20 DE JANEIRO DE 1967 1067
Tais estabelecimentos, além de um real valor científico, necessitariam, para o bom resultado do seu funcionamento, de possuir o calor humano, capaz de suscitar uma abertura psicafectiva, e assim fomentar uma maior receptividade naqueles que o frequentam.
Aí, a par da educação sanitária e das medidas de prevenção, ser-lhes-iam facilitados, exames periódicos, os quais permitiriam fixar, sem perda de tempo, diagnósticos e tratamentos, evitando desta forma complicações susceptíveis de ocasionar longas incapacidades, altamente prejudiciais para os trabalhos escolares.
Aí ser-lhes-ia facultada a luta contra as doenças venéreo-sitilíticas, no triplo aspecto da despistagem, vigilância e tratamento. Verificando-se actualmente um recrudescimento destas doenças, urge fomentar uma educação bem conduzida, de modo a criar no espírito do adolescente um receio proporcional ao perigo que o ameaça e a destruir-lhe o optimismo e a segurança que o cocktail antibiótico-sulfamídico lhe ocasiona,
Aí caberia ainda a missão importantíssima da protecção e defesa da saúde mental, cuja incidência é cada vez mais preocupante pela velocidade acelerada que manifesta.
Demonstram as estatísticas um nítido predomínio das alterações psíquicas, funcionais ou psicossomáticas isto é, das nevioses, sobre as afecções orgânicas propriamente ditas.
Pelo surto de tais perturbações são responsáveis as exigências sociais da vida moderna, que, cada vez mais complexa, traumatiza continuamente o indivíduo, provocando-lhe uma incapacidade de reacção.
A mobilidade trepidante dos nossos dias obrigando o homem a uma defesa constante contra o ruído, a agitação, o automatismo e a falta de repouso, dificulta-lhe a possibilidade de adaptação.
Aí actuariam em larga escala os serviços de estomatologia, em regra tão necessários nesta idade, e que são muitas veres protelados pela perda de tempo que o seu tratamento ocasiona, nos consultórios particulares Esta doença, que apresenta características de flagelo social reclama um esforço importante de educação sanitária que esclareça os interessados dos perigos que ameaçam os seus dentes e os aconselhe a exames sistemáticos, forma única de uma despistagem precoce e actuante.
Tal despistagem exige, além do exame clínico-estomatológico, a contribuição do exame radiológico, já que, aqui, como em muitos outros casos, a dor é sintoma tardio,
Aí funcionai iam também serviços de contrôle médico das actividades desportivas, cujo valor é desnecessário encarecei, já que, actualmente o desporto se transformou numa necessidade vital. Sendo ao mesmo tempo modo de acção e modo de expressão o desporto apresenta várias facetas que carecem do interesse do pedagogo do sociólogo e principalmente, do médico higienista. Na realidade, por qualquer ângulo que se apreciem as actividades desportivas, porque constituem um aumento da actividade física normal obrigam a um contrôle médico cuidado, no sentido de verificar a existência de quaisquer contra-incapacidades temporárias ou definitivas.
Convém ainda acentuai a sensibilidade de que se revestem estas apreciações, uma voz que uma incapacidade para determinado desporto pode não impedir a prática de outros de menor desgaste físico e compatíveis com a resistência orgânica do desportista.
E evidente que a ministração da educação sanitária a que nos temos referido não é específica da juventude académica, mas, diz respeito a todos os indivíduos da
mesma idade, quaisquer que sejam o seu nível social e o sector profissional a que pertençam.
Simplesmente quando se trata da juventude operária, além destes preceitos de prevenção e higiene, há que tocar, mais acentuadamente ainda, quer a salubridade do ambiente e a segurança no trabalho, quer as múltiplas doenças profissionais, entre as quais sobressai, pela sua agudeza a fadiga mental - mais insidiosa e de cuia mais difícil que a inuscular -, podendo evoluir desde a simples astenia física até ás neuroses graves, com perturbações do sono e da memória e alterações psicafectivas, as quais, com as suas consequências viscerais,
conduzem a afecções psicossomáticas.
Cabe às empresas e aos respectivos médicos a tarefa do elaborar uma medicina preventiva e uma medicina da saúde, onde a educação sanitária individual e colectiva atinja a sua verdadeira essência, num contexto social e profissional de actividade e responsabilidade.
Para confirmar o alto significado e o ratei esse nacional de que se reveste a educação sanitária, quando alcança aquele grau de plena realização e actualização a que tem jus, não resistimos à tentação de referir algumas cifras obtidas nos serviços de vacinação contra a poliomielite. Tais resultados que se obtiverem mercê de uma conveniente preparação psicológica da população através de uma judiciosa propaganda levada a cabo pelos serviços centrais e periféricos da Direcção-Geral de Saúde com a colaboração dos párocos, professores, imprensa, Radio-televisão Portuguesa e Emissora Nacional, claramente traduzem a eficiência da cobertura profiláctica que foi possível atingir contra tão indesejável doença, determinante de diminuições físicas deformantes.
A média do número de casos de poliomielite notificados no quinquénio de 1961 a 1965 foi de 273,8 casos anuais, e o número de casos notificados em 1966 foi de 13, isto é, 14 meses após o início da vacinação, verifica-se uma redução de 94,4 por cento, ou sejam menos 260,8 casos por ano.
A falta de concordância existente entre os que citamos e os apresentados por sr. Ex.ª o Ministro da Saúde e Assistência na sua entrevista provém do facto de as cifras que apontamos já terem sofrido a rectificação efectuada no fim do ano de 1966.
Em face de tais dados, avalie-se o quantitativo de lágrimas e sofrimento que se evitaram e o potencial humano que, roubado a uma incapacidade permanente parcial ou total, se ofereceu à Nação válido e apto a contribuir para o seu engrandecimento moral e material. Avalie-se também o benefício económico obtido com tal medida apiedando, comparativamente, o custo do tratamento e recuperação exigido pelo total de casos anuais com a despesa feita com o plano nacional de vacinação durante igual período de tempo e determinar-se-á o saldo positivo alcançado que e verifica superior a 1 milhar de contos, constituindo, assim, comparticipação importante dos serviços de saúde em prol do Estado. Isto mesmo sem entrarmos em linha de conta com a despesa ulterior, exigida pela diminuição física das crianças atingidas.
Efectivamente, processou-se esta campanha como uma das mais necessárias e oportunas medidas de S. Ex.ª o Ministro da Saúde e Assistência, que, com superior visão e esclarecida inteligência, vem criando as infra-estruturas indispensáveis pana elevar o País a um nível médico-sanitário igual ao daqueles outros que, nesse sector, marcham na vanguarda.
Para a concretização desta tão elevada aspiração muito deverá concorrer a anunciada reforma dos serviços de saúde o assistência pelo que se torna urgente a sua pro