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1074 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 59

Mas tudo o que é desejável no Portugal de aquém o e igualmente para além das fronteiras do mar, pois o corpo, sendo uno as funções deverão ser solidárias. De outro modo caminharemos para a decadência da alma portuguesa estiolada pela crise de uma educação ultrapassada, e as nossas instituições, famílias e vida social poderão soçobrar numa letargia mortífera.
Na imensa solidão do homem, a educação é o magnifico caminho que o ajuda a encontrar-se a si próprio e a preparar-se a enriquecer o espírito e servir em amor fraterno o bem comum e humano para caminhar para Deus, seu fim último e feliz acabamento.

Vozes: -Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado

O Sr. Sousa Magalhães: - Sr. Presidente: Permita-me V: EX.ª que as minhas primeiras palavras sejam dirigidas ao ilustre Deputado Sr. Braamcamp Sobral para o felicitar por ter trazido a esta Assembleia, com o seu aviso prévio sobre a problemática da educação da juventude, a oportunidade de ser largamente debatido tão importante como momentoso assunto. Depois da sua tão brilhante exposição e das oportunas intervenções dos Srs. Deputados que me antecederam nesta tribuna pouco ou nada resta acrescentar alguns aspectos que se me afiguram importantes dentro do papel que os pais e educadores têm a desempenhar na formação da nossa juventude.
O tema em discussão é tão importante e actual que, nos últimos anos e em quase todos os países, a política seguida neste campo, assumiu aspectos que ainda há poucas décadas não eram encarados. No momento presente, a nova política da educação da juventude visa à preparação das crianças para a vida, à sua integração no mundo dos adultos e ao combate das diferentes causas de desadaptação física e social.
E a principal causa dessa desadaptação resulta do facto de atravessarmos uma época de mudança de civilização - e mudança muito rápida. As condições materiais e morais de vida a que se habituaram as gerações mais amadurecidas já não são as que defrontam os jovens de hoje. Pais e educadores sentem alguma incerteza no que devem propor ou inspirar como ideais de vida. Em sociedades mais simples e estáveis do passado, a transição de uma geração para outra fazia-se sem grandes sobressaltos, por se manterem os usos e costumes, e com eles certos valores sociais e morais, básicos na inspiração da conduta. Hoje a situação é diversa Antigos padrões culturais estão a ser revistos ou postos em duvida, sem que outros se tenham estabelecido para os substituir, servindo assim, a um desejável equilíbrio nas relações humanas.
Não é impossível, e é mesmo provável, que um dia, talvez não muito mais longínquo, novas estruturas morais, mais livres, mais pessoais, se hão-de propor através dos indivíduos aos próprios grupos sociais. Mas por agora a confusão é inegável. As noções morais, ainda eficazes naqueles que as receberam de uma firme educação ou as adoptaram por escolha da razão e do coração, mostram muita fragilidade nos que, cada vez mais numerosos, não as puderam beber numa ou noutra daquelas fontes, nem puderam reuni-las numa síntese livremente aceite.
A revolução dos costumes provocada em meados do século passado pelo início da industrialização é cem vezes menos importante do que a que resulta das múltiplas descobertas científicas que hoje se processam a uma cadência sem precedentes.
A electrónica, a automatização, o emprego da energia atómica e a conquista do espaço alterarão radicalmente a nossa maneira de viver. O trabalho de amanhã exigirá uma preparação diferente do de hoje e haverá menos tempo ocupado. Será preciso saber utilizar novas distracções, e tudo permite recear que tal como no caso do automóvel e do cinema, elas se proporcionem num ritmo perigoso para a higiene mental dos indivíduos.
O equilíbrio humano arrisca-se a ficar cada vez mais comprometido. A continuarmos pelo caminho que pisamos pode prever-se que a ausência de ar puro, a concentração urbana, a alimentação desvitalizada, os alojamentos demasiado pequenos, o ruído, produzirão seres agitados, insones, irritados, incapazes de apreciar a calma e a paz interior.
Mais tarde, sem duvida, uma "cidade de ouro" poderá nascer da ciência e da técnica. Novas formas de vida podem substituir-se a esta desordem. Mas enquanto esperamos é preciso atravessar uma fase difícil da evolução da história.
A característica dominante da nossa época é a insegurança. O medo da desvalorização da moeda desencoraja a economia e faz temer os dias da velhice. Medo de ver desencadear-se um novo conflito mundial e, neste caso, a que terríveis catástrofes estaríamos sujeitos!
Medo das radiações atómicas provocadas pelas experiências nucleares.
Medo dos desastres de automóveis. Medo da depressão nervosa. Esta insegurança cria em cada um de nós uma angústia mais ou menos viva, mais ou menos consciente, conforme o temperamento de cada um.
E esta ansiedade traduz-se na agressividade e no egoísmo e é este o drama de tantos lares e de tantos indivíduos.
A dissociação familiar caminha, assim, a par da civilização científica com o trabalho dos dois esposos e a dispersão das distracções. Arrasta a um deixa correr e a negligências terríveis na educação das crianças e é estamos convencidos uma das causas essenciais, talvez mesmo a causa principal, da conduta anti-social de um número cada vez maior de jovens.
Isto explica por que as crianças e adolescentes dos meios mais dotados de bem estar estão hoje em tanto ou mais perigo do que os rapazes e as raparigas dos bairros pobres.
É evidente que seria tolice pretender que a miséria e a fome não são em si factores favoráveis ao mau comportamento dos jovens sujeitos a um ambiente que os instigue à passagem ao acto anti-social. Mas os motivos profundos da delinquência têm, em geral outras causas que não a fome, a falta de alojamento ou de cuidados físicos. O que constatamos é que uma parte cada vez maior da nova geração se assemelha, terrivelmente a uma certa juventude americana. Os teddy-boys britânicos, os halbstarhs alemães os ilfelloni italianos nada têm que invejar dos adolescentes de Nova Iorque ou Chicago lançados por mau caminho.
Em França a delinquência juvenil desenvolveu-se de maneira inquietante. De 10 978 "problemas com jovens de menos de vinte anos" em 1954 passou-se progressivamente a mais de 42 000 em 1965.
Nos Estados Unidos presentemente segundo um inquérito recentemente feito por uma grande revista francesa a numerosas famílias norte-americanas o maior problema é a delinquência quase dobrou, e actualmente mais de 500 000 jovens comparecem por ano, perante os tribunais de menores.
Até mesmo a imprensa soviética se queixa do mau comportamento dos filhos de alguns altos funcionários do regime!