em 1934, para se referir à escola.
E este voto então formulado, e certamente por todos nós perfilhado, tem ainda, decorridos mais de 30 anos, que continuar a ser um voto, e não, como seria para desejar, uma definição.
E por quanto tempo mais terá de continuar a ser um voto?
Eu não sei responder a esta pergunta, mas sei que está um pouco nas mãos de cada um de nós abreviar aquele tempo.
Vimos, quanto à família e quanto à escola, a preponderante importância da preparação dos pais e dos professores para o exercício do seu múnus educacional.
Reconheço que não é tarefa fácil tal preparação, e, como vos disse em Março último, o problema da educação ou reeducação dos adultos não cabe no âmbito deste aviso prévio. Mas, repito, se ao mesmo não é dada a atenção que se impõe, compromete-se gravemente a educação da juventude.
Não podemos esperar tranquila e confiadamente que cheguem a pais os filhos que agora pretendemos formar, pois até lá muitos jovens se perderão pelo caminho se ao menos não for, quanto possível, neutralizada a acção nefasta sobre a juventude, dos adultos que não escasseiam, cuja formação é bem diferente daquela que ambicionamos para os nossos filhos e que, mercê das suas posições, obtidas sabe Deus como e por culpa de quem, os enquadram e orientam na actualidade, quer queiramos, quer não.
A ligação entre a família e a escola, necessária às duas instituições, tem, como pode facilmente deduzir-se da circunstância de ambas concorrerem para a educação dos mesmos jovens, uma muito particular importância.
Nalguns casos, mas não frequentes, tem sido possível obter um entendimento mútuo entre as duas, e com bons resultados colhidos.
Pena é que esta aliança não exista sempre, pois nem os pais podem dispensar-se de conhecer e acompanhar a conduta dos filhos na escola, nem os educadores escolares podem dispensar-se de conhecer, através dos pais, as características, as tendências ou dificuldades pessoais dos seus alunos.
Impondo-se, portanto, uma consciencialização, de parte a parte, das vantagens dos assíduos contactos entre a família e a escola, tem de reconhecer-se, porém, que depende fundamentalmente desta a possibilidade destes contactos.
Alguns factos facilmente observáveis levam-nos, contudo, a pensar que não sou muito acompanhado nesta minha convicção, pois, embora por vezes a escola nos faça crer por palavras e escritos que assim pensa, na prática revela, antes, que constitui uma perturbação não desejável para o seu funcionamento o contacto pessoal com os encarregados de educação dos seus alunos, e, em vez de os facilitar, dificulta-os.
Estou certo de que cada um dos presentes poderia, com um ou dois casos em que tivessem tido directa intervenção, confirmar facilmente a minha suposição.
É claro que há sempre honrosas excepções, e até já atrás referi, por exemplo, os casos de associações de pais de alunos criadas por iniciativa da escola. Mas ... são excepções.
Como exemplo, curioso da indiferença dá escola pela família pode mencionar-se a inexplicável divergência que todos os anos se verifica entre as datas do início e do termo das férias do Natal e da Páscoa nos vários graus de ensino e nos vários estabelecimentos.
Se há razões que tornem necessário este desfasamento que tanta perturbação causa nas famílias e maior nas que são numerosas, a indiferença permanece, pois suponho que nós, pais, nos podemos considerar credores de uma justificação que nunca nos foi dada.
As considerações feitas aplicam-se à família e à escola em geral, mas deve acentuar-se que qualquer das instituições apresenta múltiplos aspectos.
Há famílias nas cidades, nas vilas, nas aldeias, nos lugares e nos bairros de lata.
Há famílias ricas, pobres ou, como às vezes se diz, remediadas, sem se saber bem com que remédios. Há famílias com poucos filhos ou de prole numerosa, numa escala que vai de um a vinte ou talvez mais. Há famílias cristãs, ateias ou apenas ignorantes e indiferentes em matéria de religião. E outras variantes mais podiam ser indicadas.