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20 DE JANEIRO DE 1967 1071

o curso de Didáctica Na Faculdade de Educação da Universidade de S. Paulo demora quatro anos.
Mas para ser examinador nem sequer é preciso esse discreto curso.
Levianamente se julga, por vezes, do valor e do trabalho dos jovens, do interesse das famílias, tantas vezes economicamente exauridas, e sobretudo dos superiores interesses da Pátria, urgentemente carecida de técnicos e do fecundos valores humanos. E o sério problema dos exames, agravado pela falta de contacto entre o professor e o aluno, tornado anónimo em turmas superlotadas e cujo destino e suas repercussões no progresso social pode depender de variadas contingências.
Algumas breves referências estatísticas permitirão abalizar a extensão do problema.
Assim, no ensino primário existiam 2300 vagas em 1965, e, como o êxodo continua e a recuperação se não anuncia, a situação mantém-se candente e sem solução.
Nos 26 anos que vão de 1936 a 1962, a população geral das nossas escolas passou para o dobro. Em 1952, ultrapassava já 1 milhão, para atingir, em 1962, l 263 487 alunos. Mantendo-se este ritmo dos últimos anos, é de presumir que a população escolar aumentará ainda 50 por cento no período até 1969-1970, anos em que a guerra que nos foi imposta e a competição no plano internacional vão tornar mais exigentes e difíceis.
Tomando como base a frequência dos liceus em 1964, seriam precisos 180 novos professores, e, entretanto, dos três liceus normais saem 45, ou seja a quarta parte dos necessários.
Entretanto, só o Porto e Lisboa, por exemplo, precisariam, como um mínimo certamente já ultrapassado, de mais treze liceus, dos quais nove em Lisboa e quatro no Porto.
Por outro lado, o rendimento é baixo, e, assim, no ensino profissional o aproveitamento foi de 15,5 por cento saindo poucos dos muitos técnicos de que o País urgentemente precisa.
Se consultarmos os dados do Instituto Nacional de Estatística, encontraremos outros sinais pouco animadores. Assim, em 1960-1961 existiam, em números totais do ensino oficial, 8151 homens e 24 592 mulheres.
E no pessoal docente com monos de 30 anos e, portanto, com carreira mais longa, somente 1870 professores e 11 094 professoras, o que significa um afastamento da juventude da carreira docente, que cada vez menos interessa aos homens novos, que procuram carreiras mais aliciantes.
A fé de todos nós nos tesouros de fecundidade oculta do povo português e no destino indestrutível da Pátria é inabalável. Mas essa visão optimista deverá servir somente para agudizar o nosso sentido de responsabilidades perante as exigências de uma história magnífica que a Providência rasgou para ser dignamente vivida por nós e pelos nossos filhos, mas que certamente não perdoam distracções que mutilam.
A vaga do entusiasmo pela cultura sobe continuadamente como feliz sinal de energia colectiva pois, de outro modo, o nosso destino comunitário correria sério risco do delinquência num mundo ávido e sempre em acelerado progresso. Mas, é urgente criar condições de correspondência a essa sede de progresso para evitar o perigo de frustração das camadas juvenis e a reacção pelo desinteresse e fuga (emigração) ou de revolta e oposição a uma sociedade que não soube acolher seus justos e nobres anseios. Os que não têm recursos não podem estudar e grande número de jovens permanecem perigosamente desaproveitados.
Apenas 10 por cento da população portuguesa têm facilidade de elevar os filhos ao nível universitário, 30 por cento ainda podem consegui-lo com grandes dificuldades e os restantes 60 por cento não dispõem de ajudas que estimulem o aproveitamento de valores sociais e humanos de virtualidades imprevisíveis e sempre valiosas.
O Prof Leite Pinto, quando Ministro citando números, afirmou «que as 18 escolas de magistério primário diplomam por ano 1400 novos professores. Como todos os anos são abatidos ao efectivo 800, só temos 600, quando as necessidades do acréscimo da população exigem 1000 lugares de professor».
Referindo-se ao ensino secundário, o mesmo professor afirmou que, em 1950, «havia 856 professores com Exame de Estado e 54 eventuais. Hoje (1937) são 779 os professores pedagogicamente preparados e 425 os que só possuem formação académica (apenas com a licenciatura e alguns até sem ela). Em sete anos a percentagem dos eventuais passou de 5 para 35 por cento», concluiu.
Ora o problema longe de melhorar tem-se agravado progressivamente mercê da divergência cada vez mais acentuada entre as disponibilidades de exauridos quadros e o progressivo desejo de cultura das novas gerações.
Não nos deteremos em mais pormenores estatísticos, detalhadamente expressos no Boletim do Instituto Nacional de Estatística, por todos convergirem para a mesma alarmante conclusão.
Ainda num inquérito realizado pela Juventude Operária Católica, em 1956, entre 2500 jovens operários, 81 por cento não continuaram os estudos por falta de recursos e por necessidade de auxiliar a família.
A técnica deu ao homem a solução de muitos dos seus problemas, uma economia mais rica, uma possibilidade de vida mais digna. Mas todo o trabalho está condicionado por um saber. Para progredir é preciso planear e executar, e para tal são preciosos técnicos, médicos, engenheiros, operários, professores, e a formação destes exige escolas em número e qualidade suficientes.
De outro modo, o progresso, que é vital no plano internacional da concorrência - e ainda há poucos dias o Sr. Ministro da Economia dirigiu um apelo às actividades privadas, comerciais e industriais, para que se organizem com a urgência possível, por motivo da entrada no Mercado Comum -, tornar-se-ia impraticável ao nível dos escalões que assegurem continuidade e progresso por insuperável carência de elementos técnicos de trabalho.
E para ela caminhamos se os números continuarem a revelar os divergentes parâmetros das necessidades que sobem e os meios pedagógicos em exaustão progressiva, bloqueados pela carência de professores em incessante emigração.
E o Prof Leite Pinto afirmou também

A escola continua a não poder esperar, pois é a oficina onde se forjam as almas daqueles que devem manejar as armas e também as alfaias e ferramentas

Assim somos levados a concluir que devem ter prioridade os investimentos na educação nacional para o desenvolvimento económico e social do País, sem prejuízo da defesa nacional e dos investimentos com a assistência, mas como resultado de uma melhor mobilização da capitalização estéril e não interessada na promoção do bem comum.
Numa orientação sempre construtiva e valorativa, sublinhamos que um imenso esforço se tem realizado já na construção de edifícios escolares